4 de março de 2005

"Freeze Frame" por Nuno Reis

Não é raro vermos histórias sobre os sobreviventes de um crime, como são afectadas as mentes de quem assistiu a um massacre, ou mesmo de quem foi vítima e escapou miraculosamente. Nem é insólito ver como muda a forma de pensar num criminoso, o arrependimento sentido depois de ter cometido uma atrocidade, usualmente quando já está em tribunal ou condenado a uma pena pesada. Porém, não considero normal ver um filme que conte como fica destruída a mente de um não-criminoso, de um suspeito que não é culpado e tem o seu nome arrastado na lama e a vida em risco por pensarem que ele fez algo. É essa a história de Sean Veil, um homem que teve o azar de estar no local errada à hora errada e sem testemunhas. Ficou afectado por ser acusado? Sim, a tal ponto que, para ter sempre provas, se filma 24 horas por dia tendo para esse efeito uma câmara como peça fundamental do vestuário e várias outras dezenas espalhadas pela casa.

Todos os segundos dos seus últimos dez anos estão guardados, todos esses frames são provas de não ter praticado crimes. Mas por que razão nesses dez anos só faltam algumas horas? E por que são essas horas coincidentes com outro crime do qual é acusado? Será que o vídeo mente? E antes das filmagens? Será que o brutal assassínio das Jasper, o tal que o levou aos tribunais, foi cometido por ele? A polícia diz que sim, os psicólogos também, e o público acredita neles... Veil será um infeliz azarado ou um genial criminoso?
Numa sociedade em que a “segurança colectiva” invade a privacidade, um único homem quer ser filmado. Talentosa é a obra de John Simpson, esta primeira longa como argumentista e realizador obriga a ter muita atenção ao seu futuro. Para mim é um dos filmes que marca o festival.

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