12 de agosto de 2009

"The Last House on the Left" por Nuno Reis


Quando a indústria do cinema produz 600 longas-metragens por ano percebe-se que as ideias rareiem e seja necessário recorrer ao remake. Quanto mais específico o género mais difícil é encontrar bons argumentistas e o terror raramente vê surgir um novo talento (o mais recente que me lembro foi James Wan).
Entre os nomes da velha guarda, cujo nome basta para nos causar arrepios, Wes Craven é o mais sonante. Desde professor, DJ e taxista até rei do terror passaram vários anos. Mas quando começou revolucionou o cinema. Pode ter entrado para a história com as sagas "Nightmare in Elm Street" e "Scream", mas já antes tinha causado muito medo com os perturbadores "The Last House on the Left" e "The Hills Have Eyes". O segundo, cinco anos mais novo, tinha sido repensado por Alexandre Aja no seu início de carreira. Chegada a hora de reinventar o primeiro a escolha recaiu sobre Dennis Iliadis, também um novato onde viram potencial.

A história acompanha um trio de psicopatas que rapta Mari e Paige, duas jovens de 17 anos que estavam no local errado à hora errada. Depois de torturar e violar as jovens os criminosos procuram abrigo do temporal numa casa junto ao lago. Nessa casa estão os pais de Mari que irão enfrentar os monstros de aspecto humano para vingar e proteger a filha.

Quem viu o original sabe que não era um filme para fracos de coração. As pessoas impressionáveis, as pessoas decentes e as pessoas com sanidade mental ficavam visivelmente incomodadas. É daqueles filmes que se me dissessem que causou vómitos na sala eu perguntaria quantas dezenas. Os criminosos mais abomináveis, as vítimas mais inocentes, violações continuadas e repetitivas à dignidade humana... e o acaso que reúne os perpetradores do mal com aqueles que falharam redondamente no seu compromisso de proteger a vítima de tudo que o mundo tinha de mau. Um filme inesquecível que derrubou os últimos pudores de Hollywood e revelou um génio ao serviço do cinema.
Esta sequela deu-me algum receio. Quando Craven como produtor diz que o acha melhor do que o seu original lembrei-me de Spielberg a dizer que a sua produção "Transformers 2" era o melhor filme que tinha visto. Se querem honestidade não perguntem a quem fez o filme o que acha dele e nunca, mas mesmo nunca, perguntem a quem é pago proporcionalmente ao sucesso do filme.
O remake é diferente do original. Está actualizado e prefere o terror psicológico à brutalidade física. Mantém cenas chocantes - ainda não é para todos os públicos - mas são mais breves e limitadas. Não ficou mais realista, ficou mais moralmente aceitável. Tem como ponto forte uma grande riqueza em detalhes que um segundo visionamento poderá ajudar a encontrar.

Enquanto o primeiro recorreu a desconhecidos, estrelas momentâneas do exploitation e vedetas de um cinema não mainstream, este já tem actores com mais alguma fama.
A mãe é Monica Potter, actriz que depois de alguns papeis secundários se redescobriu no thriller aos 30 anos como protagonista de "Along Came a Spider" e "Saw". A filha é interpretada por Sara Paxton, uma criança-actriz agora bastante mais crescida que já foi sereia apaixonada em "Aquamarine", donzela em apuros em "Superhero Movie" e bruxa sem poderes em "Sydney White", é agora uma nadadora em apuros. A haver uma bruxa seria Riki Lindhome, actriz/cantora/realizadora que com este soma três filmes cá estreados em 2009. Apesar de recomendar o seu trabalho cómico-musical (Youtube) em cinema ainda pouco tem digno de destaque. A quarta e última mulher é Martha MacIsaac ("Superbad") que apesar do menor tempo em cena revela muito potencial.
Do lado masculino todos tinham um extenso currículo. Mesmo o jovem Spencer Treat Clark aos 16 anos já tinha sido dirigido por Ridley Scott, Shyamalan e Eastwood. O desempenho dele é o que merece mais destaque por envolver emoções e um conflito interno. Os restantes tinham apenas de espelhar raiva no rosto de personagens embrutecidas.
Existem ainda duas personagens invisíveis. A mais óbvia é o irmão falecido de Mari que torna os pais extra-protectores em relação à sua única filha. A outra é a crise matrimonial que a ausência dele causa aos pais. A tensão no casal não é referida, é sentida. Meramente um detalhe para tornar as personagens mais humanas.

Coloca em discussão os limites morais da violência. Quando é que a auto-defesa passa a ser ataque? Que crimes justificam outros crimes? Haverá casos em que a prisão perpétua ou pena de morte não sejam castigo suficiente? Casos de marginais que não mereçam ser tratados como seres vivos?
Não sendo um filme para todos os públicos é um bom filme de terror numa época em que a oferta de sessões da meia-noite não costuma ser muito rica. Não chega para dar uns saltos, mas perturba quanto baste e a classificação "Maiores de 16" dada por alguns países é incompreensível.

Título Original: "The Last House on the Left" (EUA, 2009)
Realização: Dennis Iliadis
Argumento: Adam Alleca, Carl Ellsworth (original de Wes Craven)
Intérpretes: Sarah Paxton, Garret Dillahunt, Aaron Paul, Monica Potter, Tony Goldwyn, Riki Lindhome, Spencer Treat Clark, Martha MacIsaac
Fotografia: Sharone Meir
Música: John Murphy
Género: Crime, Drama,Terror
Duração: 110 min.
Sítio Oficial: http://www.thelasthouseontheleft.com/

2 comentários:

Tiago Ramos disse...

Tenho bastante curiosidade em ver este!

Daniela disse...

É realmente muito bom!
E impressiona imenso, tive de fazer uma pausa a meio, visto que tenho um estômago um pouco sensível. Mas gostei mesmo!!