O cinema sul americano oferece-nos, cada vez mais, uma visão da sua história, numa espécie de catarse e revivalismo dos medos e vergonhas que só agora surgem como abordáveis ficcionalmente. É assim no Brasil do "Cidade de Deus" ou no "El Comité" do Equador, e agora neste olhar para a ditadura argentina, que decorreu entre 1976 e 1985, num processo de paulatina perda do pendor democrático estadual iniciado em 1955.
Recentemente, "Botín de Guerra" e "Kamchatka" iniciaram esta visão sobre o período conturbado na década de 70 / 80, sendo que este "Crónica de una fuga" vem dar uma abordagem importante do papel dos presos políticos dos insurgentes argentinos. Em 1976, polícias e agentes do regime raptavam jovens, muitos deles ligados à oposição, com o intuito de terminar pela raiz com os possíveis levantamentos populares. De entre eles, encontrava-se Claudio Tamburrini (Rodrigo De la Serna), um jovem guarda-redes de uma pequena equipa de futebol, acusado de imprimir folhetos de propaganda. Uma vez na posse dos captores, foi enviado para a Mansión Seré (ou Átila), uma casa nos arredores da capital argentina onde os presos eram distribuídos por salas, torturados e impedidos de falar com as respectivas famílias. Na mesma divisão que Claudio estava Guillermo Fernandez (Nazareno Casero), Gallego (Lautaro Delgado) e Vasco (Matias Marmorato). Juntos, sobreviveram 120 dias em cativeiro, 3 meses mais do que o grosso dos raptados, o que os impedia de saber as rotinas dos raptores, bem como a verdadeira dimensão da casa e do seu exterior. Constantemente vendados e algemados, vergastados e queimados, viviam nus e despojados de qualquer peça de roupa, constantemente assediados para revelarem os nomes e paradeiro de muitos daqueles que estavam a montar a oposição ao regime, debaixo do cada vez mais iminente espectro da morte. Juntos, encetam um plano de fuga, liderados por Guillermo e munidos... de um parafuso.
E é pelo olhar do uruguaio Adrián Caetano que nos chega um filme muito cativante, honesto e visceral, aliado à interpretação despojada de pudor e carregada de sentimento de Rodrigo De la Serna ("Diários de Motocicleta" - 2004), um dos melhores actores da sua geração. Apoiado numa realização de câmara ao ombro em momentos de tensão, contra movimentos subtis e fugazes da lente, como se estivessemos a assistir de longe e sem mais ninguém saber, envolvemo-nos num filme que é mais do que um documentário ficcional, uma história viva do cada vez mais pungente cinema argentino. Destaque ainda para a fotografia de Julián Apezteguía, de grande pureza, para a reconstituição da época, muitíssimo apurada, bem como para dois belos pormenores: o final descomprometido e associado ao movimento; e ainda para a inscrição "Gracias Lucas", cheia de ironia e ódio.
Recentemente, "Botín de Guerra" e "Kamchatka" iniciaram esta visão sobre o período conturbado na década de 70 / 80, sendo que este "Crónica de una fuga" vem dar uma abordagem importante do papel dos presos políticos dos insurgentes argentinos. Em 1976, polícias e agentes do regime raptavam jovens, muitos deles ligados à oposição, com o intuito de terminar pela raiz com os possíveis levantamentos populares. De entre eles, encontrava-se Claudio Tamburrini (Rodrigo De la Serna), um jovem guarda-redes de uma pequena equipa de futebol, acusado de imprimir folhetos de propaganda. Uma vez na posse dos captores, foi enviado para a Mansión Seré (ou Átila), uma casa nos arredores da capital argentina onde os presos eram distribuídos por salas, torturados e impedidos de falar com as respectivas famílias. Na mesma divisão que Claudio estava Guillermo Fernandez (Nazareno Casero), Gallego (Lautaro Delgado) e Vasco (Matias Marmorato). Juntos, sobreviveram 120 dias em cativeiro, 3 meses mais do que o grosso dos raptados, o que os impedia de saber as rotinas dos raptores, bem como a verdadeira dimensão da casa e do seu exterior. Constantemente vendados e algemados, vergastados e queimados, viviam nus e despojados de qualquer peça de roupa, constantemente assediados para revelarem os nomes e paradeiro de muitos daqueles que estavam a montar a oposição ao regime, debaixo do cada vez mais iminente espectro da morte. Juntos, encetam um plano de fuga, liderados por Guillermo e munidos... de um parafuso.
E é pelo olhar do uruguaio Adrián Caetano que nos chega um filme muito cativante, honesto e visceral, aliado à interpretação despojada de pudor e carregada de sentimento de Rodrigo De la Serna ("Diários de Motocicleta" - 2004), um dos melhores actores da sua geração. Apoiado numa realização de câmara ao ombro em momentos de tensão, contra movimentos subtis e fugazes da lente, como se estivessemos a assistir de longe e sem mais ninguém saber, envolvemo-nos num filme que é mais do que um documentário ficcional, uma história viva do cada vez mais pungente cinema argentino. Destaque ainda para a fotografia de Julián Apezteguía, de grande pureza, para a reconstituição da época, muitíssimo apurada, bem como para dois belos pormenores: o final descomprometido e associado ao movimento; e ainda para a inscrição "Gracias Lucas", cheia de ironia e ódio.
Título Original: "Crónica de una fuga" (Argentina, 2006) Realização: Adrián Caetano Argumento: Adrián Caetano e Claudio Tamburrini (autor de "Paso Libre") Intérpretes: Rodrigo De la Serna, Nazareno Casero, Lautaro Delgado e Matías Marmorato Fotografia: Julián Apezteguía Música: Iván Wyszogrod Género: Thriller Duração: 103 min Sítio Oficial: http://www.cronicadeunafuga.com |
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