Um dos mais aclamados indie do ano passado foi este “Martha, Marcy May, Marlene”. Aqui somos apresentados a Martha que, apesar de jovem, já passou por muito. Numa das suas deambulações de adolescente foi parar a uma comunidade nas montanhas Catskill. Com a lavagem cerebral que lhe é feita pelo culto não só muda de nome para Marcy May como perde a capacidade de decidir e de julgar. Até que um dia não aguenta mais e foge. A história acompanha Martha no regresso à vida normal junto da irmã mais velha a quem esconde o seu passado. Só que o passado não permanece escondido. Alucinações da vida como Marcy assombram-lhe o presente a tal ponto que não sabe onde e quando está colocando em risco os que a rodeiam.
Este filme foi profundamente aclamado pelos círculos de críticos por todo o país e em Sundance, mas acabou por fracassar nos prémios maiores. Isso talvez seja fácil de explicar pois a maioria dos prémios que teve foram de realizador ou actriz revelação e nessa área percebe-se que tenha dizimado a concorrência. Os estados em que ganhou contra gente grande ( Arizona, Ohio, Vancouver) podem simplesmente ter sentido empatia por esta história, tão perturbadora para o comum americano. É que esta família é em tudo semelhante aos cultos que loucos como Charles Manson criavam. Os pseudónimos, o sexo ritual, a hierarquia, os ideais, a relação com o mundo, as consequências para os membros e para o exterior.... Por isso há duas formas de ver o filme: como uma criação de um imaginário doentio; ou como um retrato de uma realidade escondida que persiste até aos nossos dias. Aqueles que conseguiram tirar o corpo dos cultos continuam com a mente presa a falsos costumes e valores. Mazelas que os impedem de se reintegrarem na sociedade convencional e os deixam perdidos entre dois mundos.
Entre os actores destacam-se Sarah Paulson (de “Studio 60”) como a irmã compreensiva e John Hawkes (“Winter’s Bone”) como líder do culto. E a actriz que faz o filme sozinha é Elizabeth Olsen. A personagem é uma mulher frágil, manipulável, que como cada eleemnto do grupo tem a sua parte de culpa no facto de ter a vida arruinada. E no entanto não conseguimos deixar de sentir pena dela e de tentar culpabilizar a comunidade. O desempenho da jovem Olsen (é irmã daquelas gémeas actrizes que se tornaram as mais jovens trabalhadoras de sempre a chegarem a milionárias) é bom - não é por culpa dela que o conjunto falha - e é com agrado que se vê que tem novos filmes a caminho. Esta moda hollywoodesca de ir buscar as irmãs mais nova de actrizes conhecidas (Fanning, Mara, Olsen) continua a dar bons resultados.
A realização de Sean Durkin é extremamente competente, a fusão das realidades está bem feita e o lote de actores é mais do que adequado. A fotografia tem aquele toque de realidade que só num indie se consegue sentir. Só que o argumento precisava de ser melhor trabalhado. O passado ser revelado aos poucos é um trunfo muito bem aproveitado, mas o presente fica perdido por entre os devaneios, tal como se o espectador fosse a personagem que não sabe onde está. E quanto ao futuro é uma valente incógnita. Ora quando nos fazem apegar à indefesa Martha (não confundir com a manipulada Marcy May de quem não queremos saber) queremos saber mais. Precisamos de saber mais. Assim parte rumo ao esquecimento, tal como o filme e o alerta que quisesse transmitir.
Nota: Quanto à Marlene, estejam atentos para a descobrirem.
Este filme foi profundamente aclamado pelos círculos de críticos por todo o país e em Sundance, mas acabou por fracassar nos prémios maiores. Isso talvez seja fácil de explicar pois a maioria dos prémios que teve foram de realizador ou actriz revelação e nessa área percebe-se que tenha dizimado a concorrência. Os estados em que ganhou contra gente grande ( Arizona, Ohio, Vancouver) podem simplesmente ter sentido empatia por esta história, tão perturbadora para o comum americano. É que esta família é em tudo semelhante aos cultos que loucos como Charles Manson criavam. Os pseudónimos, o sexo ritual, a hierarquia, os ideais, a relação com o mundo, as consequências para os membros e para o exterior.... Por isso há duas formas de ver o filme: como uma criação de um imaginário doentio; ou como um retrato de uma realidade escondida que persiste até aos nossos dias. Aqueles que conseguiram tirar o corpo dos cultos continuam com a mente presa a falsos costumes e valores. Mazelas que os impedem de se reintegrarem na sociedade convencional e os deixam perdidos entre dois mundos.
Entre os actores destacam-se Sarah Paulson (de “Studio 60”) como a irmã compreensiva e John Hawkes (“Winter’s Bone”) como líder do culto. E a actriz que faz o filme sozinha é Elizabeth Olsen. A personagem é uma mulher frágil, manipulável, que como cada eleemnto do grupo tem a sua parte de culpa no facto de ter a vida arruinada. E no entanto não conseguimos deixar de sentir pena dela e de tentar culpabilizar a comunidade. O desempenho da jovem Olsen (é irmã daquelas gémeas actrizes que se tornaram as mais jovens trabalhadoras de sempre a chegarem a milionárias) é bom - não é por culpa dela que o conjunto falha - e é com agrado que se vê que tem novos filmes a caminho. Esta moda hollywoodesca de ir buscar as irmãs mais nova de actrizes conhecidas (Fanning, Mara, Olsen) continua a dar bons resultados.
A realização de Sean Durkin é extremamente competente, a fusão das realidades está bem feita e o lote de actores é mais do que adequado. A fotografia tem aquele toque de realidade que só num indie se consegue sentir. Só que o argumento precisava de ser melhor trabalhado. O passado ser revelado aos poucos é um trunfo muito bem aproveitado, mas o presente fica perdido por entre os devaneios, tal como se o espectador fosse a personagem que não sabe onde está. E quanto ao futuro é uma valente incógnita. Ora quando nos fazem apegar à indefesa Martha (não confundir com a manipulada Marcy May de quem não queremos saber) queremos saber mais. Precisamos de saber mais. Assim parte rumo ao esquecimento, tal como o filme e o alerta que quisesse transmitir.
Nota: Quanto à Marlene, estejam atentos para a descobrirem.
Título Original: "Martha Marcy May Marlene" (EUA, 2011) Realização: Sean Durkin Argumento: Sean Durkin Intérpretes: Elizabeth Olsen, John Hawkes, Sarah Paulson, Hugh Dancy, Brady Corbet Música: Daniel Bensi, Saunder Jurriaans Fotografia: Jody Lee Lipes Género: Drama, Thriller Duração: 102 min. Sítio Oficial: http://www.foxsearchlight.com/marthamarcymaymarlene/ |
2 comentários:
Esse é um dos filmes mais intrigantes dos últimos anos. Preciso rever!
Intrigante, sim. mas foi um pouco indigesto e não o quero rever tão cedo.
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