Gosto de musicais. Em especial aqueles cujas músicas conheço e com sessões desertas para poder cantar a plenos pulmões sem medo de ser expulso da sala. Mas não gosto de remakes desnecessários, em especial quando não são o primeiro. Neste caso estamos a falar da quarta adaptação de um musical para filme, e a terceira para cinema. Talvez seja demasiado. Outra coisa que não gosto é a moda de refazer filmes com um casting minoritário só porque fica bem. Seja o "Ghostbusters" feminino, ou o "Karate Kid" negro, gostava que me explicassem bem o interesse de alterar só porque sim. Há coisas que funcionam num determinado tempo e lugar, e se não foram assim no original, não é preciso ser no remake. Com as devidas excepções que podem ser feitas antes de se ter um sucesso em mãos (veja-se o caso de tornar Salt uma mulher ou Nick Fury negro) é preciso muito cuidado. Por exemplo, este James Bond louro e que talvez na encarnação seguinte seja negro, sabemos que tal como Doctor Who é um papel temporário. Dentro de alguns anos virá outro actor e novas queixas quando à escolha como sempre houve. É normal. Mas quando dizem que as tartarugas ninja vão deixa de ser adolescentes e mutantes, alto lá, que isso não faz sentido. Nâo se metam com os clássicos.
Voltando ao filme que vos trouxe aqui, “Annie” era mais uma adaptação da família Pinkett-Smith apesar de esse apelido ser pouco visível no ecrã. A escolha de Quvenzhané Wallis para o papel principal podia ser inquestionável (afinal de contas, quantas na idade dela têm uma nomeação a Oscar?) e logo na abertura validam que há uma imagem estereotipada de Annie que é preciso afastar, mas o escudo de desconfiança fica no ar por algum tempo. Quando começam os acordes de uma música que conhecemos de outra época soam todos os alarmes. Não foi para isto que vim. Por sorte é passageiro e depressa chegam as músicas que conhecemos, com a sonoridade que conhecemos. Ainda que a linguagem de outrora tenha caído em desuso, funcionam.
Com o desenrolar da trama, já bem conhecida, vamos prestando mais atenção às diferenças do que às semelhanças. Há temas tocados demasiado ao de leve, há adaptações à nossa era tecnológica bastante curiosas (em especial a célebre cena da perseguição) e vários números musicais estranhos, onde a palavra assume dois sentidos. Ou é estranho porque as vozes foram demasiado trabalhadas para soarem bem, acabando a soar artificiais, ou é estranho porque a dança é tão ridícula que nem reparamos nas vozes. Por exemplo, “I Think I'm Gonna Like It Here” está tão desenquadrado do resto do filme que só funcionaria como videoclip promocional. E “Easy Street” que em alguma das versões chegou a ser a minha segunda música favorita do filme, aqui é para deitar fora. No fim, musicalmente, tudo o que veio depois de "It's a Hard Knock Life" foi para esquecer.
Quanto aos actores, Wallis consegue ser Annie e, tal como as antecessoras, faz-nos sofrer e sonhar. Jamie Foxx acabou por ser uma boa escolha nos momentos musicais, ainda que seja irregular no resto. Rose Byrne cumpre bem o estereótipo que lhe calhou e Cameron Diaz, que recordamos de momentos musicais em “The Mask” e “Charlie’s Angels”, simplesmente não funciona como vilã. Fomos formatados para gostar dela e esperamos ansiosos pela sua redenção.
Num instante passam duas horas. A impressão final é que funcionará bem com quem não trouxer uma imagem pré-concebida de outros filmes. Se não tiverem acolhido anteriormente outra Annie no vosso coração, esta versão provavelmente ficará com esse espaço. Se já lá estiver uma, será mais complicado, mas decerto ela não se importará de receber outra criança na mesma situação. Se há algo que Annie nos ensina filme após filme, é que podemos gostar de toda a gente.
Quanto aos actores, Wallis consegue ser Annie e, tal como as antecessoras, faz-nos sofrer e sonhar. Jamie Foxx acabou por ser uma boa escolha nos momentos musicais, ainda que seja irregular no resto. Rose Byrne cumpre bem o estereótipo que lhe calhou e Cameron Diaz, que recordamos de momentos musicais em “The Mask” e “Charlie’s Angels”, simplesmente não funciona como vilã. Fomos formatados para gostar dela e esperamos ansiosos pela sua redenção.
Título Original: "Annie" (EUA, 2014) Realização: Will Gluck Argumento: Will Gluck, Aline Brosh McKenna (baseados no musical) Intérpretes: Quvenzhané Wallis, Jamie Foxx, Rose Byrne, Camerin Diaz, Bobby Cannavale, , David Zayas Música: Greg Kurstin Fotografia: Michael Grady Género: Comédia, Drama, Musical Duração: 118 min. Sítio Oficial: http://www.annie-movie.com |
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