"It's All About Love" por Ricardo Clara
2021. Claire Danes é Elena, uma famosa patinadora no gelo que se encontra separada do ainda seu marido John (Joaquin Phoenix). O tempo encarregou-se de esfriar uma relação que parecia destinada ao sucesso. John vive na Polónia, enquanto que Elena está radicada em Nova Iorque, onde se desdobra entre treinos e espectáculos. Aquilo que seria uma simples viagem à "capital do mundo" para assinar os papéis de divórcio transformou-se numa operação de resgate, acabando o casal por fugir de todos aqueles que dependem de Elena para viver. Sim, porque Thomas Vinterberg faz gáudio em mostrar que, sem amor, o coração pára, e encontramos vezes sem conta corpos inertes estendidos pelas ruas de Nova Iorque, constantemente ignorados pela população, que passa indiferente. "It's All About Love" é um delírio egocêntrico visual. Um poema em forma de imagem, uma fábula sobre o amor, um conto acerca do desespero. Vinterberg, que surpreendeu meio mundo com "Festen" em 1998, e criador do movimento Dogma95, traz-nos agora um filme com claras influências clássicas e românticas, com base no argumento por si escrito e por Mogens Rukov. Mas peca essencialmente no aspecto argumentativo, pois a beleza visual não deixa esquecer a história um pouco inverosímil, mesmo surgindo certas mensagens subliminares, numa espécie de versão apocalíptica do amor. Vinterberg deixa o aviso: se não há amor, as pessoas morrem de solidão interior e o mundo entra em colapso, arrefecendo, ficando frio como o coração só do ser humano. |
"It's All About Love" é um jogo. Uma dicotomia claro/escuro, quente/frio, amor/solidão, mas que pende sempre para o lado negativo destas antíteses. É claramente um produto pós-11 de Setembro, onde o realizador se vê colocado num mundo caótico, pré-apocalíptico e trazendo de volta o cinema pessimista, que não dá nem uma resposta para as preocupações que o apoquentam. Ou será que a morte será para ele a solução? Já a história se encontra de facto colocada num plano inferior ao da mensagem. Terá sido o colocar uma narrativa numa ideia que por tão poética se apresentar, acaba por se revelar de extrema dificuldade a passagem para o suporte visual. E Vinterberg falhou nesse aspecto. Porque o objectivo está lá. Falta a base argumentativa para a transmissão da referida mensagem.
Não posso deixar de referir o papel de Sean Penn, que se encontra absolutamente fabuloso, para quem se limita a passar o filme a falar ao telefone numa chamada interminável. Depreendo que uma chamada para o eterno... O cerne do filme encontra-se sem dúvida nas palavras deste actor. A química entre Joaquin Phoenix e Claire Danes existe e é bem tratada, formando um par trágico ao melhor estilo de Romeu e Julieta. Uma palavra também para a fotografia, fruto do trabalho do britânico Anthony Dod Mantle, que trabalhou em "Festen" de Vinterberg, "28 Days Later" de Danny Boyle e "Dogville" de Lars Von Trier, aproveitando a diversidade de planos trazida pelo realizador. Claras influências de Hitchcock, quer na narrativa intriguista e misteriosa, quer por vezes na disposição dos actores (vide por exemplo a curta cena em que John é recebido de forma austera por toda a "família" de Elena, após ela ser levada de volta para o hotel; é uma cena onde a colocação dos actores em meia-lua, como um grupo de juízes que avaliam o comportamento do convidado, imprimindo um pesado ambiente à cena, levam, na minha perspectiva, a lembrar o cinema de Hitchcock e de Robert Altman).
Como explica Vinterberg na sua nota de intenções, "It's All About Love" "é o resultado de como a vida nos emocionou num período de grande mudança. Através do meu olhar, o meu mundo é a minha mulher e as minhas duas filhas de vestidos cor-de-rosa e patins. São notícias de jornal sobre pedaços de gelo que caem do céu. É o 11 de Setembro. São as cheias na Europa. São as pessoas que vivem nas ruas. Mas também os aeroportos, hospedeiras simpáticas, pessoas apaixonadas e pessoas ao telemóvel".
Não posso deixar de referir o papel de Sean Penn, que se encontra absolutamente fabuloso, para quem se limita a passar o filme a falar ao telefone numa chamada interminável. Depreendo que uma chamada para o eterno... O cerne do filme encontra-se sem dúvida nas palavras deste actor. A química entre Joaquin Phoenix e Claire Danes existe e é bem tratada, formando um par trágico ao melhor estilo de Romeu e Julieta. Uma palavra também para a fotografia, fruto do trabalho do britânico Anthony Dod Mantle, que trabalhou em "Festen" de Vinterberg, "28 Days Later" de Danny Boyle e "Dogville" de Lars Von Trier, aproveitando a diversidade de planos trazida pelo realizador. Claras influências de Hitchcock, quer na narrativa intriguista e misteriosa, quer por vezes na disposição dos actores (vide por exemplo a curta cena em que John é recebido de forma austera por toda a "família" de Elena, após ela ser levada de volta para o hotel; é uma cena onde a colocação dos actores em meia-lua, como um grupo de juízes que avaliam o comportamento do convidado, imprimindo um pesado ambiente à cena, levam, na minha perspectiva, a lembrar o cinema de Hitchcock e de Robert Altman).
Como explica Vinterberg na sua nota de intenções, "It's All About Love" "é o resultado de como a vida nos emocionou num período de grande mudança. Através do meu olhar, o meu mundo é a minha mulher e as minhas duas filhas de vestidos cor-de-rosa e patins. São notícias de jornal sobre pedaços de gelo que caem do céu. É o 11 de Setembro. São as cheias na Europa. São as pessoas que vivem nas ruas. Mas também os aeroportos, hospedeiras simpáticas, pessoas apaixonadas e pessoas ao telemóvel".
Título Original: "It's All About Love"
Realização: Thomas Vinterberg (EUA / Japão / Suécia / Reino Unido / Dinamarca / Alemanha / Holanda - 2003)
Intérpretes: Joaquin Phoenix, Claire Danes, Sean Penn, Douglas Henshall
Argumento: Thomas Vinterberg e Mogens Rukov
Fotografia: Anthony Dod Mantle
Música: Nikolaj Egelund e Zbigniew Preisner
Género: Drama
Duração: 104 minutos
Sítio oficial: http://www.tvropa.com/itsallaboutlove/
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