Há muito tempo, mas nesta mesma galáxia, vi um filme chamado “AntiTrust”. Apesar do seu elenco de renome, foi um tema demasiado marginal para ser um sucesso e apenas funcionou com um pequeno nicho. Aquele nicho dos adolescentes visionários que adivinhavam o potencial da informática antes dos chavões e da liberalização fazerem com que qualquer um se achasse intendido no assunto. Era a época das dotcom e dos sonhos computadorizados, a época em que um jovem numa garagem podia fazer toda a diferença. Era eu em potência.
Os anos passaram, a informática superou as expectativas de qualquer um, intrometendo-se por completo na vida das pessoas e acabando com a individualidade. As startups e o empreendedorismo tornaram-se vocabulário corrente, provando que a tal ideia teria de vir cada vez mais cedo, enquanto eu caminhava para velho. O sonho de fazer aquela descoberta revolucionária que mudaria o mundo foi-se esbatendo, mas não morreu.
Doze anos depois, vivemos num novo paradigma. Parece que já foi tudo inventado, que não há mercado para novas ideias e novos talentos, e, quando há, alguém chega lá antes de nós. Mas é também a era da falta de privacidade, das empresas multinacionais malignas, dos computadores e da rede quase como um inimigo da Humanidade e da individualidade. A maldita obrigação de estar sempre online e de manter uma amizade virtual com pessoas que não víamos desde o infantário e cuja vida seguiu um rumo diferente, cujas fotos de família não nos poderiam interessar menos e no entanto nos aparecem na página de entrada.
Há muitas formas de evitar isso. Gerir bem as permissões. Simplesmente ignorar as pessoas. Não ter uma presença online. Não falta por onde escolher. Mas de uma forma ou outra, acabaremos sempre ligados e teremos de confiar em alguma das coorporações. A única que se vai safando, apesar do ocasional escândalo, das legislações nacionais em constante desafio, da concorrência feroz, é a Google. Conhecida e usada por todos, odiada por praticamente ninguém, é ainda hoje um bastião dos valores das primeiras empresas tecnológicas, dos jovens que numa garagem ousaram sonhar com um mundo melhor, das empresas que estão focadas no cliente e nos funcionários e não apenas no lucro. Doze anos depois e com a informática de consumo generalizada, “Antitrust” continua a ser um filme para uma minoria, mas um filme sobre entrar na Google, aplica-se a vários milhões mais. É um sonho que mesmo quem não tem, percebe perfeitamente.
“The Internship” não é um anúncio à Google. Pode ter o apoio oficial - não só usam a marca exaustivamente como o patrão Sergey Brin tem um cameo - mas não seria nunca a forma como o G mais famoso do mundo se apresentaria. Não é fiel ao que será o processo de selecção Google ou qualquer empresa. É uma comédia que tem lugar na Google, como algumas tiveram em busca dos hambúrgueres White Castle, e imensas passam por um Starbucks ou McDonalds. De tão conhecida que a Google é, não é publicidade encapotada, é um cenário familiar a todos. Como comédia, pode ser semelhante a trabalhos anteriores dos envolvidos actores e realizador envolvidos, o que conta é a mensagem de vida. Dois vendedores com quarenta anos vêem-se a ter de começar a vida do início depois de a sua empresa fechar. Se vão começar de baixo, o melhor é estarem perto do elevador e vão tentar entrar na Google, a melhor empresa do mundo, a empresa do futuro. A sua visão pode ser antiga, mas não são retrógrados. Estão lá para aprender tanto como para ensinar e vão deixar uma marca.
Por sorte consegui apreciar completamente o filme. Tanto compreendo uma geração que se sente defraudada pelas expectativas e teme o que a tecnologia trará, como a geração que vive num mundo electrónico e sonha com um futuro brilhante que se resume a ter um emprego. Tão depressa percebo a referência cinematográfica de quem viveu os 80, como a ausência de referências culturais da geração que nasceu nos 90. Percebo que o filme foi escrito por pessoas que têm uma visão um bocado limitada, só viram um dos lados da questão - o lado velho - mas ao menos esforçaram-se em construir um produto que também é bem recebido pelos jovens. Claro que as falhas são óbvias para quem sabe do que falam, mas como dentro do tema das tecnologias nenhum filme consegue ser correcto e envolvente, prefiro um que agarra o espectador desensinando pouco, a um que agarre baseado em mentiras ou um que seja cientificamente correcto e não interesse a ninguém.
Estando a chegar a época de férias, deixo uma forte recomendação para que seja o primeiro visionamento nesse período de ócio. Dá para por momentos nos sentirmos mais jovens e recordar o que é a Googleness, aquela capacidade de fazer o mundo avançar em harmonia. É a altura ideal para fazer algo de louco e disruptivo. Ou ser preguiçoso, ir ver outro filme e esperar que isto passe. Depende dos efeitos e da força de vontade em cada um.
Os anos passaram, a informática superou as expectativas de qualquer um, intrometendo-se por completo na vida das pessoas e acabando com a individualidade. As startups e o empreendedorismo tornaram-se vocabulário corrente, provando que a tal ideia teria de vir cada vez mais cedo, enquanto eu caminhava para velho. O sonho de fazer aquela descoberta revolucionária que mudaria o mundo foi-se esbatendo, mas não morreu.
Doze anos depois, vivemos num novo paradigma. Parece que já foi tudo inventado, que não há mercado para novas ideias e novos talentos, e, quando há, alguém chega lá antes de nós. Mas é também a era da falta de privacidade, das empresas multinacionais malignas, dos computadores e da rede quase como um inimigo da Humanidade e da individualidade. A maldita obrigação de estar sempre online e de manter uma amizade virtual com pessoas que não víamos desde o infantário e cuja vida seguiu um rumo diferente, cujas fotos de família não nos poderiam interessar menos e no entanto nos aparecem na página de entrada.
Há muitas formas de evitar isso. Gerir bem as permissões. Simplesmente ignorar as pessoas. Não ter uma presença online. Não falta por onde escolher. Mas de uma forma ou outra, acabaremos sempre ligados e teremos de confiar em alguma das coorporações. A única que se vai safando, apesar do ocasional escândalo, das legislações nacionais em constante desafio, da concorrência feroz, é a Google. Conhecida e usada por todos, odiada por praticamente ninguém, é ainda hoje um bastião dos valores das primeiras empresas tecnológicas, dos jovens que numa garagem ousaram sonhar com um mundo melhor, das empresas que estão focadas no cliente e nos funcionários e não apenas no lucro. Doze anos depois e com a informática de consumo generalizada, “Antitrust” continua a ser um filme para uma minoria, mas um filme sobre entrar na Google, aplica-se a vários milhões mais. É um sonho que mesmo quem não tem, percebe perfeitamente.
“The Internship” não é um anúncio à Google. Pode ter o apoio oficial - não só usam a marca exaustivamente como o patrão Sergey Brin tem um cameo - mas não seria nunca a forma como o G mais famoso do mundo se apresentaria. Não é fiel ao que será o processo de selecção Google ou qualquer empresa. É uma comédia que tem lugar na Google, como algumas tiveram em busca dos hambúrgueres White Castle, e imensas passam por um Starbucks ou McDonalds. De tão conhecida que a Google é, não é publicidade encapotada, é um cenário familiar a todos. Como comédia, pode ser semelhante a trabalhos anteriores dos envolvidos actores e realizador envolvidos, o que conta é a mensagem de vida. Dois vendedores com quarenta anos vêem-se a ter de começar a vida do início depois de a sua empresa fechar. Se vão começar de baixo, o melhor é estarem perto do elevador e vão tentar entrar na Google, a melhor empresa do mundo, a empresa do futuro. A sua visão pode ser antiga, mas não são retrógrados. Estão lá para aprender tanto como para ensinar e vão deixar uma marca.
Por sorte consegui apreciar completamente o filme. Tanto compreendo uma geração que se sente defraudada pelas expectativas e teme o que a tecnologia trará, como a geração que vive num mundo electrónico e sonha com um futuro brilhante que se resume a ter um emprego. Tão depressa percebo a referência cinematográfica de quem viveu os 80, como a ausência de referências culturais da geração que nasceu nos 90. Percebo que o filme foi escrito por pessoas que têm uma visão um bocado limitada, só viram um dos lados da questão - o lado velho - mas ao menos esforçaram-se em construir um produto que também é bem recebido pelos jovens. Claro que as falhas são óbvias para quem sabe do que falam, mas como dentro do tema das tecnologias nenhum filme consegue ser correcto e envolvente, prefiro um que agarra o espectador desensinando pouco, a um que agarre baseado em mentiras ou um que seja cientificamente correcto e não interesse a ninguém.
Estando a chegar a época de férias, deixo uma forte recomendação para que seja o primeiro visionamento nesse período de ócio. Dá para por momentos nos sentirmos mais jovens e recordar o que é a Googleness, aquela capacidade de fazer o mundo avançar em harmonia. É a altura ideal para fazer algo de louco e disruptivo. Ou ser preguiçoso, ir ver outro filme e esperar que isto passe. Depende dos efeitos e da força de vontade em cada um.
Título Original: "The Internship" (EUA, 2013) Realização: Shawn Levy Argumento: Vince Vaughn, Jared Stern Intérpretes: Vince Vaughn, Owen Wilson, Rose Byrne, Aasif Mandvi, Max Minghella Música: Christophe Beck Fotografia: Jonathan Brown Género: Comédia Duração: 119 min. Sítio Oficial: http://www.theinternshipmovie.com |
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