A tradição diz que de vez em quando a corrida aos Oscares não tem títulos muito fortes, e nesses anos costuma aparecer um filme melhorzinho dos Coen para levar os troféus. Tem funcionado desde "Fargo" até agora, como se viu no sobrevalorizado "No Country For Old Men", mas este ano não foi tão mau como seria de supor. Mesmo assim a sua produção indie de 2009 ainda esteve nomeada para dois Oscares. Nos anos 80 e 90, os Coen eram respeitados como cineaastas (dois dos meus títulos preferidos "The Hudsucker Proxy" e "O Brother, Where Art Thou?" são desse tempo). Agora acho que são nomeados apenas porque sim e foi isso que aconteceu com "A Serious Man".
Larry é um judeu vulgar. Tem uma família, um emprego, o seu único problema é o inútil irmão acampado no sofá. Subitamente o mundo cai-lhe em cima. Começam as situações complicadas como as cartas anónimas que o denigrem profissionalmente, um aluno que ou o suborna ou o acusa de descriminação, a filha que o rouba para uma operação de cirurgia estética, o filho que é perseguido por um brutamontes por não ter pago a erva que consome, a mulher que o vai deixar, a vizinha que se exibe, os rabinos que o aconselham de forma inútil e o dentista que o deixa com novas dúvidas. No meio disso tudo ser posto fora de casa, o irmão ser detido e a antena da televisão estar avariada não parecem grande incómodos. Claro que pagar quartos de hotel, honorários de advogados, fianças, funerais, e um bar mitzvah sai caro, mas de alguma forma resolverá aquilo.
Num filme sem efeitos especiais e onde o importante são as pessoas, as interpretações são o ponto fundamental. Michael Stuhlbarg é uma agradável revelação como protagonista e aguenta bem um filme muito sensível. Não é perfeito, mas correspondente perfeitamente ao que era pretendido. Fred Melamed que tem trabalhado com Woody Allen tem alguns dos grandes momentos do filme. Finalmente umas palavras sobre Richard Kind: repete a personagem do costume - infeliz, injustiçado, ignorante - e já nos deixa indiferentes depois de tanto do mesmo. Além disso aqui era dispensável.
É mais um regresso dos Coen ao mundo judaico que tão bem conhecem. Normalmente inserem no filme uma personagem judia e é bem recebida, desta vez tentaram globalizá-lo e não funcionou tão bem. Pode ter funcionado perante a Academia onde abundam os judeus, mas em Portugal não se verifica o mesmo. Não é drama quando tenta ser comédia negra, e não é comédia porque grande maioria das situações não têm graça. Há vários momentos bons, mas nunca geniais. Daria para tirar daqui uma boa curta-metragem, mas tem mais de uma hora de treta.
Título Original: "A Serious Man" (EUA, França, Reino Unido, 2009) Realização: Ethan Coen, Joel Coen Argumento: Ethan Coen, Joel Coen Intérpretes: Michael Stuhlbarg, Richard Kind, Fred Melamed, Sari Lennick Fotografia: Roger Deakins Música: Carter Burwell Género: Drama Duração: 106 min. Sítio Oficial: http://filminfocus.com/focusfeatures/film/a_serious_man |
1 comentários:
Concordo. É de facto uma injusta nomeação para melhor filme, ocupando o lugar de outros que mereciam muito mais, como o caso de A Single Man.
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