As férias deviam ser uma ocasião para relaxar, para conhecer novos lugares ou para passar tempo com quem nos é querido. Por vezes, fazendo todas estas coisas ao mesmo tempo. Quando se constitui uma família, o passar tempo é obrigatório, o viajar é opcional, o relaxar é impossível.
"Force Majeure/Turist", a mais recente proposta de Ruben Östlund, é sobre uma família em férias. O pai tirou alguns dias para estar com a família e vai com a mulher e o casal de filhos para os Alpes franceses. Um acontecimento stressante que lhes podia arruinar a vida, acaba por não ser nada além de uma história para contar. O pior é que a reacção de Tomas não agrada a Ebba e o casal vai entrar em conflito. A melhor forma de observar o filme é tentar não tomar partidos. Em princípio isso será impossível, em especial para quem tiver filhos. E claro que haverá sempre a guerra dos sexos, com homens e mulheres a tentarem justificar o seu semelhante. Esqueçam tudo isso e vejam simplesmente por todos os pontos de vista. Mas mesmo todos. Nem só do casal, nem só do quarteto. Claro que o foco principal será nas mentes de marido e mulher e o filme está estruturado dessa forma, mas há um total de nove perspectivas que seria interessante analisar. O ritmo do filme permite criar algumas ideias enquanto se assiste.
Uma perspectiva é da mãe que se acha senhora da razão e está tão furiosa com Tomas pelo seu comportamento como especialmente por ele não reconhecer o seu erro. Como mãe consegue lidar com os seus problemas pessoais ao mesmo tempo que toma conta das crianças, ainda que por vezes tenha explosões de mau humor em público. Normal para a sua situação. O pai não admite o que fez e parece esconder muito mais do que isso pois os seus esforços para resolver a questão são nulos, como se menosprezasse o que fez. Depois temos os filhos a lidar com as constantes discussões. Num país estranho e sem ninguém a quem recorrer, só se têm um ao outro. E há cenas em que pensamos quão solitário deve ser estar naquela situação e como podem apoiar alguém que lhes é querido enquanto a dor os corrói por dentro e não sabem o que dizer porque eles próprios precisam de ouvir que tudo vai ficar bem e não acreditam quando o ouvem dos pais. Finalmente, temos todos os outros. Os amigos de antes, os novos, os companheiros deles, até os funcionários do hotel. O que estará cada um deles a pensar? Qual será o efeito da presença de cada um deles? E de que forma a zanga do casal os afecta enquanto espectadores? São estas questão que são levantadas enquanto pensamos o que faríamos na posição deles. A paz de espírito deles não traz paz de espírito ao espectador que não conseguirá imaginar como reagiria a uma tragédia semelhante. É uma dúvida que persiste por muito tempo.
É raro haver um filme simplesmente para nos fazer pensar. Mais raro ainda um filme que nos queria fazer sentir simultaneamente mal com nós mesmos e a incerteza das nossas reacções humanas, e bem com a vida. Por isso é que esta proposta sueca deve ser vista com especial atenção em solitário e nunca em casal ou causará mais problemas do que resolverá.
Título Original: "Force Majeure" (Dinamarca, França, Noruega, Suécia, 2014) Realização: Ruben Östlund Argumento: Ruben Östlund Intérpretes: Johannes Kuhnke, Lisa Loven Kongsli, Vincent Wettergren, Clara Wettergren, Kristofer Hivju, Fanni Metelius, Karin Myrenberg, Brady Corbet Música: Ola Fløttum Fotografia: Fredrik Wenzel Género: Comédia, Drama Duração: 120 min. Sítio Oficial: http://www.magpictures.com/forcemajeure/ |
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