Saramago adaptado em Enemy
A genialidade de José Saramago não se mede apenas na literatura, mas também na capacidade de atrair realizadores de múltiplas origens que não resistem ao apelo de adaptar os seus textos.
Com projectos mais falhados como “A Jangada de Pedra” de George Sluizer ou super-produções como “Blindness” de Fernando Meirelles, passando por incursões de “A Flor Mais Grande do Mundo” ou da longa-metragem de António Ferreira "Embargo”, a ficção de Saramago tem ainda muito para ser explorada. Em Sitges, “Enemy” de Denis Villeneuve – conhecido em Portugal por “Incendies” que foi nomeado a Oscar – conquistou o Méliès d‘Argent para melhor filme fantástico europeu do festival.
Baseado em “O Homem Duplicado” e contando com uma dupla soberba interpretação de Jake Gyllenhaal, “Enemy” constrói-se nesse conflito de um homem que descobre incrédulo um outro Eu, um clone com uma outra existência, um outro emprego, uma outra vida familiar.
Num crescendo de intensidade dramática onde Gyllenhaal cria dois personagens de temperamentos diferentes, cedo se perde qual é o genuíno eu e o seu alter-ego. Da dificuldade em admitir uma existência duplicada, até ao desejo voyeurista de saber como será esse outro eu, vai um pequeno passo. E daqui até ao desejo de mudar a vida e de ocupar o lugar do outro/ele próprio, apenas uma pequena fronteira o separa da loucura.
O fantástico é ainda mais assustador quando se cria a partir de uma situação plausível. De uma perda progressiva das rotinas a que nos habituamos. Afinal nada está seguro, tudo é incerto.
Num festival onde o terror costuma ser a nota dominante, aparecer um filme que obriga o espectador a reflectir sobre o sentido da vida é uma autêntica pedrada no charco da programação. Mas o prémio e os aplausos do público provam que há espectadores inteligentes para filmes inteligentes.
A genialidade de José Saramago não se mede apenas na literatura, mas também na capacidade de atrair realizadores de múltiplas origens que não resistem ao apelo de adaptar os seus textos.
Com projectos mais falhados como “A Jangada de Pedra” de George Sluizer ou super-produções como “Blindness” de Fernando Meirelles, passando por incursões de “A Flor Mais Grande do Mundo” ou da longa-metragem de António Ferreira "Embargo”, a ficção de Saramago tem ainda muito para ser explorada. Em Sitges, “Enemy” de Denis Villeneuve – conhecido em Portugal por “Incendies” que foi nomeado a Oscar – conquistou o Méliès d‘Argent para melhor filme fantástico europeu do festival.
Baseado em “O Homem Duplicado” e contando com uma dupla soberba interpretação de Jake Gyllenhaal, “Enemy” constrói-se nesse conflito de um homem que descobre incrédulo um outro Eu, um clone com uma outra existência, um outro emprego, uma outra vida familiar.
Num crescendo de intensidade dramática onde Gyllenhaal cria dois personagens de temperamentos diferentes, cedo se perde qual é o genuíno eu e o seu alter-ego. Da dificuldade em admitir uma existência duplicada, até ao desejo voyeurista de saber como será esse outro eu, vai um pequeno passo. E daqui até ao desejo de mudar a vida e de ocupar o lugar do outro/ele próprio, apenas uma pequena fronteira o separa da loucura.
O fantástico é ainda mais assustador quando se cria a partir de uma situação plausível. De uma perda progressiva das rotinas a que nos habituamos. Afinal nada está seguro, tudo é incerto.
Num festival onde o terror costuma ser a nota dominante, aparecer um filme que obriga o espectador a reflectir sobre o sentido da vida é uma autêntica pedrada no charco da programação. Mas o prémio e os aplausos do público provam que há espectadores inteligentes para filmes inteligentes.
2 comentários:
Só uma correcção: Incendies não ganhou o Óscar. Foi nomeado, mas a estatueta foi para "In a Better World", de Susanne Bier.
É o que dá fazer o texto em modo offline. Obrigado pela correcção.
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