Presidenciais EUA Vs Cinema
O Antestreia, movido por curiosidade, decidiu contactar Pedro Ribeiro, o jornalista português que se encontra, neste momento, a cobrir as presidenciais de 2 de Novembro nos EUA e que diariamente publica peças no jornal diário Público. Com tantas manifestações anti-Bush (como o concerto "Vote for Change"), decidimos questioná-lo sobre a relação que este escrutínio e o cinema de Hollywood actualmente têm. Aqui fica a resposta, integral, que também pode ser encontrada no seu blog criado para informar sobre as presidenciais 2004. O link já está colocado na barra lateral à bastante tempo, mas nunca é demais relembrar: http://presidenciaiseua.blogspot.com.
"Houve nos últimos meses uma “explosão” do cinema documental, na sua maioria com obras de pequeno orçamento e de teor fortemente anti-Bush.
Quanto a Hollywood, o clima político leva a tentar encontrar mensagens ideológicas em qualquer novo filme. “The Manchurian Candidate”, “remake” de um filme dos anos 60, tinha um conteúdo político óbvio.
Estreia este mês nos EUA uma sátira dos criadores da série South Park, “Team America”, que com marionetes promete disparar em todas as direcções do espectro político americano.
As estrelas de Hollywood envolveram-se mais directamente na fase das primárias democratas. Aí era comum ver-se o actor/realizador Rob Reiner (o genro “cabeça de abóbora” na “sitcom” “All in the Family”) ou o actor Martin Sheen (o “Presidente Bartlett” de “West Wing”) a fazer campanha por Howard Dean.
Mas só nessa fase é que os actores ou cineastas são realmente úteis — porque atraem atenção dos “media” para candidatos menos conhecidos. Neste ponto, o seu papel é marginal — o actor Ben Affleck andava em todo o lado na convenção democrata, mas a imprensa só lhe ligava nas colunas do “social”, porque nessa altura já a luta política tinha ascendido a outro nível.
Os americanos não ligam muito ao que lhe dizem as estrelas do cinema ou da música. Como outro leitor já havia notado, a América é obcecada pela vida privada de actores ou “rockers” — mas quando eles lhes dizem em quem votar, a sua influência é reduzida.
Há até uma atitude do “cala-te e canta” — uma ideia de que é indecoroso os artistas usarem os seus palcos para impor as suas ideias políticas. A atenção alcançada pela “tournée” anti-Bush Vote for Change tem acima de tudo a ver com a participação de Bruce Springsteen — um músico que nunca havia declarado apoio a nenhum candidato, e que é encarado como uma espécie de “reserva moral” da América.
Hollywood tem peso político de outras formas — afinal, um actor de série B foi Presidente entre 1981 e 1989, e outro é actualmente governador da Califórnia.
O grande papel de Hollywood é no entanto enquanto fonte de financiamento. E, deste ponto de vista, “Tinseltown” é uma cidade quase totalmente democrata.
Muitos cineastas, produtores e actores de Hollywood são doadores activos e generosos para causas e candidatos democratas; o realizador Steven Spielberg ajudou a produzir o documentário biográfico sobre Kerry exibido na convenção democrata, o produtor Steve Bing (o ex-“mr. Sharon Stone”) já gastou mais de oito milhões de dólares do seu bolso para financiar grupos anti-Bush.
Há um punhado de artistas pró-Bush — mas eles são “aves raras” em Hollywood. O desdém republicano pelo mundo do cinema é tal que George W. Bush usou Hollywood como palavra de código no seu discurso perante a convenção republicana para atacar a “dissolução moral” dos democratas."
"Houve nos últimos meses uma “explosão” do cinema documental, na sua maioria com obras de pequeno orçamento e de teor fortemente anti-Bush.
Quanto a Hollywood, o clima político leva a tentar encontrar mensagens ideológicas em qualquer novo filme. “The Manchurian Candidate”, “remake” de um filme dos anos 60, tinha um conteúdo político óbvio.
Estreia este mês nos EUA uma sátira dos criadores da série South Park, “Team America”, que com marionetes promete disparar em todas as direcções do espectro político americano.
As estrelas de Hollywood envolveram-se mais directamente na fase das primárias democratas. Aí era comum ver-se o actor/realizador Rob Reiner (o genro “cabeça de abóbora” na “sitcom” “All in the Family”) ou o actor Martin Sheen (o “Presidente Bartlett” de “West Wing”) a fazer campanha por Howard Dean.
Mas só nessa fase é que os actores ou cineastas são realmente úteis — porque atraem atenção dos “media” para candidatos menos conhecidos. Neste ponto, o seu papel é marginal — o actor Ben Affleck andava em todo o lado na convenção democrata, mas a imprensa só lhe ligava nas colunas do “social”, porque nessa altura já a luta política tinha ascendido a outro nível.
Os americanos não ligam muito ao que lhe dizem as estrelas do cinema ou da música. Como outro leitor já havia notado, a América é obcecada pela vida privada de actores ou “rockers” — mas quando eles lhes dizem em quem votar, a sua influência é reduzida.
Há até uma atitude do “cala-te e canta” — uma ideia de que é indecoroso os artistas usarem os seus palcos para impor as suas ideias políticas. A atenção alcançada pela “tournée” anti-Bush Vote for Change tem acima de tudo a ver com a participação de Bruce Springsteen — um músico que nunca havia declarado apoio a nenhum candidato, e que é encarado como uma espécie de “reserva moral” da América.
Hollywood tem peso político de outras formas — afinal, um actor de série B foi Presidente entre 1981 e 1989, e outro é actualmente governador da Califórnia.
O grande papel de Hollywood é no entanto enquanto fonte de financiamento. E, deste ponto de vista, “Tinseltown” é uma cidade quase totalmente democrata.
Muitos cineastas, produtores e actores de Hollywood são doadores activos e generosos para causas e candidatos democratas; o realizador Steven Spielberg ajudou a produzir o documentário biográfico sobre Kerry exibido na convenção democrata, o produtor Steve Bing (o ex-“mr. Sharon Stone”) já gastou mais de oito milhões de dólares do seu bolso para financiar grupos anti-Bush.
Há um punhado de artistas pró-Bush — mas eles são “aves raras” em Hollywood. O desdém republicano pelo mundo do cinema é tal que George W. Bush usou Hollywood como palavra de código no seu discurso perante a convenção republicana para atacar a “dissolução moral” dos democratas."
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