2 de dezembro de 2012

"Tengo Ganas de Ti" por Nuno Reis

A juventude é um período em que tudo é possível, tudo é permitido, e o tempo funciona ao contrário. A juventude é um estado de espírito. "Tengo Ganas de Ti" parecia um vulgar romance juvenil. Vê-lo assim é possível, mas há muito mais por trás.
A primeira coisa a fazer é desligar o cérebro. A plausibilidade é rara. O acaso e a sorte movem-se por todo o lado. Todavia, com um olhar menos crítico, as situações que essas "liberdades" narrativas permitem, podem ser apreciadas.

A história parece familiar. Rapaz e rapariga gostam um do outro. Namoram, acabam e não se voltam a ver. Os amigos acham que eles deviam continuar juntos, mas a simples referência a esse facto basta para ele a esquecer e ir jantar com a ladra que encontrou pelo caminho e que o andava a perseguir discretamente. Subitamente é uma história muito mais complexa onde além de amores desencontrados e relações impossíveis, há um fantasma (não no sentido literal) do passado a assombrar um grupo de amigos. E o protagonista pode bem ser esquizofrénico pois gosta muito de falar com esse fantasma não-literal.

Por vezes é uma vulgar história de amor, outras é o retrato possível de uma geração demasiado jovem para conseguir lidar com o fim da vida. Ao mesmo tempo é sobre adolescentes a procura de afirmação e que recorrem às drogas para serem livres, acabando por entrar noutra prisão. E é sobre amizade incondicional e uma obrigação eterna que se tem perante aqueles a quem se jurou amor eterno. E é sobre fracassar a defender essas pessoas, tanto as que nos deixaram como as que nós deixamos. Porque ninguém consegue fazer tudo e estar em todo o lado.
É esta absurda quantidade de ideias que se cruzam no filme. Uma simples comédia romântica com potencial, que se desgraça a partir do momento em que tem mais fios condutores da narrativa do que personagens. Tenta ser uma obra completa e falha redondamente, desperdiçando um bom trabalho de realização em apenas algumas cenas memoráveis. Mas será assim tão mau?
Até que tudo faz sentido: apesar de o programa da Cinefiesta não ser claro nesse ponto, isto é uma sequela! É preciso ver "Tres Metros Sobre el Cielo" para saber do que falam, para entrar na história à primeira, para conhecer as personagens e o que lhes vai na mente. Só assim, como entre velhos amigos, todos os silêncios passam a pertencer a uma história maior. Continuam a ser demasiados problemas, mas quem vê sente-os como seus, sabe como lidar com eles.

"Tengo Ganas de Ti" pega na grande história de amor que os adolescentes espanhóis queriam saber como terminaria, e transporta-a para o mundo real. Onde não há finais felizes só porque se ama.
É uma chamada à realidade, não o típico romance cor-de-rosa. Com um bocado mais de cuidado no argumento podia ter ficado um bom filme.
Tengo Ganas de TiTítulo Original: "Tengo Ganas de Ti" (Espanha, 2012)
Realização: Fernando González Molina
Argumento: Ramón Salazar (livro de Federico Moccia)
Intérpretes: Mario Casas, María Valverde, Clara Lago, Álvaro Cervantes, Marina Salas, Andrea Duro
Música: Manel Santisteban
Fotografia: Xavi Giménez
Género: Drama, Romance
Duração: 124 min.
Sítio Oficial: http://www.tengoganasdetipelicula.com

2 comentários:

João Pinto disse...

A tua genorosidade para com este filme é incrível. Para mim foi o pior da CineFiesta e acho que é um dos piores filmes espanhóis que já vi. É claro que tem bons valores de produção, mas a história não tem pés nem cabeça. E a bela e inocente Camino é tão mal aproveitada....

Nuno disse...

Fui generoso porque dei o benefício da dúvida de não ter visto o primeiro.
Acho que tentou fazer demasiado e tem um final forçado, mas como não tinha expectativas não me desiludiu.