Foi com grande expectativa que este filme chegou a Portugal. A exibição estratégica horas antes da cerimónia dos Oscares foi um dos momentos-chave do Fantas deste ano. Falhou a conquista do Oscar, mas o público portuense reconheceu a qualidade do filme. É difícil escapar ao cliché de ver "The Wrestler" como o regresso de Rourke, mas para mim esse filme foi há quatro anos.
Esta é a história de um homem que não soube crescer. Robin Raminski começou por inverter os nomes e trabalhou sob o nome de Randy Robinson. Tornou-se um dos maiores wrestlers de sempre e os seus combates entraram para a história do desporto, mas como pessoa o destino não lhe sorriu. Algo está mal quando se chega sozinho aos 50 anos e se passa a semana a carregar caixotes e os fins-de-semana ou a dar autógrafos ou nos ringues a bater com cadeiras nas pessoas. Randy não consegue admitir, mas o seu tempo já passou. Em tempos foi o ídolo das multidões, agora é apenas a nostalgia que lhe traz (pouco) público.
Randy "The Ram" passou a vida em lutas de brincar, esquivando-se às responsabilidades e sem conseguir manter a família. Tem uma existência precária, triste e solitária. Além dos amigos que mantém dos velhos tempos - cada um em pior estado que o anterior - a única pessoa que lhe dá alguma atenção é Cassidy, uma stripper que ele visita sempre que o dinheiro permite.
Algumas cenas podem impressionar. Aqui toda a falsidade do wrestling é desmascarada, mas também vemos que o sangue que escorre é verdadeiro - como Shylock dizia "se me picarem não sangro como vós?" - tudo aquilo que se crava na pele tem de sair e isso deixa marcas. Ram teve vários ossos partidos e deslocados, guarda cicatrizes dos outros tempos e continua a criar novas. Um dia o seu coração falha e isso obriga-o a dar o passo que adiou toda a vida. Reforma-se da luta, do sonho... Vinte anos a ser agredido e aquilo que mais o magoa é parar para enfrentar a realidade.
"The Wrestler" é um retrato da degradação humana. Sem entrar em complicadas produções traz-nos uma história bem simples de um homem com um passado glorioso, um presente miserável e um futuro incerto. Ram é uma boa pessoa que comete muitos erros e que não podemos deixar de o admirar. irrita-nos vê-lo falhar, mas perdoamos depressa porque debaixo de todo aquele músculo está um coração frágil e bondoso (tal como o mesmo Rourke fez em "Sin City" mostrando um Marv de pedra que se derretia ao ver gatinhos). Robin não pode ser novamente Robinson. Procura conforto em Cassidy, tenta reatar os laços há muito perdidos com a filha, mas nada o consola. Servir saladas e cortar carnes no supermercado não é nada excitante comparado à adrenalina de saltar de um escadote para as costas de alguém, de ser atirado às cordas, de se sentir vivo. Mas é atrás do balcão que vamos admirar mais a sua coragem e perseverança. É aí que enfrenta os seus medos e revela o homem em que se devia ter tornado mais cedo.
Há momentos memoráveis no filme. A introdução onde apresentam a ascensão e queda de Randy com simples recortes de jornal, as eróticas danças de Cassidy, a entrada de Robin para as suas novas funções acompanhado pelos gritos da multidão, cada momento de humanidade nas lutas. Mas o que faz o filme grandioso é o humano que Rourke tão bem encarna. Ram vai ter de se decidir entre um dos amores. A sua decisão pode parecer a mais fácil e a mais cobarde, mas na verdade é a mais nobre que poderia tomar. Tem de ficar com quem esteve sempre com ele. Os merecidos aplausos no final do filme são dirigidos ao todo da obra com especial destaque para o actor, se fossem para a personagem não estariam pior entregues. Bravo Randy!
Esta é a história de um homem que não soube crescer. Robin Raminski começou por inverter os nomes e trabalhou sob o nome de Randy Robinson. Tornou-se um dos maiores wrestlers de sempre e os seus combates entraram para a história do desporto, mas como pessoa o destino não lhe sorriu. Algo está mal quando se chega sozinho aos 50 anos e se passa a semana a carregar caixotes e os fins-de-semana ou a dar autógrafos ou nos ringues a bater com cadeiras nas pessoas. Randy não consegue admitir, mas o seu tempo já passou. Em tempos foi o ídolo das multidões, agora é apenas a nostalgia que lhe traz (pouco) público.
Randy "The Ram" passou a vida em lutas de brincar, esquivando-se às responsabilidades e sem conseguir manter a família. Tem uma existência precária, triste e solitária. Além dos amigos que mantém dos velhos tempos - cada um em pior estado que o anterior - a única pessoa que lhe dá alguma atenção é Cassidy, uma stripper que ele visita sempre que o dinheiro permite.
Algumas cenas podem impressionar. Aqui toda a falsidade do wrestling é desmascarada, mas também vemos que o sangue que escorre é verdadeiro - como Shylock dizia "se me picarem não sangro como vós?" - tudo aquilo que se crava na pele tem de sair e isso deixa marcas. Ram teve vários ossos partidos e deslocados, guarda cicatrizes dos outros tempos e continua a criar novas. Um dia o seu coração falha e isso obriga-o a dar o passo que adiou toda a vida. Reforma-se da luta, do sonho... Vinte anos a ser agredido e aquilo que mais o magoa é parar para enfrentar a realidade.
"The Wrestler" é um retrato da degradação humana. Sem entrar em complicadas produções traz-nos uma história bem simples de um homem com um passado glorioso, um presente miserável e um futuro incerto. Ram é uma boa pessoa que comete muitos erros e que não podemos deixar de o admirar. irrita-nos vê-lo falhar, mas perdoamos depressa porque debaixo de todo aquele músculo está um coração frágil e bondoso (tal como o mesmo Rourke fez em "Sin City" mostrando um Marv de pedra que se derretia ao ver gatinhos). Robin não pode ser novamente Robinson. Procura conforto em Cassidy, tenta reatar os laços há muito perdidos com a filha, mas nada o consola. Servir saladas e cortar carnes no supermercado não é nada excitante comparado à adrenalina de saltar de um escadote para as costas de alguém, de ser atirado às cordas, de se sentir vivo. Mas é atrás do balcão que vamos admirar mais a sua coragem e perseverança. É aí que enfrenta os seus medos e revela o homem em que se devia ter tornado mais cedo.
Há momentos memoráveis no filme. A introdução onde apresentam a ascensão e queda de Randy com simples recortes de jornal, as eróticas danças de Cassidy, a entrada de Robin para as suas novas funções acompanhado pelos gritos da multidão, cada momento de humanidade nas lutas. Mas o que faz o filme grandioso é o humano que Rourke tão bem encarna. Ram vai ter de se decidir entre um dos amores. A sua decisão pode parecer a mais fácil e a mais cobarde, mas na verdade é a mais nobre que poderia tomar. Tem de ficar com quem esteve sempre com ele. Os merecidos aplausos no final do filme são dirigidos ao todo da obra com especial destaque para o actor, se fossem para a personagem não estariam pior entregues. Bravo Randy!
Título Original: "The Wrestler" (EUA, França, 2008) Realização: Darren Aronofsky Argumento: Robert Siegel Intérpretes: Mickey Rourke, Marisa Tomei, Evan Rachel Wood Fotografia: Maryse Alberti Música: Clint Mansell Género: Drama Duração: 111 min. Sítio Oficial: http://www.foxsearchlight.com/thewrestler/ |
4 comentários:
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p.s.: É possível mudar o link do Ante-Cinema para este novo no vosso blog?
Obrigado!
O link foi actualizado. Parabéns pelo site e boa sorte nesse novo formato.
Para mim este não é mais do que uma variação de "Rocky Balboa". Nada contra esse tipo de "reinvenção", mas considero este mais fraco. Stallone conseguiu ser mais humano, mais real, mais ele próprio.
Mas isto é mesmo só a minha opinião!
Abraço
Tem semelhanças com "Rocky Balboa", mas enquanto o boxe é um desporto "nobre" e respeitado por muitos, wrestling é uma palhaçada.
Rocky teve filmes antes onde ganhou fama, o afecto do público e o estatuto a lenda. Randy tem um único filme para tudo isso.
"The Wrestler" foi um completo outsider que chegou, viu e venceu.
Ainda bem que os gostos não são todos iguais.
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