5 de julho de 2014

E quando acaba?


Ver uma série é uma rotina. Tem aquele horário definido. Ou é aquele dia e aquela hora quando dá na televisão, ou é naquele momento depois do jantar que se põe o DVD na televisão, ou ainda aquele momento antes de dormir em que se liga o computador - ou se adia o desligar - para ver só mais uns vinte, trinta ou mesmo sessenta minutos. Isso é repetido umas vinte vezes durante o ano, por vários anos. Na recta final a televisão facilita. Fazem um especial com dois episódios, ou uma maratona de fim-de-semana com três a seis episódios. A família fica junta mais um bocado para ver “só mais um”. Tal como no computador, pensamos para nós mesmos “é só meia hora, no fim-de-semana recupero o sono”. Dizemos isso, mas sabemos que não é assim. Chegando à derradeira parte da trama, é complicado deixar de carregar Play. Esse “só mais um” torna-se um “já agora” e os episódios sucedem-se como as pipocas. Ou ainda mais depressa, porque pipocas é algo que há muito saiu da minha dieta e dos meus hábitos tele-cinéfilos.

Nada é mais fácil do que chegar ao fim da temporada e da série. E quando acaba? Como se vai fazer para preencher esse vazio? Não me refiro ao da alma, mas ao da grelha horária. Por muito má que seja a série, faz parte da nossa vida. Tem aquele tempo dedicado. Saindo essa, o que vai preencher o vazio? Será que o canal vai conseguir corresponder às nossas expectativas? E se puserem algo tão mau que terei de ver outro canal? Sera que algum canal tem algo de jeito? Ou ainda pior, e se for algo melhor e tão viciante que não possa perder um episódio? Para isso tenho a box a gravar. Claro que vai ficar sem disco quando mais for preciso. E vai ser nas férias para não estar disponível nos últimos sete dias. Tenho de esperar que volte a dar. Entretanto já entrei na rotina e vi o seguinte. Aaaaiiii, está tudo estragado.

É muito fácil dizer às gerações anteriores “Não comece a ver essa telenovela. Depois habitua-se e fica todos os dias até à uma da manhã para saber se ela fica este ou com o outro...” mas não fazemos nós o mesmo? Não nos deixamos também envolver numa relação, que sabemos não ser para sempre, e que apenas serve para nos tirar o sono e nos dar preocupações? Seremos todos masoquistas? Só isso explica que nos envolvamos com séries em estado terminal (canceladas antes de estrearem em Portugal) e que tenhamos casos de um a três meses com mini-séries. Gostamos mesmo de sofrer.

Estar com múltiplas relações simultâneas parece facilitar. A polisséría (atenção que é uma palavra inventada, não a usem em contextos formais) permite diluir a dor de perder uma série. Por isso agradeço aos canais com uma série para as segundas, outra para as terças, outra para as quartas... Mas por favor não as acabem todas ao mesmo tempo ou é uma tristeza na segunda, uma depressão na terça, uma corda ao pescoço na quarta...
Num mundo perfeito as séries teriam um desfasamento de um mês entre finais para estarmos sempre minimamente contentes, mas nunca completamente felizes. E se começamos a ver na mesma altura, todas teriam um número diferente de temporadas para não acabarem no mesmo ano. Sim, assim deve servir. Estações, quando conseguirem combinar entre vocês como podem fazer as séries de forma a me agradarem sem me fazerem sofrer demasiado, eu prometo voltar a ver o que vocês têm para mim. Até lá, temos pena, mas não me voltam a apanhar nas vossas armadilhas. Para passar o tempo vou só fazer um pouco de zapping e não páro mais de cinco segundos em cada canal para não causar habituação. Humm, esta menina tem bom aspecto... Mas vou já mudar. Oh não! Ela outra vez! E em HD confirmo que é bem gira! Bem, é só por mais um ano. Ou dois...

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