Nenhum filme conseguiria conter uma mulher do tamanho do mundo
I would like to be remembered as someone who accomplished useful deeds, and who was a kind and loving person. I would like to leave the memory of a human being with a correct attitude and who did her best to help others.
Era uma vez uma menina chamada Grace. Por influência do tio descobriu os palcos e tornou-se actriz. Pela mão de Hitchcock tornou-se uma lenda. Pelo mão de Rainier tornou-se princesa. Sozinha, tornou-se divina. Não pensemos na realidade dos livros de História, ou nos mitos lançados pela imprensa cor-de-rosa, e olhemos para o conto de fadas que nos é trazido por Olivier Dahan. Estamos perante uma obra feita para marcar o legado da Princesa que a mostra como uma mulher com dúvidas e sujeta a imensa pressão, mas que, com a sua dedicação e os conselheiros certos, será capaz de enfrentar um exército desarmada. Uma farsa clara e assumida que merece o benefício da dúvida.
Como ela muito bem descreve a determinado momento do filme, “guerra é quando duas pessoas deixam de falar e começam a puxar o nariz uma à outra”. França estava em pé de guerra, com a Argélia como epicentro dos problemas. O espírito rebelde de Maio’58 continuava bem vivo e a fuga de impostos para o Mónaco parecia uma ofensa pelo que o governo do presidente e herói gaulês Charles De Gaulle exigiu ao Mónaco que cobrasse impostos pela França. O Príncipe Rainier recusou e a França com meio milhão de quilómetros quadrados ameaçou ocupar o principado de dois. Grace ainda não estava integrada com o seu novo posto e estava a considerar voltar a trabalhar com o realizador inglês quando teve uma chamada de atenção da realidade. O seu novo país estava cercado e se saísse por umas semanas para ser actriz, provavelmente não teria para onde voltar. Por isso, decide preparar-se para o papel mas importante da sua vida e garantir que a queda da independência monegasca não seja no seu tempo de vida. Também George VI esteve numa situação semelhante e teve direito a filme.
Quando Nicole Kidman estava em rodagem, falava-se das semelhanças com o papel que a amiga Naomi Watts tinha conseguido de Princesa Diana. Duas mulheres que saíram da sua zona de conforto para estarem sob escrutínio constante e desviaram o foco dos holofotes de si para os problemas reais das suas épocas. No caso de Grace (reparem que se não uso o apelido, não é por desrespeito, é porque as maiores estrelas não precisam de dois nomes para serem identificadas) o trabalho com os holofotes foi facilitado. Já estava há anos a ser cortejada pela imprensa americana e sabia lidar com fotógrafos e demais buscadores de glamour. Era só uma questão de se tornar uma princesa francófona e monegasca, num processo muito parecido com o de Eliza Doolittle. [Fazendo uma pequena pausa a propósito dessa icónica personagem de “My Fair Lady” (peça que estava em exibição nos palcos da Broadway há vários quando a actriz se tornou princesa), este filme faz lembrar em muito “The Audrey Hepburn Story”: usa o lado humano de uma enorme actriz para nos fazer apaixonar por ela.] Misturando a situação política do protectorado, a relação com o seu príncipe, e a relação com a população, “Grace of Monaco” acaba por depender por completo de Nicole Kidman. As cenas em que não aparece contam-se pelos dedos de uma mão. As em que entra são dominadas por ela. Podia perfeitamente ter feito o filme num gigantesco monólogo de tão vital que é para a narrativa. Por isso era importante a escolha da actriz e apesar de não ser a escolha mais óbvia, acabou por se revelar a mais acertada. Desde o primeiro plano onde está visivelmente cansada, até à gigantesca operação de charme americano lançada contra os franceses, passando por processos de alegria familiar, transformação e traição, é constantemente uma actriz a conter todo o seu potencial. Sabemos que Nicole podia dar mais de si, mas sabemos que Grace estava numa representação mais longa do que qualquer série. Tinha escolhido um papel sem espaço para ensaios ou para descansos. Seria uma princesa sempre e para sempre. Por isso não estaria a princesa na verdade a fazer uma dupla representação, tentando criar uma segunda máscara enquanto ainda envergava a primeira?
Por comparação com a protagonista, todos saem mal na figura com excepção de Frank Langella, tanto actores como pessoas reais. O filme é sobre uma actriz e para uma actriz, ninguém mais podia ser visto, ninguém mais podia ficar com os louros da vitória naquela fria guerra.
Principalmente por isso o filme desilude. Sabemos que a história dela tinha muito mais. Falam da excelente relação com a Cruz Vermelha e com o povo, mas omitem que as mulheres ganharam o direito de voto precisamente nesse período do cerco. Grace do Mónaco foi muito mais do que uma princesa. Se o antes faz parte da lenda de Hollywood, o durante podia ter sido muito melhor explorado. O outro ponto terrível do filme é o final. Já tinha passado de forma aprazível pelos olhos. Tinha fechado como chave de ouro com um monólogo fenomenal que faria qualquer amante do cinema colocar-se perante os tanques franceses para defender esta figura divina. E estraga-se tentando dar um toque artístico na altura em que bastava manter a classe, lançando no ar um desejo de revolta. Até ao fim acreditei que podia gostar do filme, e se terminasse a longa mediania com algo magnífico seria o suficiente. Mas tentar melhorar hora e meia da princesa americana que conquistou a Europa com planos desnecessários, só serve para desvanecer o efeito.
I would like to be remembered as someone who accomplished useful deeds, and who was a kind and loving person. I would like to leave the memory of a human being with a correct attitude and who did her best to help others.
Era uma vez uma menina chamada Grace. Por influência do tio descobriu os palcos e tornou-se actriz. Pela mão de Hitchcock tornou-se uma lenda. Pelo mão de Rainier tornou-se princesa. Sozinha, tornou-se divina. Não pensemos na realidade dos livros de História, ou nos mitos lançados pela imprensa cor-de-rosa, e olhemos para o conto de fadas que nos é trazido por Olivier Dahan. Estamos perante uma obra feita para marcar o legado da Princesa que a mostra como uma mulher com dúvidas e sujeta a imensa pressão, mas que, com a sua dedicação e os conselheiros certos, será capaz de enfrentar um exército desarmada. Uma farsa clara e assumida que merece o benefício da dúvida.
Como ela muito bem descreve a determinado momento do filme, “guerra é quando duas pessoas deixam de falar e começam a puxar o nariz uma à outra”. França estava em pé de guerra, com a Argélia como epicentro dos problemas. O espírito rebelde de Maio’58 continuava bem vivo e a fuga de impostos para o Mónaco parecia uma ofensa pelo que o governo do presidente e herói gaulês Charles De Gaulle exigiu ao Mónaco que cobrasse impostos pela França. O Príncipe Rainier recusou e a França com meio milhão de quilómetros quadrados ameaçou ocupar o principado de dois. Grace ainda não estava integrada com o seu novo posto e estava a considerar voltar a trabalhar com o realizador inglês quando teve uma chamada de atenção da realidade. O seu novo país estava cercado e se saísse por umas semanas para ser actriz, provavelmente não teria para onde voltar. Por isso, decide preparar-se para o papel mas importante da sua vida e garantir que a queda da independência monegasca não seja no seu tempo de vida. Também George VI esteve numa situação semelhante e teve direito a filme.
Principalmente por isso o filme desilude. Sabemos que a história dela tinha muito mais. Falam da excelente relação com a Cruz Vermelha e com o povo, mas omitem que as mulheres ganharam o direito de voto precisamente nesse período do cerco. Grace do Mónaco foi muito mais do que uma princesa. Se o antes faz parte da lenda de Hollywood, o durante podia ter sido muito melhor explorado. O outro ponto terrível do filme é o final. Já tinha passado de forma aprazível pelos olhos. Tinha fechado como chave de ouro com um monólogo fenomenal que faria qualquer amante do cinema colocar-se perante os tanques franceses para defender esta figura divina. E estraga-se tentando dar um toque artístico na altura em que bastava manter a classe, lançando no ar um desejo de revolta. Até ao fim acreditei que podia gostar do filme, e se terminasse a longa mediania com algo magnífico seria o suficiente. Mas tentar melhorar hora e meia da princesa americana que conquistou a Europa com planos desnecessários, só serve para desvanecer o efeito.
Título Original: "Grace of Monaco" (Bélgica, EUA, França, Itália, Suíça, 2014) Realização: Olivier Dahan Argumento: Arash Amel Intérpretes: Nicole Kidman, Tim Roth, Frank Langella, Parker Posey, Milo Ventimiglia, Paz Vega Música: Christopher Gunning Fotografia: Eric Gautier Género: Biografia, Drama, Romance Duração: 103 min. Sítio Oficial: https://www.warnerbros.co.uk/en/movies/grace-of-monaco |
2 comentários:
Custa-me a crer que tenham realmente considerado que isto poderia ser um bom filme, ainda para mais com a Kidman num estado já avançado de idade para poder dar corpo a uma personalidade como a Gracie.
cinemaschallenge.blogspot.com
Quem da idade certa teria o mesmo estatuto?
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