"Charlie and the Chocolate Factory" por Ricardo Clara
Burton e a Fábrica de Sonhos
Por vezes, existem filmes que, pela sua magia e sedução, nos transportam automaticamente durante algumas horas para um mundo de encantamento alternativo e apaixonante. "Charlie and the Chocolate Factory" / "Charlie e a Fábrica de Chocolate" é um deles. Começa a ser banal falar do universo de Tim Burton, um fabulador por excelência, construtor de algumas das personagens mais excêntricas e complexas que o cinema conseguiu apresentar - casos de Pee-wee Herman, Edward Scissorhands ou Ed Wood revisitado, estes dois últimos interpretados por Johnny Depp, já figura incontornável do cinema burtoniano. E é este mesmo actor que vesta a pele daquele que será, concerteza, o papel da sua vida - o admirável chocolateiro Willy Wonka, um study-case por excelência, de quem falarei mais à frente.
Mas vamos por partes: Roald Dahl, escritor galês de grande sucesso no mundo anglo-saxónico, autor de livros como "James and the Giant Peach" ou "Matilda", ambos adapatados para cinema, criou em 1964 "Charlie and the Chocolate Factory", que viria a ser adaptado pela primeira vez para o cinema em 1971 com o título original de "Willy Wonka & the Chocolate Factory", realizado por Mel Stuart e com Gene Wilder no papel de Wonka. Chegamos então a 2005, ano em que Tim Burton, autor de filmes como "Edward Scissorhands", "Sleepy Hollow" ou "Batman", no último filme que se aproxima à verdadeira estética do expressionismo alemão, uma obra negra e dura, que pessoalmente admiro, parte para a derradeira adaptação desta obra de Dahl. E se muitos ficaram algo desiludidos com a faceta de bonzinho que nos foi apresentada com "Big Fish" em 2003, Burton volta em grande força com um ambiente noir e cáustico nesta nova aproximação ao "ambiente burtoniano".
Mas vamos então à história: Willy Wonka, o maior fabricante de chocolates do mundo, possui uma enorme fábrica que encerrou as suas portas à entrada de trabalhadores à mais de 15 anos. Um dia, sem que nada o fizesse prever, Wonka coloca cinco talões dourados nos seus chocolates, e quem os encontrar irá passar um dia na apetecida fábrica. Obviamente, a busca desenfreada aos ingressos começa por todo o mundo. E assim, Veruca Salt, uma miúda mimada a quem nunca lhe faltou nada, Augustus Gloop, um jovem glutão alemão com problemas de obesidade, Violet Beuragarde, campeã do mundo de mascar chiclete, e Mike Teavee, um viciado em televisão, que não gosta de chocolate, são os vencedores. O quinto é Charlie Bucket, jovem proveniente de uma família muito pobre, cuja maior riqueza é a união e carinho que partilham no seu seio. Juntos, embarcam numa viagem ao fabuloso mundo da fábrica, onde assistem a rios de chocolate que correm de forma interminável, a um elevador de vidro que leva os seus ocupantes a todo o lado, e conhecem os Oompa Loompa, um povo de anões que ajuda no trabalho da fábrica (numa interpretação fantástica de Gordeep Roy, actor que interpreta os 165 Oompa Loompa que surgem no filme). Paulatinamente, numa selecção feita devido ao carácter das crianças, uma a uma têm um destino cruel, desde cair num enorme depósito de lixo, até ser sugado por um transportador de chocolate. Até restar uma criança, Charlie Bucket, jovem personagem interpretada por Freddie Highmore, uma já grande certeza do cinema norte-americano, que transmite de forma precisa e segura inúmeras sensações e emoções só com as suas expressões faciais ou olhares, a qual vence o grande prémio final.
"Willy Wonka / He's a genius who just can't be beat / The magician and the chocolate wiz". Assim reza o tema de abertura, composto pelo incontornável Danny Elfman (presente em quase todos os filmes de Burton), e que cria aqui uma belíssima banda sonora, adequada ao milímetro a cada cena musicada da película). Wonka é, de facto um case-study, que levaria longas linhas a dissecar. De porte arrojado e vestido de forma extravagante, apresenta laivos de pop-star - aliás, muito se falou sobre as parecenças entre Willy Wonka e Michael Jackson, algo que foi negado (mas não com grande veemência) por parte de Depp. Homem atormentado por uma infância menos vivida, encerrando em si uma forte dependência da sua figura paternal (interpretada por Christopher Lee), homem austero e distante, muito diferente de Albert Finney em "Big Fish". Desde os inúmeros flashbacks dos seus tempos de juventude, até à impossibilidade de conseguir pronunciar a palavra "pai" (gaguejando constantemente quando tenta fazê-lo), Wonka é Depp: na extravagância, na excentricidade e, acima de tudo na genialidade. É, talvez, a mais complexa personagem alguma vez criada no universo burtoniano: por detrás daquele rasgado sorriso, há uma criatura com algo de maléfico e perverso. E a colocação desse estranho elemento, num cenário colorido e extravagante (o da fábrica) ou sombrio (o da cidade), torna a situação bizarra e estranhamente deliciosa. Bem como todo o jogo de cores, que positivamente invade os sentidos, com uma plasticidade só ao alcance dos grandes artistas, onde Burton utiliza todas as suas técnicas provenientes do cinema de animação - e temos completo, um filme de grande densidade emocional, um Walt Disney encontra Fritz Lang, mais uma grande obra de Tim Burton, que nos arrebata a todos. E muito mais ficaria por dizer.
Mas vamos por partes: Roald Dahl, escritor galês de grande sucesso no mundo anglo-saxónico, autor de livros como "James and the Giant Peach" ou "Matilda", ambos adapatados para cinema, criou em 1964 "Charlie and the Chocolate Factory", que viria a ser adaptado pela primeira vez para o cinema em 1971 com o título original de "Willy Wonka & the Chocolate Factory", realizado por Mel Stuart e com Gene Wilder no papel de Wonka. Chegamos então a 2005, ano em que Tim Burton, autor de filmes como "Edward Scissorhands", "Sleepy Hollow" ou "Batman", no último filme que se aproxima à verdadeira estética do expressionismo alemão, uma obra negra e dura, que pessoalmente admiro, parte para a derradeira adaptação desta obra de Dahl. E se muitos ficaram algo desiludidos com a faceta de bonzinho que nos foi apresentada com "Big Fish" em 2003, Burton volta em grande força com um ambiente noir e cáustico nesta nova aproximação ao "ambiente burtoniano".
Mas vamos então à história: Willy Wonka, o maior fabricante de chocolates do mundo, possui uma enorme fábrica que encerrou as suas portas à entrada de trabalhadores à mais de 15 anos. Um dia, sem que nada o fizesse prever, Wonka coloca cinco talões dourados nos seus chocolates, e quem os encontrar irá passar um dia na apetecida fábrica. Obviamente, a busca desenfreada aos ingressos começa por todo o mundo. E assim, Veruca Salt, uma miúda mimada a quem nunca lhe faltou nada, Augustus Gloop, um jovem glutão alemão com problemas de obesidade, Violet Beuragarde, campeã do mundo de mascar chiclete, e Mike Teavee, um viciado em televisão, que não gosta de chocolate, são os vencedores. O quinto é Charlie Bucket, jovem proveniente de uma família muito pobre, cuja maior riqueza é a união e carinho que partilham no seu seio. Juntos, embarcam numa viagem ao fabuloso mundo da fábrica, onde assistem a rios de chocolate que correm de forma interminável, a um elevador de vidro que leva os seus ocupantes a todo o lado, e conhecem os Oompa Loompa, um povo de anões que ajuda no trabalho da fábrica (numa interpretação fantástica de Gordeep Roy, actor que interpreta os 165 Oompa Loompa que surgem no filme). Paulatinamente, numa selecção feita devido ao carácter das crianças, uma a uma têm um destino cruel, desde cair num enorme depósito de lixo, até ser sugado por um transportador de chocolate. Até restar uma criança, Charlie Bucket, jovem personagem interpretada por Freddie Highmore, uma já grande certeza do cinema norte-americano, que transmite de forma precisa e segura inúmeras sensações e emoções só com as suas expressões faciais ou olhares, a qual vence o grande prémio final.
"Willy Wonka / He's a genius who just can't be beat / The magician and the chocolate wiz". Assim reza o tema de abertura, composto pelo incontornável Danny Elfman (presente em quase todos os filmes de Burton), e que cria aqui uma belíssima banda sonora, adequada ao milímetro a cada cena musicada da película). Wonka é, de facto um case-study, que levaria longas linhas a dissecar. De porte arrojado e vestido de forma extravagante, apresenta laivos de pop-star - aliás, muito se falou sobre as parecenças entre Willy Wonka e Michael Jackson, algo que foi negado (mas não com grande veemência) por parte de Depp. Homem atormentado por uma infância menos vivida, encerrando em si uma forte dependência da sua figura paternal (interpretada por Christopher Lee), homem austero e distante, muito diferente de Albert Finney em "Big Fish". Desde os inúmeros flashbacks dos seus tempos de juventude, até à impossibilidade de conseguir pronunciar a palavra "pai" (gaguejando constantemente quando tenta fazê-lo), Wonka é Depp: na extravagância, na excentricidade e, acima de tudo na genialidade. É, talvez, a mais complexa personagem alguma vez criada no universo burtoniano: por detrás daquele rasgado sorriso, há uma criatura com algo de maléfico e perverso. E a colocação desse estranho elemento, num cenário colorido e extravagante (o da fábrica) ou sombrio (o da cidade), torna a situação bizarra e estranhamente deliciosa. Bem como todo o jogo de cores, que positivamente invade os sentidos, com uma plasticidade só ao alcance dos grandes artistas, onde Burton utiliza todas as suas técnicas provenientes do cinema de animação - e temos completo, um filme de grande densidade emocional, um Walt Disney encontra Fritz Lang, mais uma grande obra de Tim Burton, que nos arrebata a todos. E muito mais ficaria por dizer.
Título Original: "Charlie and the Chocolate Factory" (EUA, 2005) Realizador: Tim Burton Intérpretes: Johnny Depp, Freddie Highmore e Helena Bonham Carter Argumento: Roald Dahl Fotografia: Philippe Rousselot Música: Danny Elfman Género: Fantástico Duração: 115 min Sítio Oficial: http://chocolatefactorymovie.warnerbros.com |
1 comentários:
Bela análise! O filme é lindo, é espectacular, é original, fantástico, soberbo.. é exactamente como a carreira de Tim Burton. Obra-prima. Recomendadíssimoooo!
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