Johnny Depp tem-nos acostumado a papéis muito diversos e alguns deles moderamente loucos. Por exemplo, em 2014 fez de inteligência artificial em "Transcendence", de despistado investigador canadiano em "Tusk e de lobo mau em "Into The Woods”". Mas ainda assim, continua a surpreender-nos e este "Mortdecai" é uma prova disso mesmo.
Lord Charlie Mortdecai é um bon vivant e um criminoso de circunstância. Em risco de ficar sem a mansão onde vive por já não ter a fortuna da família, vai negociando arte com criminosos. As únicas coisas que o mantiveram vivo até agora foram uma sorte imensa, e o dedicado criado/motorista/guarda-costas/tudo Jock que o salva dos agressores e das situações mais complicadas. Mortdecai é casado com a encantadora Johanna, uma mulher com charme e classe que o faz andar mais ou menos na linha. No momento mais difícil das suas vidas, e quando estão a dias de perder tudo, Mrtdecai recebe a visita de um velho conhecido da polícia que precisa dos conselhos do especialista para lidar com um caso de arte roubada. Mortdecai vai dar o seu melhor para encontrar o quadro, ganhar dinheiro, e manter o bigode.
Estamos perante uma arriscada comédia que satiriza a aristocracia britânica, assim como os esterótipos que eles têm das restantes culturas. A obra original é de Kyril Bonfiglioli, um britânico que conhece o mundo da arte e da ficção-científica entre outras coisas. Originalmente publicados nos anos 70, os livros Mortdecai nunca atingiram a popularidade que se esperaria porque misturavam de forma incompreensível o género crime, com a comédia de costume e muita crítica social. Passados trinta anos, a mensagem passada é praticamente a mesma. A sociedade londrina continua a ser uma desgraça aos olhos de Mortdecai, cujos pecados parecem ser pura necessidade entre toda a sujidade que o rodeia. Não que Mortdecai seja bom, ele admite que é um criminoso e vigarista, mas só porque está acostumado a uma vida de conforto.
A atractividade do filme é precisamente a aposta arricada numa obra controversa, tanto por parte do realizador - um americano ainda em busca de afirmação - como dos actores, a enverederem por algo diferente. Ewan McGregor é um dos poucos cavalheiros, Gwyneth Paltrow repete a personalidade que vimos em “Iron Man”, mas aqui com um homem/ego bem mais fácil de suportar, Johnny Depp é simplesmente estranho, ainda que não fique desenquadrado. Parabéns ao marketing que conseguiu espalhar bem a mensagem do bigode para que não o detestássemos sem dar uma oportunidade de se afirmar. Mas a estrela do filme é Paul Bettany, ele sim, bem diferente do que nos acostumamos a esperar dele e muitas vezes brilhante, no papel mais físico e fácil de adorar do filme. A narrativa não cativa e o humor é repetido à exaustão, todavia, "Mortdecai" consegue dar um ar de graça mais pelo diferente que é. Numa época em que se consegue ver a mesma receita de filme todos os meses no cinema com títulos diferentes e a afirmar-se como o melho filme do ano do género (não interessa qual), é bom variar ocasionalmente e ver algo saído dos anos 70 que sabe ser mau.
Título Original: "Mortdecai" (EUA, Reino Unido, 2015) Realização: David Koepp Argumento: Eric Aronson (baseado no livro de Kyril Bonfiglioli) Intérpretes: Johnny Depp, Paul Bettany, Ewan McGregor, Gwyneth Paltrow, Jeff Goldblum, Olivia Munn Música: Derek Ambrosi, Jill Savitt Fotografia: Florian Hoffmeister Género: Acção, Comédia Duração: 107 min. Sítio Oficial: http://mortdecaithemovie.com |
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