30 de abril de 2007

"Spider Man 3" por António Reis


A reciclagem do mito ou cinema fantástico em crise?

Comecemos pelo lado mais positivo. Fechemos os olhos para termos os ouvidos bem abertos à música inconfundível, muito no estilo de Danny Elfman: sinfónica, envolvente, emotiva e definidora só por si de personalidades e situações. Em duas palavras, sempre genial.
Abramos os olhos para um genérico muito interessante e só por si merecedor de uma ida ao cinema. A provar que há genéricos com muito crédito.
Deixemo-nos conduzir pela eficácia dos efeitos especiais e visuais que, apesar de sabermos que são falsos, não deixam de ter o seu deslumbre perceptivo.
Por último Sam Raimi, nos anos setenta incensado como um dos mais prometedores cineastas do fantástico, mas que perdeu o fulgor desses tempos de “Exército das Trevas” e de “Crime Wave”. Mantém algum do humor e da atracção pelos ambientes negros do fantástico mais tradicional, mas é daqueles cineastas a quem o dinheiro não trouxe a felicidade.
Nos 142 minutos de filme Spider-Man apenas comprova que reciclar um mito da BD não basta e que os heróis americanos estão em crise. Um super-herói já não basta e o filme propõe-nos dois, um arqui-vilão já não é suficiente e vão ser precisos dois. Até a donzela em apuros foi duplicada. Temos assim dois filmes pelo preço de um único bilhete. O guião é assim o elo mais fraco de “Spider-Man 3”, que não consegue sequer fugir ao ridículo nas cenas narcisistas de Peter Parker a passear pelas avenidas de Nova Iorque sob o olhar embevecido de teenagers ou quando Sandman é transformado num King Kong desmolecularizado. Peter Parker tem dificuldade em chegar à idade adulta, é incapaz de assumir uma relação afectiva estável e está maravilhado com o seu estatuto de super-herói idolatrado. O lado negro da Força tomou conta do seu corpo e mente e o filme prolonga-se nesta teia em que os argumentistas se enredaram. Como fica em aberto o pedido de casamento à Mary Jane prevê-se com naturalidade um “Spider Man 4”. Em termos de público a receita pode funcionar, mas como filme é fast food de digestão rápida. Uma nota final para Bruce Campbell como maître de restaurante francês com humor e gags de situação e texto interessantes. O fantástico está em crise não por dificuldades técnicas dos FX mas por exaustão de ideias criativas.


Título Original: "Spider-Man 3" (EUA, 2007)
Realização: Sam Raimi
Argumento: Sam Raimi, Ivan Raimi, Alvin Sargent
Intérpretes: Tobey Maguire, Kirsten Dunst, James Franco, Thomas haden Church, etc
Fotografia: Bil Pope
Música: Christopher Young
Género: Acção/Aventura/Ficção-Científica
Duração: 140 min.
Sítio Oficial: http://www.sonypictures.com/movies/spiderman3/site/

3 comentários:

Anónimo disse...

Gostei muito dos anteriores e acho que este, mesmo sem a frescura incial, não desaponta. É certo que a sedução pelo "lado negro" poderia ser abordaad com maior densidade, mas é dos duvido que haja blockbusters muito melhores etse ano.

Elora disse...

O filme tem mais dez minutos do que o que devia. Tiras os últimos dez minutos e é o maior filde de super-heróis de sempre. Tá tudo lá!

Anónimo disse...

Sou obrigado a concordar com o António Reis... tirando a banda sonora e o Bruce Campbell... é o pior filme de super heróis de todos os tempos. :-)