14 de janeiro de 2007

"Babel" por António Reis


De Marrocos ao México passando pelo Japão

Que o dinheiro não faz a felicidade aí está “Babel” para o comprovar. Iñarritu deixa-se seduzir pela possibilidade de contratar grandes actores, de filmar em lugares exóticos, ainda que mantenha a estrutura narrativa não cronológica que já tinha explorado em “Amor Cão” e “21 Gramas”. Como nos seus filmes anteriores as histórias cruzam-se com a particularidade de em Babel a geografia ser o factor mais variável. Um casal americano de férias em Marrocos à procura de alguma reconciliação no seu casamento em crise desconhece que na fronteira entre o México e os Estados Unidos os seus filhos menores estão perdidos no deserto e a mulher é atingida por um tiro de espingarda cujo ex-proprietário vive no Japão. Contada assim a história parece ter um sentido lógico embora de verosimilhança duvidosa. Mas o que é o cinema senão essa capacidade de nos surpreender e tornar possível o improvável.
Babel, é um filme desenraizado ao contrário do que sucedera com Amor Cão onde Iñarritu falava do seu México natal que conhecia bem. E o título mesmo atendendo à sua ironia é enganador. Nesta Babel não é a língua que separa os personagens nem é a cultura ou a civilização em que vivem. Os personagens estão perdidos dentro deles próprios.
Premiado em Cannes pela realização e pelo prémio ecuménico – aparentemente por trazer uma mensagem de que a humanidade é apenas uma e somos todos cidadãos de um mesmo mundo. Babel tem o pecado capital de apresentar um trailer que é um embuste. O trailer centra-se sobre o fait divers do filme - a hipótese de que seja um atentado terrorista contra cidadãos americanos num país árabe – tornado numa ficção política contemporânea, quando a intenção de Iñarritu seguramente está longe de assentar nesta tónica. Os problemas que o filme aflora mas não consegue nunca aprofundar são manifestamente relevantes: a emigração mexicana para os Estados Unidos, a divisão entre civilizações tecnológicas e culturas tradicionais, a disfuncionalidade familiar, a incomunicabilidade. Mas talvez não bastem temas profundos, e visões ecuménicas bem intencionadas, para transformar um filme interessante numa obra-prima. Se tudo está bem quando acaba bem, de um cinema de autor esperava-se soluções de génio menos convencionais. Nas mãos de produtores americanos o filme faz as concessões que a indústria quer para vender. Ser bom e estar bem feito não chega.



Título Original: "Babel" (EUA, México, 2006)
Realização: Alejandro González Iñárritu
Intérpretes: Brad Pitt, Cate Blanchett, Boubker Ait El Caid, Gael García Bernal, Kôji Yakusho
Argumento: Guillermo Arriaga, Alejandro González Iñárritu
Fotografia: Rodrigo Prieto
Música: Gustavo Santaolalla
Género: Drama
Duração: 142 min.
Sítio Oficial: http://www.paramountvantage.com/babel/

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