4 de julho de 2004

O tempo da vergonha


Não tenho tido tempo disponível para falar de cinema, devido a imperativos de trabalho, mas não posso, como faço por vezes aqui, de deixar de exprimir o meu espanto e revolta quando vejo que a nossa televisão bateu definitivamente no fundo: como é que é possível, em televisão, e ainda por cima naquela paga pelos contribuintes (sim, a RTP), termos um brasileiro a cantar o hino português ao som de uma guitarra tocada pelo filho, ou então assistir a um um "jornalista" que compara, em plena baixa lisboeta, um grupo de 3 mil gregos a fazer compras e a afogarem-se em cerveja, com a festividade vivida no 25 de Abril de 1974. Acho que basta, que chega de idiotice e de idiotas pagos pelos contribuintes. Se a intenção era encerrar o canal do Estado, que o fizessem, porque com exemplos destes é que o País não chega a lado nenhum.


3 comentários:

Anónimo disse...

Concordo por completo!!! Isto está cada vez pior mesmo. Já nem a RTP se safa!!

Miguel

PS: desculpem pessoal não tar registado mas o pc tá a dar erro...

Anónimo disse...

Havendo inúmeras razões a apontar aos (nossos) canais públicos, não deveríamos cair na tentação injusta da crítica pretensiosa e arrogante.


Tendo assistido aos momentos que descreve no seu post, gostaria de deixar os seguintes comentários:

1) O senhor "brasileiro" a que se refere, apesar do sotaque, nasceu em Portugal e tem sido um dos maiores responsáveis pela disseminação da cultura Portuguesa num país tão fechado a esse nível como é o Brasil (podendo-se questionar o conteúdo e a forma, não será de desprezar eventuais méritos);

2) Na minha opinião, desde que com respeito, não vejo nenhuma razão objectiva para que, na televisão ou seja onde for, uma pessoa, independentemente da nacionalidade, não possa cantar e/ou tocar o nosso hino;

3) Quanto à comparação que crítica, perpetrada por um jornalista do nosso primeiro canal, não tendo sido de facto a mais feliz, em rigor e na contextualização explícita do senhor não é completamente despropositada nem motivo para colocar a sua categoria profissional entre aspas: comparava-se (unicamente) a postura "festiva", como referiu, de um grupo de pessoas adeptas da equipa grega à que ocorreu (em termos de manifestações de alegria) no dia 25 de Abril de 1974.

4) Por último, não posso deixar de lamentar que tenha considerado e aqui neste excelente blog explicitado a sua opinião de que todos os "3 mil gregos" estariam "a fazer compras e a afogarem-se em cerveja". Mesmo que não tivesse amigos e familiares nesse grupo a que se refere, eu não arriscaria uma generalização de tamanha sobranceria.

Muito obrigada,
Leonor L. Prath

Anónimo disse...

Aceito sem problemas que tenha a opinião de que as minhas críticas são arrogantes. Aceito porque reparo que a senhora tem conceitos muito abrangentes de vida. Porque repare:

1) Questiona o conteúdo e a forma do trabalho feito pelo senhor "português", quando acho inconcebível que o faça, porque esse conteúdo não deveria ser posto em causa.

2)Qualquer pessoa pode, efectivamente cantar o hino português com o sotaque que bem entender. Retira-se sim toda a carga simbólica e histórica quando é feito durante um espectáculo televisivo e quando não é cantado com as prerrogativas definidas para o fazer (talvez em português de Portugal).

3)Quanto às aspas de "jornalista", elas também se aplicariam a "mim", porque jornalista enquanto profissional de comunicação social pressupõe uma formação nessa área, e visto que a pessoa em causa não a tem, não o qualifico como profissional da área. E admito que para si o 25 de Abril de 1974 não lhe diga nada: a sua existência enquanto momento histórico, e sem qualquer tipo de ideias associadas ao bom ou mau que ele trouxe para o país, deve ser, de qualquer modo, respeitado.

4)Por último, admito que não fui completamente correcto: não estavam 3000 gregos a fazer compras e a afogarem-se em cerveja. Foi uma descrição exagerada que me aborrece não ter entendido. De facto, não seriam 3000, seriam mais, e obviamente que não estavam todos a fazer compras e a refrescarem-se. Foi uma descrição, obviamente e propositadamente exagerada, mas nunca em tom insultuoso ou desrespeitoso para com o grupo helénico que se encontrava cá a festejar. O tom deste post concentrou-se essencialmente no desrespeito pelos símbolos da pátria e pela maneira como este preciso momento histórico foi mal-tratado na situação em concreto.

Obrigado pela participação e pela visita

Ricardo Clara