A história de Portugal é imensa e rica. No entanto se alguma coisa se manteve foram as fronteiras terrestres - quase iguais há 800 anos e as mais antigas da Europa – e a aliança mais antiga do mundo, com Inglaterra. Isso trouxe-nos dissabores por duas vezes. A mais aborrecida foi o ultimato do mapa cor-de-rosa, que poderia ter mudado o rumo da História, mas a mais importante foi sem dúvida a do Bloqueio Continental.
Napoleão conquistou o coração da França e os territórios da Europa. Como mandava a tradição secular dos dois países, apenas as ilhas do Reino Unido lhe escapavam e, numa tentativa de os enfraquecer, ordenou um embargo comercial de todo o continente. A Europa acatou essa jogada militar. Toda a Europa? Não. Um pequeno país recusou-se a trair o seu maior aliado e teve a coragem de o dizer a plenos pulmões. Napoleão e Espanha decidiram conquistar aquele pequeno terreno e por três vezes o tentaram, sendo sempre corridos. O nosso rei pode ter tido pouca confiança e zarpou para além-mar, mas o povo desgovernado fez não o que lhe mandavam - as ordens eram vagas - mas o que sabia ser correcto. Se não conseguiam defender o país, morreriam por ele.
Cada invasão teve a sua história. Na primeira as ordens que ficaram no ar eram para não resistir. Foi o que fizemos até chegarem os ingleses para defender os seus interesses e os franceses de Soult fugiram de Lisboa com o saque que conseguiram. Na segunda invasão o alvo foi o Norte, mas nem tiveram tempo de se acomodar, pois logo foram corridos. A terceira era a decisiva. O exército francês com a sua estratégia de terra queimada suplantava o português em homens, em energia e em alimentos, mas nunca em astúcia. Wellington utilizou a geografia a seu favor, causando numerosas baixas no inimigo em solo desnivelado. Os franceses acreditavam que com os reforços conseguiriam romper a resistência. O que não sabiam é que Wellington tinha outra carta na manga. Tinha construído em total segredo um sistema de fortificações para proteger a península de Lisboa. O inimigo nem suspeitava, mas quando chegou o momento de marchar para Lisboa, tinham perante eles as Linhas de Torres Vedras - talvez o maior segredo militar da Europa - a nossa própria Grande Muralha, construída do nada e intransponível. Não só as torres tinham sido erguidas pelos nossos homens que deram o seu melhor, como eram defendidas pelos nossos soldados que iriam dar o seu melhor. Nenhum português queria ser responsável pela queda do Império.
Este filme narra o que se passou em Portugal entre a batalha do Buçaco e a defesa de Torres Vedras. Soldados, meretrizes, freiras e civis, em batalha, em fuga ou escondidos, todos tiveram o seu papel numa guerra interminável. Ao longo de duas horas e meia – não parece tão longo como soa – fazem os possíveis para sobreviver por entre a morte. Uns A visão de Ruiz transposta a filme pela sua viúva não tem magia nem é tão brutal como se esperaria de um filme de guerra, mas não é mau. O filme tenta abarcar um pouco de tudo e não consegue ser completo como se desejaria. Não substitui os livros de História, apenas motiva para os irem procurar. A prioridade foi ir além do conflito que pode ser lido nos livros e mostrar as pessoas. Pessoas, especialmente mulheres, e a batalha que travaram como guerreiras deste Portugal, como líderes de famílias que a guerra reduziu, como vítimas da luxúria dos estrangeiros.
Os planos de câmara são fora do comum (nem bons, nem maus), tem algumas cenas inúteis como o desfile de vedetas francesas numa refeição sem sentido, e Wellington não é tão imponente como se gostaria de imaginar, no entanto em todo o filme a única falha a apontar é a direcção de figurantes. Sejam os soldados em festa que não se sabem divertir e têm uma ridícula forma de dançar, ou os trabalhadores que se mexem lentamente em vez de parecerem cansados, o filme falha muito nesse ponto. Do lado positivo há uma excelente circulação entre personagens, os desempenhos dos actores são aceitáveis, e os vários idiomas falados (português, castelhano, francês, inglês e um pouco de polaco) alternam-se como seria de esperar numa situação real.
Como filmes temático para as escolas tem demasiada nudez e sexo - já nem falo da violência que o próprio Wellington a determinada altura diz ser excessiva - mas mesmo assim pode bem chegar aos 100000 espectadores só em Portugal e bem melhor no estrangeiro devido ao seu elenco internacional. Enquanto se conseguir filtrar os aspectos menos bons a História de Portugal é um motivo de orgulho.
Napoleão conquistou o coração da França e os territórios da Europa. Como mandava a tradição secular dos dois países, apenas as ilhas do Reino Unido lhe escapavam e, numa tentativa de os enfraquecer, ordenou um embargo comercial de todo o continente. A Europa acatou essa jogada militar. Toda a Europa? Não. Um pequeno país recusou-se a trair o seu maior aliado e teve a coragem de o dizer a plenos pulmões. Napoleão e Espanha decidiram conquistar aquele pequeno terreno e por três vezes o tentaram, sendo sempre corridos. O nosso rei pode ter tido pouca confiança e zarpou para além-mar, mas o povo desgovernado fez não o que lhe mandavam - as ordens eram vagas - mas o que sabia ser correcto. Se não conseguiam defender o país, morreriam por ele.
Cada invasão teve a sua história. Na primeira as ordens que ficaram no ar eram para não resistir. Foi o que fizemos até chegarem os ingleses para defender os seus interesses e os franceses de Soult fugiram de Lisboa com o saque que conseguiram. Na segunda invasão o alvo foi o Norte, mas nem tiveram tempo de se acomodar, pois logo foram corridos. A terceira era a decisiva. O exército francês com a sua estratégia de terra queimada suplantava o português em homens, em energia e em alimentos, mas nunca em astúcia. Wellington utilizou a geografia a seu favor, causando numerosas baixas no inimigo em solo desnivelado. Os franceses acreditavam que com os reforços conseguiriam romper a resistência. O que não sabiam é que Wellington tinha outra carta na manga. Tinha construído em total segredo um sistema de fortificações para proteger a península de Lisboa. O inimigo nem suspeitava, mas quando chegou o momento de marchar para Lisboa, tinham perante eles as Linhas de Torres Vedras - talvez o maior segredo militar da Europa - a nossa própria Grande Muralha, construída do nada e intransponível. Não só as torres tinham sido erguidas pelos nossos homens que deram o seu melhor, como eram defendidas pelos nossos soldados que iriam dar o seu melhor. Nenhum português queria ser responsável pela queda do Império.
Este filme narra o que se passou em Portugal entre a batalha do Buçaco e a defesa de Torres Vedras. Soldados, meretrizes, freiras e civis, em batalha, em fuga ou escondidos, todos tiveram o seu papel numa guerra interminável. Ao longo de duas horas e meia – não parece tão longo como soa – fazem os possíveis para sobreviver por entre a morte. Uns A visão de Ruiz transposta a filme pela sua viúva não tem magia nem é tão brutal como se esperaria de um filme de guerra, mas não é mau. O filme tenta abarcar um pouco de tudo e não consegue ser completo como se desejaria. Não substitui os livros de História, apenas motiva para os irem procurar. A prioridade foi ir além do conflito que pode ser lido nos livros e mostrar as pessoas. Pessoas, especialmente mulheres, e a batalha que travaram como guerreiras deste Portugal, como líderes de famílias que a guerra reduziu, como vítimas da luxúria dos estrangeiros.
Os planos de câmara são fora do comum (nem bons, nem maus), tem algumas cenas inúteis como o desfile de vedetas francesas numa refeição sem sentido, e Wellington não é tão imponente como se gostaria de imaginar, no entanto em todo o filme a única falha a apontar é a direcção de figurantes. Sejam os soldados em festa que não se sabem divertir e têm uma ridícula forma de dançar, ou os trabalhadores que se mexem lentamente em vez de parecerem cansados, o filme falha muito nesse ponto. Do lado positivo há uma excelente circulação entre personagens, os desempenhos dos actores são aceitáveis, e os vários idiomas falados (português, castelhano, francês, inglês e um pouco de polaco) alternam-se como seria de esperar numa situação real.
Como filmes temático para as escolas tem demasiada nudez e sexo - já nem falo da violência que o próprio Wellington a determinada altura diz ser excessiva - mas mesmo assim pode bem chegar aos 100000 espectadores só em Portugal e bem melhor no estrangeiro devido ao seu elenco internacional. Enquanto se conseguir filtrar os aspectos menos bons a História de Portugal é um motivo de orgulho.
Título Original: "As Linhas de Wellington" (França, Portugal, 2012) Realização: Valeria Sarmiento Argumento: Carlos Saboga Intérpretes: Nuno Lopes, Soraia Chaves, Marisa Paredes, John Malkovich, Carloto Cotta, Victória Guerra, Marcello Urgeghe, Jemima West, Afonso Pimentel, Miguel Borges, Mathieu Amalric, Filipe Vargas, Adriano Luz, Catherine Deneuve, Isabelle Huppert, Michel Piccoli, Chiara Mastroianni, Maria João Bastos, Paulo Pires Música: Jorge Arriagada Fotografia: André Szankowski Género: Drama, Guerra, História Duração: 151 min. Sítio Oficial: http://www.linesofwellington.com/ |
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