Antes de os biopics de cantores se tornarem moda, já uma banda estava a ter uma homenagem internacional. Quase dez anos depois da estreia do musical "Mamma Mia!" chega-nos o filme e de certeza que vai renovar o interesse na peça, nos ABBA e especialmente nas músicas.
Curiosamente o fenómeno começou no velho continente. O melhor comportamento das estrelas (ou a falta de atenção dos paparazzi) fez com que este espectáculo escapasse aos padrões de sexo, drogas e rock’n’roll com que os já referidos biopics americanos recordaram para a eternidade os seus maiores artistas.
É um alívio saber que ainda é possível honrar uma carreira musical sem tirar esqueletos do armário, apenas por mostrar o trabalho num contexto apelativo e memorável. É isso que "Mamma Mia!" é. A maior homenagem alguma vez feita a uma banda, mesmo que nunca refiram o nome. Não era necessário.
Sophie é uma jovem que nunca conheceu o pai. Para o casamento quer ser levada ao altar por ele e por isso, à revelia da mãe, convida os três homens que podem ser o pai dela para a cerimónia. A história vai falar de Sophie e do noivo, mas especialmente da mãe, dos anos setenta, das amizades mantidas e dos amores perdidos.
O grande trunfo desta história sem nenhum interesse particular é estar repleta de músicas dos ABBA ao estilo indiano. Em cada situação os actores saltam para cima das mesas e começam a cantar - acompanhados de coro ao bom estilo grego – um êxito da banda perfeitamente adequado ao que estão a querer dizer. Por duas ou três vezes forçam um bocado a situação que origina uma música, mas nunca se desviam do fio condutor da história.
Fazer um musical é arriscado e compor músicas para todas as cenas é difícil. Encontrar músicas já existentes e aplicá-las à história é um trabalho de mestre. Tudo isso com temas de uma única banda é um feito notável. Por ser uma banda já reformada há anos o êxito não é apenas uma questão de moda. Os espectadores cinquentões vão ficar rendidos à nostalgia e os mais novos não resistirão muito tempo à disco fever.
As interpretações quase que são avaliadas em exclusivo pelo desempenho musical. Amanda Seyfried conquista o público em "Honey Honey". Quem ainda não diz que Meryl Streep é a maior actriz viva depois de a ver cantar "Mamma Mia" junta-se ao grupo de fãs. Para compensar essa música alegre em "The Winner Takes It All" - filmado quase num único take – tem uma magnífica performance dramática. Dois momentos excepcionais que se distinguem entre a dúzia de interpretações com que nos brinda. Quem não a viu cantar em "Prairie Home Companion" vai ficar muito surpreendido. O melhor momento de Pierce Brosnan é a cantar "SOS". Não tem muito jeito, mas revela dedicação. Há apenas mais duas grandes interpretações musicais. A de Christine Baranski, que se revela neste filme como uma grande actriz cómica, e a de Julie Walters, talento já confirmado na comédia e que se contém mesmo até ao final do filme. O final disparatado é uma explosão de alegria, desfecho adequado para o que se passou.
Os fãs dos ABBA vão delirar ao voltar a escutar os velhos clássicos. Umas cantadas, outras trauteadas, as melhores das mais de cem canções que os suecos fizeram estão todas lá. Quando o filme termina alguém poderá lembrar-se de uma que é inadmissível não cantarem. Streep faz-nos a vontade e a complementar ainda vemos os restantes actores a reviver os anos do disco. Aquilo que no século XXI se chama fazer figura triste e há trinta anos era estar na moda.
Título Original: "Mamma Mia!" (Alemanha, EUA, Reino Unido, 2008) Realização: Phyllida Lloyd Argumento: Catherine Johnson Intérpretes: Meryl Streep, Amanda Seyfried, Pierce Brosnan, Stellan Skarsgård, Colin Firth, Julie Walters, Christine Baranski Fotografia: Haris Zambarloukos Música: Benny Andersson Género: Comédia, Musical, Romance Duração: 108 min. Sítio Oficial: http://www.mammamiamovie.com/ |
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