Seja porque são extraordinários, ou porque a competição é fraca, todos os anos há um punhado de filmes que se destacam dos demais sempre que chegamos à época dos prémios. Um dos grandes favoritos entre os de 2013 era "12 Years a Slave" de Steve McQueen. A história de um homem livre tornado escravo não seria muito apelativa num ano em que "The Butler" esgotou a cíclica simpatia do público pela condição passada da raça negra. Juntava-se a isso que McQueen não me tem agradado particularmente - "Shame" foi uma decepção - e estava com as defesas bem ligadas antes de ir ver este filme. Pois tudo isso passou bastante depressa e "12 Years a Slave" tornou-se rapidamente o meu filme predilecto destes últimos meses.
A história de Solomon Northup, mesmo tendo passado quase dois séculos desde tais acontecimentos, merece muita atenção. Pode ser difícil imaginar a sensação de perder um dos direitos mais fundamentais da existência humana, mas não temos neste milénio o mesmo problema? Milhares de pessoas que partem atrás de uma promessa de trabalho e, em vez de conseguirem uma vida melhor, se vêem sem nada mais do que uma vida de servidão?
A narrativa não se demora a contar como era a vida de Solomon. O título é suficientemente explícito sobre o que acontece e portanto depressa nos deparamos com a nova vida - se é que pode ser chamada vida - que levará sob o nome de Platt. E assim o contexto histórico torna-se insignificante perante a história humana.
A primeira sensação é o medo. Os filmes sobre escravatura já saíram de moda pelo que convém recordar uma coisa muito desagradável dessa condição: a morte é quase uma certeza. O escravo não é uma pessoa, é um objecto. Como tal, a sua vida não tem valor. No máximo terá o preço que é indicado na etiqueta e em caso de indisciplina será prontamente trocado por outro.
A segunda sensação é a esperança. Seja através das memórias da vida passada, ou do sonho de voltar para essa realidade, Solomon não está disposto a morrer facilmente. Utilizará a sua instrução como uma arma secreta. Primeiro evidenciando-se pelo talento musical, depois pela capacidade de trabalho com olho para a engenharia. O título pode estabelecer uma validade para a escravatura, mas não diz nada sobre como sairá dessa situação e portanto o espectador precisa do consolo de ver que o herói tem capacidades acima dos outros escravos, desinstruídos e resignados à sua condição de subserviência.
Enquanto essas duas visões se alternam para causar o cocktail de sentimentos que faz uma grande obra, surge a incerteza. Quem será aliado? Quem o está a enganar? Quantos mais estarão naquela situação? E quando tudo parece fazer sentido emocionalmente, é a violência física que vem derrubar as defesas restantes. A instabilidade do seu senhor e as chicotadas são arrasadoras.
É bastante claro que para ver este filme é preciso estar com a mente preparada e o estômago vazio. Ao contrário de outros grandes filmes, não é preciso estar no estado de espírito adequado. O filme assegura-se que ao longo da projecção o espectador esquece quaisquer distracções e no final não pensará em nada mais. Uma experiência como raramente se tem em cinema.
A história de Solomon Northup, mesmo tendo passado quase dois séculos desde tais acontecimentos, merece muita atenção. Pode ser difícil imaginar a sensação de perder um dos direitos mais fundamentais da existência humana, mas não temos neste milénio o mesmo problema? Milhares de pessoas que partem atrás de uma promessa de trabalho e, em vez de conseguirem uma vida melhor, se vêem sem nada mais do que uma vida de servidão?
A narrativa não se demora a contar como era a vida de Solomon. O título é suficientemente explícito sobre o que acontece e portanto depressa nos deparamos com a nova vida - se é que pode ser chamada vida - que levará sob o nome de Platt. E assim o contexto histórico torna-se insignificante perante a história humana.
A primeira sensação é o medo. Os filmes sobre escravatura já saíram de moda pelo que convém recordar uma coisa muito desagradável dessa condição: a morte é quase uma certeza. O escravo não é uma pessoa, é um objecto. Como tal, a sua vida não tem valor. No máximo terá o preço que é indicado na etiqueta e em caso de indisciplina será prontamente trocado por outro.
A segunda sensação é a esperança. Seja através das memórias da vida passada, ou do sonho de voltar para essa realidade, Solomon não está disposto a morrer facilmente. Utilizará a sua instrução como uma arma secreta. Primeiro evidenciando-se pelo talento musical, depois pela capacidade de trabalho com olho para a engenharia. O título pode estabelecer uma validade para a escravatura, mas não diz nada sobre como sairá dessa situação e portanto o espectador precisa do consolo de ver que o herói tem capacidades acima dos outros escravos, desinstruídos e resignados à sua condição de subserviência.
Enquanto essas duas visões se alternam para causar o cocktail de sentimentos que faz uma grande obra, surge a incerteza. Quem será aliado? Quem o está a enganar? Quantos mais estarão naquela situação? E quando tudo parece fazer sentido emocionalmente, é a violência física que vem derrubar as defesas restantes. A instabilidade do seu senhor e as chicotadas são arrasadoras.
É bastante claro que para ver este filme é preciso estar com a mente preparada e o estômago vazio. Ao contrário de outros grandes filmes, não é preciso estar no estado de espírito adequado. O filme assegura-se que ao longo da projecção o espectador esquece quaisquer distracções e no final não pensará em nada mais. Uma experiência como raramente se tem em cinema.
Título Original: "12 Years a Slave" (EUA, Reino Unido, 2013) Realização: Steve McQueen Argumento: John Ridley (baseado no livro de Solomon Northup) Intérpretes: Chiwetel Ejiofor, Lupita Nyong'o, Michael Fassbender, Paul Dano, Benedict Cumberbatch, Sarah Paulson Música: Hans Zimmer Fotografia: Sean Bobbitt Género: Biografia, Drama, Histórico Duração: 134 min. Sítio Oficial: http://www.foxsearchlight.com/12yearsaslave/ |
Uma nota final para os actores aqui reunidos. Depois de tantos anos Chiwetel Ejiofor deu um valente salto para o estrelato. Praticamente leva o filme sozinho com as suas duas vidas. Entre os menos conhecidos, Paul Dano continua a construir um bom currículo e Lupita Nyong'o tem uma bela estreia na longa-metragem (podem revê-la brevemente em “Non-Stop” de Jaume Collet-Serra). O resto de elenco fenomenal pode ser um isco para um público mais alargado (em Portugal a ZON exagerou, mas Itália teve de retirar cartazes de circulação após acusações de racismo por ignorarem o actor principal em detrimento dos secundários), contudo as presenças dos grandes Benedict Cumberbatch e Michael Fassbender são merecedoras de atenção. Outros pelo contrário, como Paul Giamatti e Brad Pitt, têm um mero cameo. Mesmo Sarah Paulson pouco aparece.
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