7 de junho de 2005

"Dear Frankie" por César Nóbrega



PESSOAS COMO NÓS…

"Vergonha é roubar!" dizia-me uma senhora sentada ao meu lado. Alta, morena, com os seus 70 anos, a senhora Antónia acaba de ver o filme "Querido Frankie" de Shona Auerbach. "Vergonha é roubar!" repetia-me ela. Parece que acabavam de me dar uma chapada na cara. Eu chorava… estava envergonhado - "e depois? Mostra que ainda tem sentimentos. Muita da nossa juventude não sabe o que é chorar, e então os homens estão a voltar à Idade da Pedra." A dona Antónia não me largava, mas eu estava todo satisfeito, afinal, acabava de levar um elogio do tamanho do mundo.

"O filme é lindo… sem ser piegas é forte." Mais uma vez, a senhora Antónia tinha-me tirado as palavras da boca. "Querido Frankie" é isso mesmo.
Desde que se lembra o pequeno Frankie, tem 9 anos, anda de terra em terra com a mãe. Sabemos que fogem de alguma coisa, porque nas cartas que ele envia para o pai diz que, apesar das promessas da mãe, nunca assentam em nenhum local. Ficam uns meses e depois seguem, como de saltimbancos se tratassem.
Frankie nunca viu o seu pai, apenas "conhece" a letra dele das cartas que vai recebendo e que lhe contam aventuras do mar. Supostamente, o pai do miudo é um marinheiro a bordo de um grande navio. Quando chegam a uma aldeia costeira escocesa, Frankie vai ter a oportunidade por que esperava - conhecer o pai. Mas, a mãe Lizzie tem um segredo. "As mulheres adoram segredos" - diz uma amiga que Frankie acaba de conhecer na escola - "procura no guarda-fatos, é lá que esles estão todos". Só que este está muito mais longe. Lizzie e Frankie fogem do pai! - e as cartas que o miudo recebe são falseadas pela mãe para proteger o pequeno de algo muito grave. Por isso, Lizzie vai ter de engendrar um esquema para que Frankie não fique a conhecer a verdade.
O enredo tem tudo para ser "lamechas", mas não é! Em "Querido Frankie" não há heróis ou vilões "muito maus". São apenas pessoas que cometem erros. Podia ser um de nós. O filme conta uma história, mas em altura alguma a tenta impôr, do género: aqui está o bem e ali o mal. Ela devia fazer isto e ele aquilo.
Nos principais papeis estão a bela Emily Mortimer que vamos ver em "Match Point" (2005), o mais recente de Woody Allen e que vimos em "Young Adam" de David Mackenzie (2003), ao lado do pequeno Jack Mcelhone, o outro protagonista de "Querido Frankie". O actor escocês, Gerald Butler, o fantasma de "O Fantasma da Ópera" de Joel Schumacher (2004) tem aqui o seu papel mais simples, mas igualmente, o mais eficaz. Butler é o estranho que vai ser pai do Frankie por um dia (ou dois).
"Querido Frankie" é realizado por Shona Auerback, igualmente responsável pela belíssima fotografia. As paisagens costeiras da Escócia ajudam. Por vezes, temos a sensação de estar a olhar para um quadro.
O filme ganhou prémios nos festivais de cinema de Seattle, Montreál, Los Angeles e Indiana e foi nomeado para vários prémios da indústria britânica de cinema.


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