29 de abril de 2005

"Der Untergang" por César Nóbrega

EXORCIZAR DEMÓNIOS

Há alturas em que não queremos acreditar no que aconteceu durante a Segunda Guerra Mundial. Um louco, que tinha a certeza de ser um visionário, quis reconstruir o Mundo à imagem de um esboço que tinha na sua cabeça, nem sequer era à sua imagem. Adolf Hitler, o maior carrasco da humanidade, partiu da Alemanha para uma conquista que se viria a mostrar impossível. Desde sempre, a Sétima Arte tratou o Fuhrer como um chefe militar impiedoso e maníaco-depressivo. Apesar de Hitler ter sido isso mesmo, era um ser humano. Por muito que nos custe, o comandante do III Reich era um homem e não o Diabo (será?).
"A Queda: Hitler e o Fim do Terceiro Reich" é o retrato de Adolf Hitler nos últimos doze dias de cativeiro, no "bunker" por baixo da chancelaria do Reich. Em Abril de 1945, só o Fuhrer acreditava na vitória da segunda Guerra Mundial. À sua volta, mexiam-se as habituais influências da política. Homens como Heinrich Himmler ou Joseph Goebbels moviam as suas influências para o estado germânico pós-Hitler. Um abandona o "bunker" e o Fuhrer, e vai tentar capitular perante as forças aliadas, mas Hitler descobre. O outro fica ao pé do chefe militar até ao fim e só desobedece a uma ordem do seu mentor, para que o abandone . Enquanto isso, Adolf Hitler estava cada vez mais doente, louco e sozinho. A doença de parkinson revelava, cada vez mais, os seus sintomas e as batalhas imaginárias foram tomando conta da cabeça do Fuhrer, inventando unidades onde elas não estavam e planeando ganhar uma guerra, que há muito estava perdida.
É a primeira vez que a Alemanha encara os seus demónios e mostra ao mundo que quer virar a página. "Der Untergang", no original, é realizado por Olivier Hirschbiegel, de quem vimos em 2002, "A Experiência", premiado no Festival Intenacional de Cinema do Porto, com o Prémio de Melhor Argumento, além de alguns episódios da série televisiva, exibida pela SIC, "Rex - O Cão Polícia". O ambiente claustrofóbico de "A Experiência" é, completamente, adoptado a "A Queda". O bunker é um lugar frio e cinzento, mas ao mesmo tempo abafado e demoníaco. Hitler vagueia pelos corredores à espera de um milagre, mas só encontra traições.
O filme coloca um ponto final no destino do ditador alemão, graças aos testemunhos reais de Traudl Junge, a última secretária de Hitler, e de Joachim Fest, o biógrafo mais importante de Fuhrer. Além da impressionante prestação da romena Alexandra Maria Lara (Traudl Junge), que vimos, igualmente, no Fantasporto 2002, no filme "O Túnel" de Roland Suso Richter, destaque para Bruno Ganz, o actor suiço que faz de Hitler. Quando em 1987, o vimos como anjo Damiel, no filme "As Asas do Desejo" de Wim Wenders, nunca poderíamos pensar que vinte anos mais tarde seria o Diabo. Cordial com as mulheres, doce com as crianças, Adolf Hitler é o mais maquiavélico dos seres, porque consegue convencer os seus mais directors seguidores, que a morte é o caminho certo para o fracasso.
É óbvio que, "A Queda: Hitler e o Fim do Terceiro Reich" não é um filme para todos. Ou porque não podem acreditar que Hitler fosse um homem, ou porque não podem ver mais atrocidades, como aquelas que são ali retratadas. Mas, de uma coisa devemos ficar conscientes, este é o testemunho final da segunda Guerra Mundial. Daqui em diante, quando alguém quiser completar a história de Adolf Hitler, vai citar o filme de Hirschbiegel. Depois deste, mais nenhum filme sobre o Holocausto vai fazer sentido!

6 comentários:

Anónimo disse...

Caro César Nobrega, não desmerescendo nas suas virtudes como crítico de cinema, parece-me que falha rotundamente (embora compreensivelmente) nesta sua incursão pela análise do III Reich e do seu Fuhrer, como logo se atesta pelo apodo de louco a Hitler, ou quando o designa o maior carniceiro da história.
No entanto não o censuro.
Por fim, ainda me há de explicar a razão da sua última frase; o que terá a haver o holocausto com o tema do filme (as últimos dias do Fuhrer e da Alemanha Nazi)?
Aceite os cumprimentos deste leitor atento.

João Fernandes

Nuno disse...

A História mundial está repleta de assassinos e alguns maiores do que Hitler mas para os europeus foi claramente o maior carniceiro por ser o mais próximo. Pode ser chamado de louco pois, como Napoleão antes dele, tentou conquistar o mundo conhecido, algo que poucos indivíduos conseguiram e só muitos séculos antes. Foi ainda mais louco pois o francês escolheu um inimigo de estimação e tentou levar os outros países a lutar contra Inglaterra enquanto Hitler escolheu um inimigo de estimação e levou o seu povo a lutar contra todos os vizinhos. Isso numa época em que as notícias já viajavam depressa.
Em relação à última frase penso que a única forma de compreender a obra (guerra) é conhecer o homem e, agora que se passaram 60 anos desde a maior loucura do século XX (novamente no ponto de vista de um europeu), devemos tentar perceber como era o homem por trás do ditador. Sem dúvida que era um homem - e um homem poderoso - mas também era um homem frágil e doente. Perdoem-me a comparação mas por ter nascido longe das guerras, geografica e temporalmente, chego a pensar que o nosso D.Sebastião era uma pessoa capaz de nos lançar pelo mesmo caminho, convencendo todos que os infiéis deviam ser expulsos e que o território deles seria para os seguidores de Deus. Os seus ideais levaram-no à morte mais depressa, na altura que os comandantes combatiam no local mas também mergulhou o país numa crise que durou 60 anos.
A crise dos alemães terminou com uma catarse colectiva que tem o seu apogeu neste filme, a dos portugueses quando tiveram a coragem e a confiança para retomarem as rédeas do próprio destino.

Anónimo disse...

Olá João,

Desde já agradeço o seu comentário... é sempre bom sabermos que alguém nos lê... e que tem opiniões sobre isso.

O que escrevi foi a minha opinião... como sou jornalista faço distinção entre notícia e opinião... notícia cinge-se aos factos... opinião, como o prórpio nome indica mostra o meu ponto de vista. O João pode achar que o Hitler não era louco (está no seu direito) eu acho... só um louco podia conduzir uma guerra daquela forma e fazer o que ele fez.

Quanto a Holocausto. Fui ao dicionário (www.priberam.pt) e a definição atesta assim:

holocausto

do Lat. holocaustu < Gr. holókauston < kolós, vítima inteira + káío, queimo

s. m.,
sacrifício expiatório e de acção de graças, praticado pelos antigos Hebreus, por cremação total de um animal;
a vítima do sacrifício;
sacrifício em geral;
abdicação da vontade própria para satisfazer a de outrem;
grande chacina ou destruição da vida;
a causa de tal desastre;
o assassínio em massa dos Judeus pelos nazis durante a Segunda Guerra Mundial (nesta acepção, grafa-se com inicial maiúscula).

Um abraço e mais uma vez obrigado pelos reparos... é sabendo que tenho leitores que tenho força para continuar.

César Nóbrega

Anónimo disse...

Caro César, como é óbvio respeito a sua opinião, mas o motivo do meu comentário anterior não o de foi simplesmente opinar acerca da possível loucura de Hitler.
Ao que eu quero chegar é que, sendo a temática do filme os últimos dias do Fuhrer e da Alemanha Nazi, assistida essencialmente do bunker onde Hitler comandou as suas tropas nos dias finais da 2ª Guerra Mundial, é maléfica e desnecessária para uma compreensão objectiva do filme e da mensagem que o cineasta pretende transmitir - seja ela qual for - o estado de espírito do espectador que, já antes de entrar na sala de cinema, sabe que vai ver os dias finais de um "monstro" e que o Hitler fez isto e aqulio. Com isto não infira que pretendo ver factos esquecidos ou branqueados; apenas e tão só que a impressão que o filme nos provoca variará conforme o estado de espírito com que nos dispomos a visioná-lo.
Assim, dado o cariz do tema do filme, que é baseado no livro da secretária pessoal de Hitler (não se trata aqui de retratar, por exemplo, uma história de amor - é um filme histórico, perfeitamente datado e objectivo), não será lembrando a toda a hora o "monstro" que Hitler foi ou que o Holocausto aconteceu que ajudará a criar as condições para a tal análise fria da obra e criar, quiçá, até uma nova opinião sobre a personalidade em causa.
E a esse pecado original nem o próprio filme conseguiu fugir; daí a estranheza (que até assinalei no meu comentário) que me causou ver, a seguir ao epílogo do filme, uma referência ao Holocausto a que se somou uma declaração de 1998 da secretária de Hitler sobre o mesmo. Com isto, não obstante a boa opinião que o filme me tinha causado, senti que o realizador tratou os espectadores como estúpidos e não como pessoas inteligentes.´

João Fernandes

Anónimo disse...

Os comentários de Traudl Junge fazem parte do documentário "Blind Spot" que o Fantasporto exibiu em 2002 (a única entrevista dela sobre Hitler). O que mais me impressiona na secretária do Hitler é a ingenuidade com que ela se juntou à causa... e assim esteve durante anos. Só anos depois percebeu o que tinha acontecido e que homem era Hitler. Ela não conseguia perceber como o Hitler podia ser aquele homem para quem trabalhou e o outro que se fartou de matar pessoas.

Sendo jornalista há vários anos, deixei de acreditar na objectividade a 100 % (nós tendemos sempre para um lado, seja ele qual for). Podemos disfarçar, mas isso nota-se e o realizador é alemão... eles têem de lidar com os seus fantasmas. Ainda no Fantasporto deste ano, tive uma conversa com o Ayassy (realizador alem,ão de um grande filme - Vinzent) e era o que ele mais me dizia: "ainda bem que este filme foi feito... precisávamos de enfrentar as coisas de uma forma defintiva".

Para mim a cena mais "deliciosa" é quando Himmler, preparando-se para sair do bunker e trair Hitler diz: "não sei como vou cumprimentar o Eisenhower, se com a suástica se lhe aperto a mão" ...

Ana [Lua] disse...

gostei do filme

lua.weblog.com.pt