6 de outubro de 2013

Glee - Season 4

Os clips utilizados neste artigo são apenas para dar uma ideia do que se passa no episódio e da qualidade musical referida. Nâo são clips da série e não são alojados por este blog pelo que a qualqer momento podem ser retirados da rede. O idela é verem os episódios referidos quando passarem na televisão.

O fim de um ciclo

Quando a terceira temporada de Glee terminou, o tema parecia esgotado. Por isso há um ano publiquei o texto “Obrigado pela Musica”. A vitória nos Nacionais (que os argumentistas adiaram ao máximo) estava atingida. Metade do grupo ia partir para novos desafios mais ou menos relacionados com a música. A ideia que podemos ser nós próprios, ter amigos e estar integrados era do conhecimento de todos. E agora?
Com a quarta temporada seria preciso refundar o coro Novos Rumos e dar um novo rumo à série. O truque foi não inventar demasiado e fazer aquilo que fazem melhor. Exactamente a mesma história, praticamente as mesmas personagens.

Como manter as personagens

O que "Glee" tem de melhor não é a música, é aquele humor cáustico de Sue Sylvester. Especialmente quando o usa contra a própria série. Num episódio em que Kurt vai visitar a McKinley High, Sue diz-lhe que só os falhados voltam ao secundário. Repete-o mais tarde a Santana. Seria o que os detractores da série diriam ao ver quantas vezes Kurt, Santana, Rachel, Mercedes e Mike os visitam. Pior só mesmo Finn cuja vida não parece sair daquela escola. Mas isso será outro tópico.
A verdade é que “Glee” não seria a mesma coisa sem as vozes que nos acostumamos a ouvir. E enquanto se mantém no secundário a treinar uma nova geração, tinha uma oportunidade para seguir o caminho traçado muitos anos antes por “Fame”. As personagens iriam avançar para a vida adulta. O sair de casa, o perseguir um sonho e uma carreira, o fracasso das expectativas e o fim dos amores que julgaram e juraram eterno. Em comum: serem tópicos que as séries para adolescentes preferiam evitar. Esta temporada terá muito disso. E bullying, e atentados, e amores virtuais, problemas de aprendizagem e de alimentação... Todos os temas que uma série convencional normalmente roça num episódio, aqui dão pano para mangas. E sempre com personagens que vão amadurendo em vez de serem iguais ao que eram no início. Mesmo os adultos estão ainda numa fase de crescimento e aprendizagem. O seu regresso não só inspira os novos elementos como ajuda do ponto de vista mental. Mais do que ídolos, são os seus semelhantes e estão lá fora, na selva, onde continuam a respeitar e a exibir com orgulho os valores que o Novos Rumos lhes deu.

As novas personagens

Quatro novas vozes apareceram na McKinley nesta época. Demoraram quase toda a temporada a entenderem-se, e serão a base que levará a série em frente quando todos os originais tiverem partido.

Wade/Unique
Não é uma nova personagem. Já a conhecemos na terceira temporada onde visitou a McKinley em busca de Mercedes e Kurt para pedir conselho. O conselho foi tão bom que derrotou Rachel e se sagrou a melhor cantora nos nacionais, mas mudou depressa de escola. É que Unique nasceu um rapaz, mas sempre se sentiu de sexo feminino. A sua afirmação foi encorajada pelos Novos Rumos e mudou-se em busca de um lugar onde se sentisse bem com quem é. Vai demorar um pouco a consegui-lo.
Depois de nos acostumar a deficientes que dançam, a casais homossexuais bem-vindos em actividades lúdico-desportivas, e uma cheerleader com síndroma de Down, a última barreira seria a transsexualidade. Pois está conseguida e foi desenvolvida de forma incrível.

Kitty
Esta cheerleader entrou no coro através dum musical e acabou por ficar por um amor que pouco durou. O seu jogo duplo entre Sue e Schuester torna-a um relativo mistério que traz intriga à narrativa. Claro que logo outros elementos começam a trabalham em ambas as equipas, como vimos noutras temporadas, mas esta é a original e é má, ou pelo menos parece ser, pois na verdade compensa-o sendo quem mais fará pelo outros em diversas ocasiões.

Jake Puckerman
Há um novo Puckerman na escola. Meio-irmão do conhecido penteado de moicano, tem um temperamento “complicado” e, no entanto, é ele quem primeiro conquista a miúda mais cobiçada do ano. No Novos Rumos vai passar por uma dolorosa aprendizagem que decerto será muito próxima da que o irmão teve. Para não dizerem que é uma cópia da personagem, este não tem a mesma graça e, aparte a explosão nas audições, é de trato mais fácil para todos.

Marley
Tinha a missão impossível de fazer esquecer a estrela da série. Foi atirada às feras cantando em simultâneo com a anterior estrela e não correu mal. Conseguiria estar à altura de Rachel Berry? Apesar de ao princípio não me ter convencido, a verdade é que depressa surpreendeu. É demasiado ingénua para se adorar, mas é verdadeira, boa pessoa e tem excelente voz. Como a série não está centrada nela - Lea Michele não sai de cena tão cedo - vão aguentando o centro das atenções e o foco das câmaras.

Ryder
Chegou à série como vencedor do “Glee Project” tendo por isso pressão para fazer algo de excepcional. O anterior vencedor ex-aequo, Samuel Jansen, não teve um papel muito promissor (Joe Hart), mas como se mantém na série é um emprego relativamente seguro. E Damian McGinty Jr. (sim, o irlandês) que empatou com ele e se ficou praticamente pelos sete episódios do prémio, causou muito boa impressão. O caso mais incrível foi Alex Newell que empatou no segundo lugar e além dos dois episódios que lhe deram, teve direito a destaque na nova temporada (é Unique). Na segunda edição do concurso Blake Jenner também recebeu sete episódios e a personagem além de chegar tarde e ameaçar deixar o clube, ficou no elenco regular. Com a típica carinha de quem vai roubar muitos corações na série e entre espectadoras, foi ganhando protagonismo até se tornar algo muito próximo de uma figura de proa nesta nova geração.

Katie
Só uma nota para a personagem virtual que vai deixar muita gente confusa. A liberdade do anonimato online permitiu aos escritores da série criarem alguém que se distingue de todos. Mesmo depois de ter um rosto, Katie continuará a ser uma peça-chave da narrativa, como se houvesse um lugar vago à espera de algo ou alguém mais.

A mesma história

Jake é irmão de Noah (para quem não se lembra, esse é o nome próprio de Puck) e muito parecido com ele. Kitty idolatra Quinn e tal como ela é chefe das cheerleaders e do grupo cristão. Há um breve caso entre ambos.
Finn recruta Ryder dizendo que tal como ele era um jogador de futebol, era um aluno de C- que sabia ser capaz de melhor e vamos descobrir que são ambos bateristas. Marley canta com Rachel no primeiro episódio e torna-se o grande destaque do Novos Rumos no concurso (no mau sentido, mas mesmo assim). Não será de estranhar se Marley e Ryder acabarem juntos.
Jake e Ryder tornam-se grandes amigos, Kitty sabota Marley sempre que possível, mesmo que acabe por se preocupar com ela. Tal como vimos na primeira temporada com os seus antecessores.
Até aqui tudo bem. Apesar da óbvia falta de criatividade, disfarçaram minimamente de forma a não parecer uma repetição. Além disso o que fazem dentro do programa depende exclusivamente dos argumentistas. Mas pode ter havido...

...demasiadas coincidências

Que me desculpem os jovens que andam a dizer que o amor é lindo e que Blake Jenner e Melissa Benoist terem-se encontrado na série foi obra do destino. Não há coincidências e a “nova Rachel” ter-se apaixonado na vida real pelo “novo Finn” pode ser manobra publicitária. Até porque as revistas da especialidade dizem que há casamento para breve e, se eles fossem mesmo seguidores da série, saberiam que são demasiado jovens para tal decisão. Isso foi-nos dito até ao último episódio desta temporada. Claro que podem preferir casar para os deixarem em paz e não serem os novos namoradinhos da televisão. Claro que isto pode ser mesmo o Amor e o casamento o próximo passo a dar, mas desconfio que houve empurrões da produção. Se foi para desviar as atenções de Cory Monteigh durante a desintoxicação, óptimo. Recordo que a série o apoiou nos momentos maus e o afastou para que se pudesse redescobrir. Mas temo muito que estejam a brincar com os sentimentos dos jovens.
Mas deixemos esse tipo de observações para as revistas da especialidade cor-de-rosa e foquemo-nos na série musical e como surgiu o drama inesperado.

Quando a realidade se intromete na ficção

Antigamente uma série teria de se adaptar à realidade quando uma actriz engravidava, ou quando alguém adoecia gravemente (tentemos não pensar na péssima ideia de substituir temporariamente como fizeram a Barbara Bel Geddes em “Dallas”). Raramente tiveram de resolver mortes e, quando aconteciam, eram pessoas idosas cujas personagens eram também enviadas para um mundo melhor.
Com a tragédia de Cory Monteigh a série tem um problema bicudo em mãos. Mantiveram Finn no secundário como professor do Glee, era o símbolo de uma geração que, depois de um período brilhante em que a vida sorria, vê-se sem rumo, sem conseguir avançar com igual sucesso. Que se agarra ao que conhece porque pode bem ser aquilo que fará toda a vida. Saiu do clube com enormes esperanças, voltou em grande e teria muito potencial para as próximas temporadas que possivelmente incluiriam o casamento com Rachel. Como resolver isso agora que o actor se foi? Os argumentistas decidiram usar o trágico fim de Cory em Finn, para que essa morte sirva de memória a todos os jovens e impedir que outros caiam no mesmo vício. Arriscado e quiçá impróprio, mas era a melhor solução possível. Não o podiam substituir, não iam fazer de conta que não existia, assim pelo menos respeitam a sua memória e a morte não será tão vã.
Numa nota extra, Vanessa Lengies (Sugar) decidiu abandonar a sua longa aventura no elenco secundário de Glee para ser uma de onze co-protagonistas em “Mixology”, a nova série de Scott Moore (“The Hangover”). Diz que se sentia excluída e tem toda a razão. Se revirem a temporada atentos a isso, há momentos em que simplesmente fazem de conta que ela não existe, e o último solo foi aquela desgraça na audição. Fez bem, já não tinha idade para continuar a brincar às escolas e convém apostar na carreira, mas abandonar os colegas num momento assim deve ter custado muito.

Seis episódios-chave

Quais os episódios que mais se destacaram ao longo da temporada. Os seis fundamentais para quem tem pressa e não se preocupa com a continuidade narrativa. Estão ordenados cronologicamente para que a confusão não seja maior.
4 - The Break-Up
Como quebrar os laços com o passado? Cortando todos de uma vez. Um golpe de coragem para deixar os espectadores emotivamente sensíveis e presos à história.
5 - The Role You Were Born to Play
Este regresso de caras há muito desaparecidas fez com que “Glee” por momentos voltasse a ser o que era. Fez com que não se parasse de acreditar.
6 - Glease
A grande performance do ano, fechou com chave-de-ouro aquilo que foi aberto no episódio 4.
14 - I Do
Nâo é um bom episódio de Glee, mas com a sua mistura de amor e dor, é um bom episódio para ver no São Valentim, acompanhado ou sozinho.
17 - Guilty Pleasures
A missão do episódio era revelar os gostos segretos de cada membro do coro. Acabou por ser uma divertida pausa no formato normal e uma oportunidade para ouvir música normalmente ignorada.
18 - Shooting Star
Podia ter sido muito melhor, mas mesmo assim foi dos mais importantes devido à temática complicada e às mazelas que causou que foram exploradas mais tarde.

Seis episódios com grandes momentos

Não sendo bons episódios, têm algo, normalmente uma música, que os torna obrigatórios.

8 - Home for the Holidays
O episódio 5 teve muitos regressos, mas foi em “trabalho”. Este dedicado à Acção de Graças tem mais tempo de convívio. O ponto alto é a abertura que nos recorda como tinhamos saudades de ouvir toda aquela gente, a fornada original.

9 - Chicago/Renascimento
Confronto do ano em Glee? Rachel contra Cassandra em “Chicago”. Para quem tem esta série como referência, foi do mais hipnotizante e explosivo que já tivemos. Para melhorar, só o renascimento do grupo no meio do nada. Com dois momentos assim, até se perdoa que durante meia hora não se passe mais nada de interessante.


12 - Dianna Agron e muito topless
Muita gente poderá gostar das imagens no calendário e da alegria contagiante na música final, mas num episódio em que há dueto Rachel-Rachel, é a voz de Quinn que será recordada. Que saudades... Esta mulher quando quer, consegue roubar o espectáculo.

13 - Santana
Um episódio completamente banal é salvo pela performance de Santana. Não só tem muitas interpretações musicais divinas, como a sua mudança para Nova Iorque dá um revitalizante twist à série.

15 - Músicas de filmes
Quase todas estas músicas têm o seu lugar sagrado na história do Cinema e, de uma forma ou outra, teriam de aparecer na série. O episódio é muito fraquinho, mas praticamente todas as músicas são irresistíveis, seja pela melodia em si ou pelas memórias que o filme desperta.

19 - Audição da Rachel
Tinha de ser um dos pontos altos da temporada e foi. A escolha da música mais emblemática da série não foi inocente. Conseguiram apelar à nostalgia e usar uma letra que todos conhecemos. Adicionar o apoio dos amigos foi um golpe de génio que nos atirou para quando eram apenas adolescentes em busca da sua voz e, juntos, conquistaram o seu lugar no mundo. No tempo em que “Glee” era a oportunidade ideal para karaoke. Terá sido um dos pontos mais altos da série. Melhor do que qualquer conquista de troféus.

Temas tratados

Num pequeno apanhado, eis uma revisão dos novos temas que foram tratados ao longo desta temporada. Pode conter spoilers pelo que devem saltar esta parte se não quiserem perdem alguma da magia.

Distúrbios alimentares - personagem principal, asneira da grossa. Marley sabe que contam com ela, que precisa de estar no seu melhor, mas deixa-se manipular por Kitty e destrói a própria saúde assim como a possibilidade de seguirem em frente na primeira ronda da competição. Era a melhor forma de dizer “não tentem fazer isto em casa”.
Drogas/doping - como não podiam afastar a equipa da competição, tinham de os recolocar com base numa regra qualquer. A mais simples foi acusar os vencedores de doping e tomar o lugar dos Warblers. Como moral podemos usar a popular “O crime não compensa”.
Dislexia - Mais um tema que costuma ser deixado para as personagens secundárias e aqui tem grande destaque em Ryder. Por vezes o problema não é falta de esforço, apenas precisamos de uma ajuda externa para perceber o que se passa connosco.
Cancro - o tema, tal como a doença, aparece de forma inesperada e apanha todos de surpresa. Obriga a encontrar muitas forças que se desconhecia, mas com exames precoces e muita esperança é possível superar.
Nudez - “To be or not to be...” naked. O dilema aparece perante muitas das personagens em simultâneo e há diversos rumos a tomar. Uns podem achar que é a época certa, uns podem achar melhor fazer mais tarde, ou podem nunca o fazer. Mas é uma decisão pessoal e das mais importantes a tomar.
Abuso infantil - ele existe e não pode ser escondido. Enquanto não se acabar com o flagelo, é importante falar do tema, tanto para prevenir potenciais vítimas como para tratamento e minimizar os danos psicológicos em quem não escapou.
Opções de vida - imensas pequenas coisas sobre mudança de carreira, de curso, de cidade, de editora discográfica... No fundo a mensagem principal será sempre “é melhor arrependeres-te do que fizeste do que arrependeres-te do que podias ter feito”.

Poupar músicas

É preciso não esquecer que as boas músicas são finitas. Com a enorme quantidade de faixas já usadas, começa a ficar difícil encontrar temas que se adequem ao argumento. Um truque foi começar a cantar originais. Outro foi não desperdiçar grandes músicas em momentos menores. As boas músicas ficam para as cenas que realmente importam. Isso fez com que o nível geral descesse (Barry Manilow tinha tantas músicas melhores para “Guilty Pleasures”!). A única vantagem é que assim, de vez em quando aparece uma grande música que se destaca da mediocridade.
Apetece-me dizer que a série não está a manter a qualidade de outrora porque as músicas não são tão apelativas. Poderá querer dizer que estou a sair do público-alvo? Que já não me interesso pelas músicas que estão na moda? Ou isso significa que preciso de ver o especial dos Beatles para voltar a acreditar como antigamente? Na verdade não consigo deixar de ver só porque as músicas pioraram. Até fizeram com que começasse a achar piada à Sarah Jessica Parker!
O problema desta série é que haverá sempre uma música que me obrigará a ver o episódio e para isso vou acabar por ver tudo o que ficou para trás. Maldito Glee, basta fazerem um bom último episódio e vou ver a série completa...

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