4 de fevereiro de 2006

”Munich” por António Reis




Munich” é um filme brilhante mas que decepcionará a maior parte dos seus espectadores. Primeiramente porque é menos um filme sobre o terrorismo no coração dos Jogos Olímpicos e mais um filme sobre a vingança como método de persuasão. Depois porque é um filme marcadamente “judeu” uma vez que Spielberg não é capaz de fugir às suas raízes de um judeu no exílio dourado americano. Mas também não agradará aos israelitas, porque apesar da eficácia como marca da Mossad acaba por levantar interrogações, equívocos e perplexidades. Aos palestinianos não agradará seguramente dado que o terrorismo é hoje, como em 72, um método politicamente incorrecto.

Brilhantemente reconstituído nos cenários e nos adereços, tecnicamente impecável enquanto fotografia, com uma música étnica primorosamente escolhida, Spielberg constrói uma história quase policial com excelentes momentos de suspense, um filme de acção e de espionagem, onde a narrativa se estrutura em flashbacks e elipses temporais. Mas para além dos aspectos técnicos mergulhados na história começamos a detectar as dúvidas e as hesitações de um homem inquieto. O contexto histórico, que Spielberg pressupõe que os espectadores reconhecem minimamente, é todavia demasiado complexo para um espectador médio. Poucos se aperceberão da imagem que Golda Meir tem no filme, imagem aliás pouco abonatória, e que provavelmente é demasiado crítico e negativo desta primeira-ministra de Israel, num período crítico da sua história.

Também os diversos serviços secretos que se degladiam no palco de batalha que é a Europa saem beliscados deste drama humano e político. No fundo todos eles estão na mesma rede, partilham dos mesmo vícios, usam os mesmos iscos e as mesmas tácticas, num mundo onde as ideologias não têm sentido. Mas a imagem do grupo vingador que vai proceder à decapitação metódica de todos os responsáveis pelo massacre de “Munich”, acaba numa desagregação progressiva a nível físico mas também a nível das relações humanas e da lealdade para com o seu Estado. “Munich” é assim um filme em que todos são vítimas – os atletas são vítimas de uma guerra que não é sua, os carrascos são vítimas do seu ódio, o esquadrão da vingança é vítima das suas consciências. Trinta e quatro anos depois de Munique as feridas apenas se agravaram. A Academia reconhece o talento de Spielberg mas ou me engano muito ou este será um filme maldito e os Óscares esquecerão Munique.


Título Original: "Munich" (EUA, 2005)
Realização: Steven Spielberg
Intérpretes: Eric Bana, Mathieu Kassovitz, Daniel Craig, Geoffrey Rush
Argumento: Tony Kushner e Eric Roth
Fotografia: Janusz Kaminski
Música: John Williams
Género: Crime/Drama Histórico/Thriller
Duração: 164 min.
Sítio Oficial: http://www.munichmovie.com/

3 comentários:

Anónimo disse...

Não concordo nada consigo, penso q o contexto de toda a situação do médio oriente, para o comum dos mortais está representada na tragédia do filme, nao axo k o comum dos q foram como eu ver os filmes não se apercebam das situações. A situação de spilberg ganha mais consciência na aparente conflituidade de BAna QND encontra o grupo de palestiniados na grecia e inicia um dialogo com o chefe desse grupo onde se nota um reconhecimento do circulo de vício de toda a situação do medio oriente. Brilhante considero o filme... vai ganhar nos oscars.

Anónimo disse...
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Unknown disse...

Não concordo em nada com o que afirma, se calhar não vimos o mesmo filme, que o Spielberg é Judeu todos nós sabemos, mas não o vejo por isso a defender a sua dama. Mas pronto cada um tem a sua opinião. Eu, pessoalmente, adorei o filme e penso que é muito actual.