O filme mais falado do ano não é falado. Visto que algumas pessoas pediram o dinheiro do bilhete de volta por se terem sentido enganadas, convém avisar logo à partida que é um filme mudo. A história acompanha a ascensão e queda das estrelas numa das maiores mudanças da sétima arte.
Quando o digital chegou, rapidamente matou a Kodak que era das empresas mais antigas no ramo cinematográfico e isso faz pensar. Quando a cor chegou, ninguém perdeu o emprego por ter o tom de pele errado. Quando o 3D chegou ninguém perdeu o emprego no cinema por ter as formas erradas. Aliás, André De Toth era cego de um olho quando fez o 3D “House of Wax” em 1953. Mas se recuarmos até quando o som chegou, então veremos como a indústria foi cruel para tantos artistas. Como nos contam neste filme.
No tempo do cinema mudo, o importante era ter presença e ser expressivo. George Valentin e o seu cão faziam a delícia das multidões em todos os filmes onde entravam. Eram os anos 20 e a projecção de um filme era sonorizada por uma orquestra ao vivo, como se o filme fosse uma peça de teatro e a tela fosse apenas uma forma de diluir os custos em cenários e pessoal, ao mesmo tempo que maximizava a qualidade interpretativa. Valentin como senhor absoluto do cinema é uma pessoa bem disposta que espalha alegria. Uma das pessoas bafejadas com a sua boa disposição é Peppy Miller, uma aspirante a actriz que ele acolhe e aconselha. Só que os tempos evoluem e o som prepara-se para mudar as regras do jogo. Valentin recusa-se a gravar com som, enquanto Peppy, deslumbrada com o admirável mundo novo, está preparada para conquistar um lugar na indústria.
Quando se fala de filmes sobre o apogeu e queda das estrelas de cinema, “Sunset Boulevard” é o patamar que ninguém consegue atingir. Aqui a fórmula é muito semelhante, mas em vez de vermos uma estrela caída, vemos uma estrela cadente, caindo escadas abaixo numa luta por uma causa perdida. E mais, é contado recorrendo às técnicas disponíveis nos anos do cinema mudo, com a tecnologia actual. Os sons são muito raros, apesar de a música ser omnipresente. Os ainda mais raros efeitos especiais são próximos dos que Méliès fazia. Os actores dispensam entretítulos para serem percebidos.
O que tem de extraordinário o filme de que todos falam? Posso dizer em apenas uma palavra e aqui fica: é mudo.
As interpretações não são incomparáveis e merecedoras de Oscar. São personagens simpáticas e tanto Valentin como Peppy são carismáticos à sua forma muito especial, mas o melhor actor é Ugie e esse já ganhou tanto o prémio de melhor cão em Cannes como há dias nos Movie Dog Awards. Nos secundários James Cromwell está muito bem, Malcolm McDowell tem um cameo e John Goodman grita no silêncio é engraçado. Para um elenco adjuante deste nível o argumento deve ter sido apelativo. Sim, a história é simpática. Como se fosse um filme de Keaton.
É bom poder mergulhar num filme assim tão diferente de vez em quando - sem conversas da treta, sem zooms inúteis, sem cortes desnecessários nos planos - mas a sensação ao sair da sala é a de que simplesmente nos plantaram no subconsciente um enorme desejo de ver filmes da época em que o cinema era amador.
No final somos presenteados com uma triste realidade que é o ponto algo. O sincronismo coreografado dos filmes só é real na película. Quando assistimos à rodagem eles estão desalinhados como pessoas reais. A vantagem da magia do cinema é sabermos que para a posteridade ficará apenas a perfeição.
Quando o digital chegou, rapidamente matou a Kodak que era das empresas mais antigas no ramo cinematográfico e isso faz pensar. Quando a cor chegou, ninguém perdeu o emprego por ter o tom de pele errado. Quando o 3D chegou ninguém perdeu o emprego no cinema por ter as formas erradas. Aliás, André De Toth era cego de um olho quando fez o 3D “House of Wax” em 1953. Mas se recuarmos até quando o som chegou, então veremos como a indústria foi cruel para tantos artistas. Como nos contam neste filme.
No tempo do cinema mudo, o importante era ter presença e ser expressivo. George Valentin e o seu cão faziam a delícia das multidões em todos os filmes onde entravam. Eram os anos 20 e a projecção de um filme era sonorizada por uma orquestra ao vivo, como se o filme fosse uma peça de teatro e a tela fosse apenas uma forma de diluir os custos em cenários e pessoal, ao mesmo tempo que maximizava a qualidade interpretativa. Valentin como senhor absoluto do cinema é uma pessoa bem disposta que espalha alegria. Uma das pessoas bafejadas com a sua boa disposição é Peppy Miller, uma aspirante a actriz que ele acolhe e aconselha. Só que os tempos evoluem e o som prepara-se para mudar as regras do jogo. Valentin recusa-se a gravar com som, enquanto Peppy, deslumbrada com o admirável mundo novo, está preparada para conquistar um lugar na indústria.
Quando se fala de filmes sobre o apogeu e queda das estrelas de cinema, “Sunset Boulevard” é o patamar que ninguém consegue atingir. Aqui a fórmula é muito semelhante, mas em vez de vermos uma estrela caída, vemos uma estrela cadente, caindo escadas abaixo numa luta por uma causa perdida. E mais, é contado recorrendo às técnicas disponíveis nos anos do cinema mudo, com a tecnologia actual. Os sons são muito raros, apesar de a música ser omnipresente. Os ainda mais raros efeitos especiais são próximos dos que Méliès fazia. Os actores dispensam entretítulos para serem percebidos.
O que tem de extraordinário o filme de que todos falam? Posso dizer em apenas uma palavra e aqui fica: é mudo.
As interpretações não são incomparáveis e merecedoras de Oscar. São personagens simpáticas e tanto Valentin como Peppy são carismáticos à sua forma muito especial, mas o melhor actor é Ugie e esse já ganhou tanto o prémio de melhor cão em Cannes como há dias nos Movie Dog Awards. Nos secundários James Cromwell está muito bem, Malcolm McDowell tem um cameo e John Goodman grita no silêncio é engraçado. Para um elenco adjuante deste nível o argumento deve ter sido apelativo. Sim, a história é simpática. Como se fosse um filme de Keaton.
É bom poder mergulhar num filme assim tão diferente de vez em quando - sem conversas da treta, sem zooms inúteis, sem cortes desnecessários nos planos - mas a sensação ao sair da sala é a de que simplesmente nos plantaram no subconsciente um enorme desejo de ver filmes da época em que o cinema era amador.
No final somos presenteados com uma triste realidade que é o ponto algo. O sincronismo coreografado dos filmes só é real na película. Quando assistimos à rodagem eles estão desalinhados como pessoas reais. A vantagem da magia do cinema é sabermos que para a posteridade ficará apenas a perfeição.
Título Original: "The Artist" (Bélgica, França, 2011) Realização: Michel Hazanavicius Argumento: Michel Hazanavicius Intérpretes: Jean Dujardin, Bérénice Bejo, John Goodman, James Cromwell Música: Ludovic Bource Fotografia: Guillaume Schiffman Género: Comédia, Drama, Romance Duração: 100 min. Sítio Oficial: http://www.warnerbros.fr/the-artist |
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