Muitos dizem que o futebol é como uma doença. Talvez porque é sazonal? Porque é contagioso? Ou porque de vez em quando mesmo os mais indefectíveis cedem? Quem não acha piada ao jogo acaba por de alguma forma entrar em contacto com essa cultura. Jogar, assistir ao vivo ou pela televisão são experiências que qualquer desporto proporciona. No caso do futebol é particularmente fácil pois, apesar de os adultos complicarem as regras, os miúdos só precisam de algo para chutar e duas marcas no chão para fazerem a festa e um jogo a que se dedicam tanto como aqueles que neste momento jogam o título mundial. Podem até fazer uma entrada mais forte ou morderem-se, mas quando acaba cumprimentam-se, elogiam as performances uns dos outros, e, se não trocarem camisolas porque as mães não gostariam, pelo menos combinam novos jogos. O futebol com paixão é assim. Não é simular falta, lançar queixumes, usar a imprensa como arma.
Futebol tem tanto propósito como religião ou política. Cada pessoa tem a sua devoção que não muda e mesmo assim insiste que os outros estão errados e deviam mudar. E ainda complicamos mais isso com competições e prémios que desviam a integridade do beautiful game. No fim, o jogo torna-se uma selva.
Ainda bem que há variantes até para quem não gosta. Sejam os que controlam a equipa em jogos com igual emoção, os treinadores de bancada com versões online para colocarem os seus palpites em prática, ou os que trocam cromos dos artistas da bola, nenhum se aproxima do verdadeiro exercício físico como um jogador de matrecos. Em apenas dez minutos liberta tanta energia e corre tanto risco de lesão como num jogo de futebol a sério. Há fintas, há roubos de bola, há gritos, há falhanços perante a baliza aberta e golos impossíveis. Como é possível não amar este jogo? Claro que há sempre alguém capaz de não gostar desta actividade, mas a febre é quase tão grande como a do futebol e sem os mesmos ódios. Até admira como o cinema não pegou no tema antes.
Juan José Campanella é um nome grande do cinema latino. Seja pelo oscarizado "El Secreto de Sus Ojos", pela comédia "El Hijo de la Novia" ou pela constante colaboração com séries americanas, Campanella é daqueles nomes cujos projectos deviam ser logo aprovados pelas produtoras. Mesmo que tenha uma ideia louca e decida dar vida a bonecos de chumbo.
"Metegol", traduzido por cá para "Matraquilhos", foi um projecto ousado. Pelo menos em longa parecia ser excessivo. A sinopse era “Amadeo que é excepcional em matraquilhos, enfrenta rival em jogo de tudo ou nada”. Como pode um jogo de matraquilhos ser tema para mais de vinte minutos? Aqui vemos que é possível. Na introdução parece ser igual a tantos outros que preocupa. É até superficial de tão expectável que a história se afirma. A diferença está no desenvolvimento da personagem e na mensagem que nos transmite. Não é o pequeno Amadeo que interessa, mas o Amadeo adulto que tem de perceber a diferença entre o jogo e a vida real, e lutar pelo que tem significado.
Por momentos parece que estamos a ver "Toy Story 3" e como Andy e os seus brinquedos seguem caminhos distintos. Em parte é isso, mas este não foi tão feito para adultos. Foi feito a pensar nas crianças, a explicar como devem crescer e que valores devem ser respeitados. O coração argentino e o amor ao futebol são importantes, mas não se evidenciam numa história que funcionaria com qualquer outro jogo de mesa onde se controlasse uma equipa. Só que não há mais jogos assim. O pinbolim é um caso único.
"Metegol" funcionou bem na altura e local em que foi feito. Num contexto de futebol onde piadas sobre jogadores estrangeiros e guerras de egos num trio de ataque, podem ser reinterpretadas com nomes dos nossos clube. Num país que vibra com o futebol. Num ano que antecede o Mundial. Para nós, será uma versão menor. Será apenas um filme que nos lembra que se atribuirmos um nome e um rosto a cada peça, estaremos a jogar por uma camisola. Se o entrosamento que temos com a pessoa que está ao lado, tivermos com cada um dos jogadores em campo, então seremos imbatíveis.
É pena que o filme não permaneça na memória por muito mais tempo.
Futebol tem tanto propósito como religião ou política. Cada pessoa tem a sua devoção que não muda e mesmo assim insiste que os outros estão errados e deviam mudar. E ainda complicamos mais isso com competições e prémios que desviam a integridade do beautiful game. No fim, o jogo torna-se uma selva.
Ainda bem que há variantes até para quem não gosta. Sejam os que controlam a equipa em jogos com igual emoção, os treinadores de bancada com versões online para colocarem os seus palpites em prática, ou os que trocam cromos dos artistas da bola, nenhum se aproxima do verdadeiro exercício físico como um jogador de matrecos. Em apenas dez minutos liberta tanta energia e corre tanto risco de lesão como num jogo de futebol a sério. Há fintas, há roubos de bola, há gritos, há falhanços perante a baliza aberta e golos impossíveis. Como é possível não amar este jogo? Claro que há sempre alguém capaz de não gostar desta actividade, mas a febre é quase tão grande como a do futebol e sem os mesmos ódios. Até admira como o cinema não pegou no tema antes.
"Metegol", traduzido por cá para "Matraquilhos", foi um projecto ousado. Pelo menos em longa parecia ser excessivo. A sinopse era “Amadeo que é excepcional em matraquilhos, enfrenta rival em jogo de tudo ou nada”. Como pode um jogo de matraquilhos ser tema para mais de vinte minutos? Aqui vemos que é possível. Na introdução parece ser igual a tantos outros que preocupa. É até superficial de tão expectável que a história se afirma. A diferença está no desenvolvimento da personagem e na mensagem que nos transmite. Não é o pequeno Amadeo que interessa, mas o Amadeo adulto que tem de perceber a diferença entre o jogo e a vida real, e lutar pelo que tem significado.
Por momentos parece que estamos a ver "Toy Story 3" e como Andy e os seus brinquedos seguem caminhos distintos. Em parte é isso, mas este não foi tão feito para adultos. Foi feito a pensar nas crianças, a explicar como devem crescer e que valores devem ser respeitados. O coração argentino e o amor ao futebol são importantes, mas não se evidenciam numa história que funcionaria com qualquer outro jogo de mesa onde se controlasse uma equipa. Só que não há mais jogos assim. O pinbolim é um caso único.
"Metegol" funcionou bem na altura e local em que foi feito. Num contexto de futebol onde piadas sobre jogadores estrangeiros e guerras de egos num trio de ataque, podem ser reinterpretadas com nomes dos nossos clube. Num país que vibra com o futebol. Num ano que antecede o Mundial. Para nós, será uma versão menor. Será apenas um filme que nos lembra que se atribuirmos um nome e um rosto a cada peça, estaremos a jogar por uma camisola. Se o entrosamento que temos com a pessoa que está ao lado, tivermos com cada um dos jogadores em campo, então seremos imbatíveis.
É pena que o filme não permaneça na memória por muito mais tempo.
Título Original: "Metegol" (Argentina, Espanha, EUA, Índia, 2013) Realização: Juan José Campanella Argumento: Juan José Campanella, Gastón Gorali, Eduardo Sacheri (baseados numa história de Roberto Fontanarrosa) Intérpretes: David Masajnik, Lucía Maciel, Fabián Gianola, Música: Emilio Kauderer Fotografia: Félix Monti Género: Animação, Comédia, Desporto Duração: 106 min. Sítio Oficial: http://www.metegolpelicula.com/ |
0 comentários:
Enviar um comentário