Para começar um conselho: não se deve ver "The Dark Knight Rises" sem antes rever os antecessores. Podem-nos obrigar a recordar Harvey Dent praticamente na abertura, mas além disso é preciso recordar Ra's Al Ghul e a Liga das Sombras, é preciso saber perfeitamente quem é Bruce Wayne e quem é o Batman. Quem são os aliados e os inimigos de cada um deles, qual o arsenal que as empresas Wayne cederam ao vingador mascarado... Em suma, se não quiserem rever é melhor que sejam fanáticos pois em sete anos muito fica esquecido.
Quando o segundo filme termina, o Batman fica com as culpas da morte de Dent para que a proposta de lei possa seguir e tornar Gotham mais segura. Gordon simplifica esse feito com o monólogo mais simples e mais bonito da trilogia:
Because he's the hero Gotham deserves, but not the one it needs right now. So we'll hunt him. Because he can take it. Because he's not our hero. He's a silent guardian, a watchful protector. A dark knight.
Chegados ao terceiro filme as coisas estão um pouco diferentes. Wayne é um eremita que não voltou a ser visto. Batman está desaparecido e a polícia desistiu de o procurar. Quando alguém fala do “mascarado” não se refere ao homem-morcego, mas a Bane, uma lenda que ninguém viu. Gotham não voltou a ser assombrada pelos super-criminosos de outrora e Gordon que está preparado para um ataque eminente é acusado de excesso de zelo. Tudo estava bem até que uma sedutora ladra se apodera das impressões digitais de Wayne. Esse roubo peculiar confunde o próprio que não encontra uma justificação. Algo de grande se vai passar e ninguém está preparado para isso.
Como admirador dos filmes de Burton desde tenra idade e vítima indefesa dos filmes que o seguiram, esperava muito deste capítulo. Não só porque sabia quão sedutora pode ser a Cat Woman com a actriz certa numa roupa justa, como me lembrava de um Bane tão mau que só poderia melhorar.
Se acabaram de sair de um buraco onde o sol não entrava e não se recebiam notícias do exterior, 1) voltem para lá que deve ser melhor do que a superfície; 2) fiquem a saber que a coisa aqui está preta. A desigualdade na distribuição da riqueza tem vindo a ser um problema e com a crise ainda é mais sentida. Este filme vai-se aproveitar desse estado de espírito para propor uma nova ordem social, onde a polícia não é necessária ou desejada, onde o cidadão anónimo é respeitado, onde todos os crimes são punidos ou com a morte do indivíduo ou com a de toda a cidade. E deixar a cidade está na lista de infracções. Este é o modelo proposto por Bane, libertador de Gotham que delega o governo no povo, com as ressalvas referidas. Este é o cenário que o herói caído vai ter de reverter antes de perder a sua cidade para sempre.
Apesar de a economia e o governo serem pontos nevrálgicos da narrativa, serão dos menos importantes. O que realmente está a acontecer é o culminar de uma trilogia e tudo mais é secundário. O primeiro acto, se assim podemos chamar, vai revisitando personagens que já conhecemos e trazendo outras que não cativam por aí além. É mais do que satisfatório descobrir o que vai na alma de Alfred (já merecia uma nomeação a Oscar), podia ser mais eficaz a mostrar as trevas onde Wayne mergulhou. Ver Gordon a enfrentar tudo e todos é tão surreal que sabemos logo, isto vai azedar. Depois ainda há as duas femmes fatales (isso porque Nolan continua a desperdiçar actrizes, podiam ser três) e finalmente há Bane. Esclareço já que Bane não é o Joker. A voz dele não é intimidante como a do anterior arqui-inimigo nem é tão malvada como a máscara à Darth Vader sugeria. Bane é como se não tivesse identidade própria. É uma mera extensão de Ra's Al Ghul e aproveita-se do medo que vem do primeiro filme. Apenas isso.
Com tantas personagens, e ainda faltou referir algumas, "The Dark Knight Rises" demora a arrancar. Por muito épico que seja o filme é demasiada gente para acompanhar! Passando ao segundo acto, as coisas começam a desenrolar-se melhor. Mas muito melhor mesmo. A única coisa que falta ao filme é a capacidade de surpreender. Já tanto se falou e especulou, que todos os cenários possíveis tinham sido colocados sobre a mesa e a obra final não tinha por onde escapar. Por isso mesmo é ainda mais meritória. Com um Batman que envergonha, sem ter um vilão convincente, foge à imagem criada por comics e por Burton e por aquele que não merece ser pronunciado e mesmo à figura de herói que o próprio Nolan ergueu, e no entanto é um filme eficaz que funcionaria mesmo sem ser parte do universo Batman.
A grande surpresa será a reforma do homem-morcego. O próprio a retirar-se, o médico a recomendar descanso, a incapacidade de superar as barreiras que não detiveram uma criança! Este herói pode ter envelhecido, e pode ser indiferente à morte, mas ficou mais real do que alguma vez foi. Com a queda de do Caveleiro das Trevas surge um novo herói: o povo de Gotham. Se no segundo filme mostra o seu lado pior (a recordar a cena dos barcos), aqui mostra um novo lado. Com alguma apatia, mas uma postura decente e onde a coragem de poucos compensa a cobardia de muitos, é a população anónima, com pequenos gestos, e não a mascarada, com exibições heróicas, que faz a diferença. Gordon tinha razão e Gotham finalmente encontrou o herói que precisava. Mais uma vez a contenção foi a chave para criar uma história credível onde era muito fácil exagerar e ser falso.
O ajuste das pontas soltas é feito a despachar, com a angústia da despedida, mas fechando bem a porta para que não seja preciso voltar. Satisfaz o espectador? Não, ainda ficaram muitos vilões por explorar e conflitos por resolver. Conclui uma das mais importantes trilogias do século? Certamente, e dá vontade de voltar ao primeiro DVD e ver novamente a saga do início.
Quando o segundo filme termina, o Batman fica com as culpas da morte de Dent para que a proposta de lei possa seguir e tornar Gotham mais segura. Gordon simplifica esse feito com o monólogo mais simples e mais bonito da trilogia:
Because he's the hero Gotham deserves, but not the one it needs right now. So we'll hunt him. Because he can take it. Because he's not our hero. He's a silent guardian, a watchful protector. A dark knight.
Chegados ao terceiro filme as coisas estão um pouco diferentes. Wayne é um eremita que não voltou a ser visto. Batman está desaparecido e a polícia desistiu de o procurar. Quando alguém fala do “mascarado” não se refere ao homem-morcego, mas a Bane, uma lenda que ninguém viu. Gotham não voltou a ser assombrada pelos super-criminosos de outrora e Gordon que está preparado para um ataque eminente é acusado de excesso de zelo. Tudo estava bem até que uma sedutora ladra se apodera das impressões digitais de Wayne. Esse roubo peculiar confunde o próprio que não encontra uma justificação. Algo de grande se vai passar e ninguém está preparado para isso.
Como admirador dos filmes de Burton desde tenra idade e vítima indefesa dos filmes que o seguiram, esperava muito deste capítulo. Não só porque sabia quão sedutora pode ser a Cat Woman com a actriz certa numa roupa justa, como me lembrava de um Bane tão mau que só poderia melhorar.
Se acabaram de sair de um buraco onde o sol não entrava e não se recebiam notícias do exterior, 1) voltem para lá que deve ser melhor do que a superfície; 2) fiquem a saber que a coisa aqui está preta. A desigualdade na distribuição da riqueza tem vindo a ser um problema e com a crise ainda é mais sentida. Este filme vai-se aproveitar desse estado de espírito para propor uma nova ordem social, onde a polícia não é necessária ou desejada, onde o cidadão anónimo é respeitado, onde todos os crimes são punidos ou com a morte do indivíduo ou com a de toda a cidade. E deixar a cidade está na lista de infracções. Este é o modelo proposto por Bane, libertador de Gotham que delega o governo no povo, com as ressalvas referidas. Este é o cenário que o herói caído vai ter de reverter antes de perder a sua cidade para sempre.
Apesar de a economia e o governo serem pontos nevrálgicos da narrativa, serão dos menos importantes. O que realmente está a acontecer é o culminar de uma trilogia e tudo mais é secundário. O primeiro acto, se assim podemos chamar, vai revisitando personagens que já conhecemos e trazendo outras que não cativam por aí além. É mais do que satisfatório descobrir o que vai na alma de Alfred (já merecia uma nomeação a Oscar), podia ser mais eficaz a mostrar as trevas onde Wayne mergulhou. Ver Gordon a enfrentar tudo e todos é tão surreal que sabemos logo, isto vai azedar. Depois ainda há as duas femmes fatales (isso porque Nolan continua a desperdiçar actrizes, podiam ser três) e finalmente há Bane. Esclareço já que Bane não é o Joker. A voz dele não é intimidante como a do anterior arqui-inimigo nem é tão malvada como a máscara à Darth Vader sugeria. Bane é como se não tivesse identidade própria. É uma mera extensão de Ra's Al Ghul e aproveita-se do medo que vem do primeiro filme. Apenas isso.
Com tantas personagens, e ainda faltou referir algumas, "The Dark Knight Rises" demora a arrancar. Por muito épico que seja o filme é demasiada gente para acompanhar! Passando ao segundo acto, as coisas começam a desenrolar-se melhor. Mas muito melhor mesmo. A única coisa que falta ao filme é a capacidade de surpreender. Já tanto se falou e especulou, que todos os cenários possíveis tinham sido colocados sobre a mesa e a obra final não tinha por onde escapar. Por isso mesmo é ainda mais meritória. Com um Batman que envergonha, sem ter um vilão convincente, foge à imagem criada por comics e por Burton e por aquele que não merece ser pronunciado e mesmo à figura de herói que o próprio Nolan ergueu, e no entanto é um filme eficaz que funcionaria mesmo sem ser parte do universo Batman.
A grande surpresa será a reforma do homem-morcego. O próprio a retirar-se, o médico a recomendar descanso, a incapacidade de superar as barreiras que não detiveram uma criança! Este herói pode ter envelhecido, e pode ser indiferente à morte, mas ficou mais real do que alguma vez foi. Com a queda de do Caveleiro das Trevas surge um novo herói: o povo de Gotham. Se no segundo filme mostra o seu lado pior (a recordar a cena dos barcos), aqui mostra um novo lado. Com alguma apatia, mas uma postura decente e onde a coragem de poucos compensa a cobardia de muitos, é a população anónima, com pequenos gestos, e não a mascarada, com exibições heróicas, que faz a diferença. Gordon tinha razão e Gotham finalmente encontrou o herói que precisava. Mais uma vez a contenção foi a chave para criar uma história credível onde era muito fácil exagerar e ser falso.
O ajuste das pontas soltas é feito a despachar, com a angústia da despedida, mas fechando bem a porta para que não seja preciso voltar. Satisfaz o espectador? Não, ainda ficaram muitos vilões por explorar e conflitos por resolver. Conclui uma das mais importantes trilogias do século? Certamente, e dá vontade de voltar ao primeiro DVD e ver novamente a saga do início.
Título Original: "The Dark Knight Rises" (EUA, Reino Unido, 2012) Realização: Christopher Nolan Argumento: Christopher Nolan, Jonathan Nolan, David S. Goyer Intérpretes: Tom Hardy, Joseph Gordon-Levitt, Anne Hathaway, Marion Cotillard, Morgan Freeman, Michael Caine, Juno Temple, Liam Neeson, Cillian Murphy Música: Hans Zimmer Fotografia: Wally Pfister Género: Acção, Crime, Thriller Duração: 165 min. Sítio Oficial: http://www.thedarkknightrises.com/ |
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