12 de janeiro de 2006

"Jarhead" por António Reis

Desenganem-se os que pensam que “Jarhead” é a versão de Sam Mendes de “Platoon” ou “Full Metal Jacket”. Também não é “Three Kings” apesar do contexto. É um filme de recrutas e de uma guerra mas o tom é genuinamente de Sam Mendes. Baseado numa história verídica de um fuzileiro jarhead (cabeça de frasco) designação da gira ds fuzileiros, é um filme sobre o primeira guerra do Iraque a célebre Tempestade no deserto que libertou o Kuwait, apesar de o deixar em chamas.
Começando como um filme de recrutas, daí o título português se aproveitar do conceito de máquina zero, cedo o filme passa dos rituais de iniciação às técnicas de combate e ás torturas de caserna para a situação em cenário de guerra virtual como foram os três meses que o exército americano passou na Arábia Saudita antes da invasão. É assim um filme sobre uma guerra virtual, sempre adiada, contra um inimigo invisível, onde só a areia imensa do deserto e os repórteres de televisão em busca de algumas “cachas” povoam o quotidiano. Neste pelotão abandonado nos confins de uma fronteira imaginária só a loucura parece estar presente. E nesta guerra original, o valente soldado Swoff consegue não matar um único iraquiano e só dispara para comemorar o triunfo. Pelo meio fica a paisagem surreal de um deserto com os poços de petróleo em chamas, a areia viscosa de nafta, um cavalo perdido das coudelarias dos sultões e as carcaças e cadáveres do automóveis e seus ocupantes apanhados ela aviação americana na auto-estrada para Bagdad. Uma visão cínica sobre o serviço militar, sobre a guerra do Bush pai e os interesses do petróleo e sobretudo sobre a anormalidade dos dramas individuais no regresso a casa.
Uma das muitas cenas memoráveis é a exibição de “Apocalipse Now” e da sua cavalgada das valquírias perante a assistência ululante dos fuzileiros prestes a partir para o combate, ou a cena da cassete com o genérico de “Deer Hunter” de Cimino que esconde uma cena hardcore entre a mulher do fuzileiro e um seu vizinho. Apreciem a banda sonora sobretudo o original de Tom Waits que só por si valia o filme. Os fãs de filmes de guerra saíram desiludidos, os fãs de Sam Mendes também, os fãs de cinema não seguramente.





Título Original: "Jarhead" (EUA, 2005)
Realização: Sam Mendes
Intérpretes: Jake Gyllenhaal, Peter Sarsgaard, Jamie Foxx, Chris Cooper
Argumento: William Broyles Jr. baseado na autobiografia de Anthony Swofford
Fotografia: Roger Deakins
Música: Thomas Newmann
Género: Drama, Guerra
Duração: 123 min.
Sítio Oficial: http://www.jarheadmovie.com/

1 comentários:

not_alone disse...

Concordo perfeitamente, acho que este filme foi muito subvalorizado pela crítica internacional. Está ao nível do que Sam Mendes fez em American Beauty.