27 de abril de 2007

Manual de sobrevivência para Cannes - parte II

Publicamos hoje a segunda parte do manual de sobrevivência para o Festival de Cannes. Amanhã será publicada a terceira e última parte.


Manual de sobrevivência para o Festival de Cannes

por António Reis


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3. Gastronomia
Cannes não tem gastronomia e a bebida nacional é o café. A sublime cuisine provençale não tem sido convidada nos últimos anos. As pizzas são muito boas sobretudo porque o molho é tão picante que elimina qualquer sabor. As alternativas das roulottes ou do Mac são vivamente desaconselhadas. Se comer mais de três dias avisamos que não há projecção nas instalações sanitárias. O café bebido aos litros permite dar a estes zombies cinéfilos algum ar humano.

4. Hotéis
Se lhe tiverem passado cartão abrem-se-lhe as portas dos hotéis. Visitar o Carlton, o Noga Hilton, o Majestic e o Grey d’Albion é uma experiência gratuita, pode mesmo sentar-se nos sumptuosos sofás, mas não se arrisque a pedir bebidas ou o Hotel passará a contar com mão-de-obra gratuita para o resto da semana. Ao passear pelos lobbys pode recolher a variada informação disponível, o que lhe dará um ar de empresário do ramo. Pode mesmo visitar os quartos já que é nas suites desses hotéis que as companhias de jeito estão instaladas. Os pobres contentam-se com quiosques no Mercado do Filme ou com tendas de lona na pomposamente chamada Village International que mais não é que um parque de campismo de países.

5. Salas
No Palais são dúzia e meia de salas, no Riviera outra dúzia, além dos Arcade, dos Star, dos Olympia e, este ano, os novos Lerins. Sem esquecer as salas de cinema dos hoteís. Entre os cubículos de cadeiras desconfortáveis e ecrãs do tamanho dos Home Cinema, até às luxuosas salas Lumiére e Debussy há de tudo. Saltitar de umas para outras transforma ao fim de poucos dias, qualquer pessoa num fundista.

6. Segurança
Em Cannes, sem cartão, você é um potencial terrorista. Com cartão tem a felicidade de ser observado com desconfiança por centenas de funcionários diariamente, ver os seus sacos vasculhados cada vez que entra no solo sagrado do festival e de ter a sensação de que vai ser teletransportado quando lhe passam uns tubos de detecção de metais que se animam sempre que encontram umas chaves. Tenha em atenção os seus cartões de crédito porque à terceira passagem eles ficam desmagnetizados e você arrisca-se a passar da condição de inscrito no festival a proscrito pedinte. Os seguranças têm todos aquela delicadeza francesa que fazem o Van Damme parecer um menino de coro.

(to be continued)