Para compensar a ausência de publicações nos últimos tempos, hoje trazemos um texto de uma autora externa, a blogger e jornalista Joana Soares do Histórias de Metro a Metro que nos leva numa visita a um outro Porto. O de Gabe Klinger que está em exibição na Invicta e um pouco por todo o país.
Porto, meu amor
Gabe Klinger, realizador e argumentista do filme "Porto", a rodar nas salas de cinema da cidade, captou muito bem o timbre pardacento do Porto que faz do Porto o que o Porto é. Ainda consigo ouvir num plano do filme a voz de uma vendedora do Bolhão a dizer: anda cá ‘mor – o que traduzido para inglês seria qualquer coisa como ‘come here luv’. Mas todos sabemos que não é a mesma coisa. O ‘mor do Porto vem de dentro, da alma, é genuíno, é local. O filme cai que nem ginjas no marketing da cidade. Funciona como imagem de marca – uma montra que afaga turistas.
O filme "Porto" rodou em 2015 na Invicta, chegou este mês às salas de cinema portuenses. E é um must see.
É uma espécie de boy meets girl que versa precisamente sobre a dificuldade em ser-se um, em estar-se a dois e a violência da entrada em cena do “terceiro elemento” que faz a chama apagar e o mundo voltar a ser mundo.
É um filme independente que conta a história de um norte-americano de 26 anos, filho de pais diplomatas, Jack Kleeman (Anton Yelchin) e uma francesa, de 32 anos, Mati Vargnier (Lucie Lucas), a fazer investigação arqueológica em Portugal. A história é muito fragmentada, vai à frente e regressa ao passado em encontros e desencontros.
A história está brilhantemente contada sobre a beleza da imagem cinematográfica que arrancou as melhores críticas internacionais. E como o belo é também louco, este Porto fala do amor num registo neurótico, imprevisível, quase improvável. Porque este é um boy meets girl atormentado por uma ideia frustrada de futuro e por uma intensa vontade de perpetuar a fugaz felicidade do instante. O instante da paixão não passará, contudo, de sinalizar o mais lancinante fogo.
É um filme de bolinha vermelha. Eu não conservadora me confesso aqui um quê conservadora: as cenas de sexo são tão evidentes que magoam a arte. A simplicidade teria sido boa conselheira nesta primeira obra de ficção de Gabe que quer tratar o amor como-que-mortal de uma maneira mais trendy.
O embrulho acaba por ser mais interessante que o conteúdo de um filme que fala de paixões intensas “de uma noite só”, onde o Porto ganha asas ao exibir para o mundo os seus cafés, ruas, rio, o cinzento do ar onde dançam gaivotas. Tudo isto sob os acordes de Tsegué-Guèbrou e John Lee Hooker.
Título Original: "Porto" (Portugal, França, EUA, Polónia, 2016) Realização: Gabe Klinger Argumento: Gabe Klinger, Larry Gross Intérpretes: Anton Yelchin, Lucie Lucas, Paulo Calatré, Françoise Lebrun Fotografia: Wyatt Garfield Género: Drama, Romance Duração: 76 min. Sítio Oficial: https://www.facebook.com/portomovie |
1 comentários:
Fiquei curiosa, não sendo o Porto "a minha cidade" é uma cidade de que gosto muito e cinematográficamente falando, está subaproveitada.
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