Os vigaristas sempre foram o género preferido de criminoso cinematográfico para o grande público. Apesar de o seu alvo não ser exclusivamente nas grandes fortunas, não roubam a quem nada tem. E além disso, os planos são tão engenhosos que é quase como se merecessem uma recompensa pelo esforço. No entanto, também o argumentista terá de dar o seu melhor para nos apresentar uma história convincente, caso contrário será prontamente ignorado.
Temos assistido a diversos golpes memoráveis no cinema. “The Sting”, “Ocean’s Eleven”, “Inside Man”, em todos eles os criativos ladrões têm de lidar com problemas pessoais e profissionais em simultâneo. “Focus” segue precisamente o mesmo caminho. É a história de um vigarista profissional que cruza caminho com uma vigarista amadora e lhe ensina alguns truques úteis. Quis o destino que se encontrassem novamente e terão a oportunidade de trabalhar juntos. Conseguirão pessoas que ganham a vida mentir, confiar um no outro?
Começando pelos actores, o meu principal (único) motivo para ver este filme, foi a curiosidade de ver Will Smith e Margot Robbie juntos antes de “Suicide Squad”. Ao espreitar os actores previamente associados às personagens, diria que para o papel feminino haveria talvez uma alternativa, e para o masculino, não sendo perfeito, acabou por ser a melhor escolha. Margot Robbie caminha a passos largos para ser uma estrela em Hollywood e aqui esbanja charme, classe, inocência e humor com imensa candura, tudo o que a personagem precisava. É como se flutuasse enquanto rouba carteiras e relógios. Will Smith com a sua experiência consegue dosear os sentimentos, dando a impressão de ter sempre algo em mente, sempre com o próximo golpe em vista. Olhando para o par, acreditamos que ela tem algo a aprender e que depressa superará o mestre. E há ainda o Farhad (personagem de Adrian Martinez) que, mesmo aparecendo poucas vezes, é uma peça chave na relação e nos golpes. É a dose de realidade que nos puxa quando a mente começa a divagar e se esquece da catch phrase do filme “never drop the lie”. Porque tudo o que vemos é um golpe e todos podem ser actores, a única certeza que temos é que quando Farhad aparece, algo está a acontecer.
O filme peca numa coisa que é na ilusão de ter algo grandioso para nos mostrar, quando avisou ao início que não é no valor, mas no volume que está o ganho. Fazer algo grande só aumenta o risco, não aumenta a quantia. Quem estiver à espera de um grande golpe, poderá não dar valor às dezenas de milhares que eles arrecadam a cada vez. Um milhão é uma enorme quantia. Felizmente o romance que paira no ar ajuda a esquecer os criminosos manipuladores, e a focar no homem e na mulher que se deixam levar por algo que não controlam. Até que surja a próxima mentira e coloque imensa tensão na relação.
Mesmo sem estar ao nível dos antecessores no que a crimes diz respeito, é uma obra competente que pode ser vista sem problemas. Claro que no final podem pensar que algo não bate certo e até terão razão, mas o que num filme convencional seria registado como um erro, aqui pode querer dizer que ainda nem tudo está explicado e algum outro golpe está em preparação. Não é o caso, foi mesmo pouco cuidado, mas perdoa-se falhas menores quando é uma comédia.
Título Original: "Focus" (EUA, 2015) Realização: Glenn Ficarra, John Requa Argumento: Glenn Ficarra, John Requa Intérpretes: Will SMith, Margot Robbie, Adrian Martinez, Rodrigo Santoro, Gerald McRaney, BD Wong Música: Nick Urata Fotografia: Xavier Grobet Género: Comédia, Crime, Drama, Romance Duração: 105 min. Sítio Oficial: http://focusmovie.com |
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