4 de novembro de 2004

"The Manchurian Candidate" por Nuno Reis



Em 1962 foi feito um dos melhores filmes de sempre, o seu nome era "The Machurian Candidate" e juntava Frank Sinatra no seu pico de carreira, com Janet Leigh que tinha feito anos antes "Touch of Evil" e "Psycho", e ainda tinha os nomes de Angela Lansbury e Laurence Harvey. Isto aliado ao talento e experiência militar de John Frankenheimer (o segundo homem da US Air Force a cruzar a barreira do som) resultou num grande filme sobre lavagens cerebrais, manipulação, guerra e desconfiança. Este ano Jonathan Demme tentou devolver um pouco da magia desse filme.

As personagens mantêm quase todas o nome mas o elenco é bem diferente, aos nomes de Denzel Washington e Meryl Streep, incontornáveis do cinema actual, juntam-se os rostos familiares de Jon Voight e Liev Schreiber ("Scream") e a Guerra da Coreia é substituída pela do Golfo (a primeira).

Raymond Shaw foi agraciado com a Medalha de Honra por ter salvo o seu pelotão da morte certa durante uma operação no deserto. Todos os seus companheiros acharam que era merecida mas, anos depois, o seu Major encontra um antigo elemento dessa equipa e ouvindo as suas histórias convence-se que os seus sonhos são reais, decide ignorar as ordens recebidas e investigar o que realmente se passou. Lavagens cerebrais, implantes, homicídios entre companheiros, conspirações, tudo é mostrado, uma ameaça global paira sobre os EUA e ninguém se apercebe.
Estes últimos anos os EUA têm vivido uma ameaça constante, as imensas dúvidas relativas à validade da eleição do seu líder são desestabilizadoras e a quinta coluna, os homens infiltrados no seu seio, são o maior perigo que alguma vez conheceram.

O filme consegue apoiar-se na cegueira americana e destruir o estereótipo de herói que foi usado em tantos filmes. O final mostra-nos que o sacrifício é o último trunfo do herói americano mas torna-se de difícil compreensão e, como disse atrás, a ideia de herói é algo que existe apenas para quem não sabe toda a verdade, quem a sabe percebe que o herói teria de morrer.

Peca por não ser suficientemente psicológico e ter algumas pontas soltas, os sonhos repetitivos não convencem. É um daqueles filmes que obriga a pensar mas considero que a ideia-base não foi bem transmitida, levanta apenas a ponta do véu sobre os perigos por desvendar da política. Com muitos detalhes interessantes, perguntas pertinentes e acontecimentos inesperados mas sem que tenha demasiada acção o filme é uma crítica mordaz à actualidade. Acho que o desprezo pela Medalha é um detalhe crucial.

O Candidato se tivesse de ser refeito era agora mas, seria necessário?

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