31 de janeiro de 2007

"Little Children" por António Reis

Uma comédia dramática sobre a natureza humana com Freud em fundo

Sarah (Kate Winslet) é uma “desperate housewife” que cuida da filha. Richard (Gregg Edelman), o marido, é um bem-sucedido vendedor de mentiras – é publicitário – que descobriu a forma de satisfazer as suas fantasias sexuais por via Internet. Brad (Patrick Wilson) é um candidato a advogado que pela terceira vez tenta passar no exame da Ordem, enquanto cuida do filho pequeno. Kathy (Jennifer Connelly) tem uma absorvente carreira de documentarista televisiva. Ronnie (Jackie Earle Haley) é um pedófilo que acabou de cumprir a pena, mas a quem a vizinhança não perdoa o passado. Larry é um polícia reformado que compulsivamente que se arroga o papel de justiceiro protector da comunidade. São estes os personagens que compõem o puzzle da história de “Pecados Íntimos”. Porque Sarah começa a apaixonar-se por Brad e isso vai ser o detonador desta brilhante comédia negra, dramática quanto baste, de um moralismo cínico, que consegue manter a narrativa a um passo da genialidade, mesmo quando está no limiar da vulgaridade.
O título tanto remete para o fio condutor da história, as crianças, porque é através delas que os personagens se encontram, se perdem e se redimem: o pedófilo é uma criança grande, o menino da sua mãe, Sarah apaixona-se por Brad quando passeam no jardim infantil e na piscina, Richard tem um fraquinho por Lolitas digitais, o polícia tem a consciência pesada por ter morto acidentalmente um pré-adolescente. Mas “Little Children” é também, como Freud explica, a consciência de que o que somos em adultos – os nossos medos, desejos, fantasmas – são o resultado da nossa infância. Nesta trama os pecados são íntimos, mas os vícios são privados.
As “Desperate Housewifes” reúnem-se para discutir a moral sexual de Madame Bovary, Brad consegue entrar no círculo masculino dos jogadores de basebol fora de horas, o ex-polícia confessa a sua frustração acumulada abandonado por todos e em busca de uma tábua de salvação, e até o ex-pedófilo procura uma namorada para ter uma “vida normal”. Quando o pecado íntimo e a inversão dos valores parece ser a solução dos personagens, descobre-se afinal que o destino voltou a por tudo em ordem e que as virtudes públicas se manterão a bem da coesão social. Entre imagens memoráveis que o filme contém atente-se na cena da histeria colectiva na piscina (pedófilo na água), as cenas de Brad e Sarah nas águas furtadas, a erupção de Sarah na piscina com o seu fato-de-banho vermelho ou as mulheres reunidas a discutir feminices, apenas algumas das solução fabulosas encontradas por Todd Field. Tecnicamente as soluções de elipses da narrativa e da contenção da história por via de um narrador com um tacto absolutamente brilhante de humor fazem deste filme um must. Perder este filme é pecado.





Título Original: "Little Children" (EUA, 2006)

Realização: Todd Field
Intérpretes: Kete Winslet, Jennifer Connelly, Jackie Earle Haley, Gregg Edelman, Patrick Wilson
Argumento: Todd Field, Tom Perrotta
Fotografia: Antonio Calvache
Música: Thomas Newman
Género: Drama/Romance
Duração: 130 min.
Sítio Oficial: http://www.littlechildrenmovie.com/

1 comentários:

Anónimo disse...

É um filme do melhor que há! Grande review!