11 de agosto de 2009

"Quarantine" por António Reis


Pagar um milhão de dólares por um argumento de um filme espanhol de sucesso pode ser um bom negócio para quem o vendeu. Tenho sérias dúvidas que o tenha sido para quem o comprou e, pior ainda, para quem o foi ver como espectador. O filme de que falo é "Quarantine", a versão americana de "[REC]", que parte do pressuposto raras vezes correcto, de que os americanos conseguem fazer de argumentos europeus e asiáticos, blockbusters mundiais em formato standard. Tudo o que "[REC]" tinha de bom perdeu-se na sua remake. O estilo amador, a autenticidade das situações, a originalidade de um terror plausível, o sentido de humor que Balagueró e Plaza mantinham em todo o filme, desvanece-se na pretensão de se fazer uma média produção americana. Mesmo a vantagem adicional de ter sido em simultâneo um sucesso de público na Europa, bem recebido pela crítica, e multi-premiado em festivais do fantástico, não foi suficiente como promoção para Quarantine.
A questão é mesmo de se saber qual o interesse de fazer uma remake um ano depois do filme original, quando nada se acrescenta. Pelo contrário, parafraseando Lavoisier, "tudo se perde quando nada se cria, nada se transforma". A presunção de que a máquina de fazer cinema americana é mais eficaz no estilo e na publicidade, logo consegue vender melhor um produto mundialmente foi neste "Quarantine" um erro crasso. O que em "[REC]" parecia autêntico, em "Quarantine" é pastiche. As interpretações que eram verosímeis no primeiro, são meras representações no segundo. O camâra à mão que em "[REC]" era o essencial do estilo e de narrativa, torna-se em "Quarantine" apenas mais uma virtualidade técnica. Para quem como nós assistimos a "[REC]" em festivais de fantástico, com audiências ao rubro como em San Sebastian, Sitges e Fantasporto, resta-nos esperar por "REC 2" que está mesmo a sair e a confirmar que Jaume Balagueró e Paco Plaza são dois casos sérios do terror tanto a nível do argumento como de realização.
"[REC]"/"Quarantine" são a prova irrefutável de que existem diferenças substanciais entre cinema europeu e americano. Se viu "[REC]" evite "Quarantine". Se viu "Quarantine" veja "[REC]". Se não viu nenhum... veja "[REC]".

Título Original: "Quarantine" (EUA, 2008)
Realização: John Erick Dowdle
Argumento: John Erick Dowdle e Drew Dowdle inspirados no argumento de Paco Plaza, Luis Berdejo e Jaume Balagueró
Intérpretes: Jennifer Carpenter, Steve Harris, Jay Hernandez
Fotografia: Ken Seng
Género: Terror
Duração: 89 min.
Sítio Oficial: http://www.containthetruth.com/

2 comentários:

Tiago Ramos disse...

Não vi Quarantine, mas não compreendi a aclamação que fizeram em torno de [REC]. Deram muita primazia à estética e esqueceram-se do argumento...

Nuno disse...

"[REC]" tem realismo na dose certa. Enquanto "[REC]" vi em todos os festivais por onde passei, "Quarantine" espreitei no Fantas e não me convenceu.

A Angela de Manuela Velasco é divertida e talvez sonsa, mas tem sempre comportamento profissional perante a câmara.
A Angela de Jennifer Carpenter está diferente, mais amadora, não parece capaz de ter um rasgo de coragem que a leve a procurar respostas.