22 de abril de 2015

"The Rewrite" por Nuno Reis

recomeçar é preciso



Uma viagem de mil kilómetros começa com um passo. Da mesma forma um texto começa com uma palavra. Mas dizer que um texto chega à versão final com essa palavra - ou mesmo alguma palavra da versão original - é muito arriscado. Uma parte fundamental do processo criativo é a reescrita. Não deve ser usada de forma leviana, mas essa derradeira arma nunca pode ser esquecida. Este filme não chega a tais extremos. Nem sequer dá umas dicas sobre como retocar textos para os melhorar. Dá uma noções básicas de escrita de argumento e tenta explicar como se pode dar um novo rumo à vida.
Hugh Grant é uma figura única do cinema comteporâneo. Normalmente faz sempre de sacana com um fundinho de bom e todos se derretem. Em "The Rewrite" não foge a esse modelo. Muito próximo do que vimos há uns anos em "Music and Lyrics" (do memso argumentista/realizador) onde fazia de músico com um grande passado e nenhum presente, agora é um one hit screenwriter. Keith Michaels há uma dúzia de anos escreveu um filme que se tornou o favorito de milhões. Entretanto escreveu outros dois que foram fracassos de crítica e bilheteira, e hoje em dia não tem sequer o suficiente para pagar as contas. Por isso aceita um degradante - diz ele - emprego numa universidade como professor de Escrita de Argumento no qual pretende fazer o mínimo possível. Ao chegar começa logo bem, a engatar estudantes e a escolher os seus pupilos com base no aspecto, em vez avaliar os argumentos que ele enviaram. Ainda nesse dia, consegue entrar em conflito com uma colega ao insultar o feminismo e Jane Austen de uma vez. Se virem o trailer ficam logo com uma ideia de como o filme é. E como em imensos filmes antes destes, Marisa Tomei entra em cena para ajudar um homem na crise de meia idade a descobrir os prazeres e o significado da vida.
Ora se Grant e Tomei estão iguais ao que os temos visto fazer tantas vezes, o melhor será procurar quem faz coisas diferentes, como J. K. Simmons, por exemplo. Acostumou-nos ao seu lado mais sério e está divertido como em "Easy A". É que não há muito mais a destacar no filme. A não ser que seja fútil como Keith Michaels e comente a qualidade das jovens actrizes escolhidas a dedo para encher a turma, como Olivia Luccardi, Bella Heathcote, Annie Q., Emily Morden e mesmo as discretas Maggie Geha e Aja Naomi King (cujas falas se contam pelos dedos de uma mão), todas elas mulheres deslumbrantes.
Desde que não sejam estudiosos de cinema e tenham uma boa bagagem de títulos mainstream, vão conseguir apreciar o contexto de "The Rewrite". Se souberem de menos não vão apanhar todas as referências, se souberem demasiado vão achar que é demasiado superficial. A mesma sensação que os alunos estarão a ter ouvindo aquele professor que idolatram como argumentista, mas os desilude completamente enquanto pessoa.
Claro que há castigos e redenções. Mau era se um filme sobre argumentos não seguia a fórmula à risca. Podia ter sido um pouco mais óbvio para servir de exemplo ao que estava a demonstrar, ainda que isso fosse, talvez, cansativo. Mais uma vez, depende da bagagem de cada um reconhecer o que acontece na tela.
Será uma boa escolha para ver em várias etapas da vida. Até para ver múltiplas vezes caso passe na televisão. Mas não será uma prioridade para quem tem de escolher entre dezenas de filmes em cartaz a não ser que adorem algum dos protagonistas.
The RewriteTítulo Original: "The Rewrite" (EUA, 2014)
Realização: Marc Lawrence
Argumento: Marc Lawrence
Intérpretes: Hugh Grant, Marisa Tomei, J. K. Simmons, Allison Janney, Chris Elliott
Música: Clyde Lawrence
Fotografia: Jonathan Brown
Género: Comédia, Romance
Duração: 107 min.
Sítio Oficial: não tem

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