23 de agosto de 2008

"Get Smart" por Nuno Reis

Revivalismo ou oportunismo?

Alguma série pode ser comparada a "Get Smart"? Detectives e agentes secretos havia muitos, mas nenhum tinha o humor refinado de Mel Brooks e o ar pateta de Don Adams. As histórias por muito disparatadas que fossem era um delicioso entretenimento e as mesmas piadas tinham graça vezes sem conta. Mesmo o genérico, primeira vítima das modernizações em todas as séries, manteve-se idêntico anos a fio e imune a críticas. A série durou de 1965 a 1970. Nos anos 80 fizeram dois filmes e nos 90 Smart foi o chefe da agência numa mini-série. Nesse segunda série - tal como Agatha Christie fez com o único outro casal de detectives que admiro, Tommy e Tuppence - Max e 99 foram afectados pelo tempo e envelheceram juntamente com os actores e os espectadores. Esse passo corajoso, sendo bem feito, prova se uma série ou filme foi mais do que um fenómeno efémero. A série foi um fracasso.

Com o filme o caminho seguido foi diferente. Modernizaram a história e os actores, mas mantiveram os nomes. A CONTROL é um museu e os objectos expostos trazem à memória as dezenas de episódios em que o saudoso Don Adams era Smart. O carro, o fato e o sapato, são alguns dos testemunhos de um passado glorioso da agência. Maxwell Smart (Carell) entra por uma porta e de repente somos transportados para frente da televisão há uns anos atrás. Este Smart também atravessa portas, também entra na cabide para ser sugado e... as semelhanças terminam aí. Porque este Smart é um excelente analista e qualificou-se brilhantemente para agente de campo. Não é idiota, não é despistado, não é o que esperava. A agente 99 continua a ser linda, inteligente, e perfeita nas missões, a diferença é ser antipática. O chefe é o único que está fiel ao passado. O que mais perturba é deslocarem no tempo os nomes sem nenhum respeito pelas personagens.

Entre actores principais e secundários não tenho nenhuma queixa. Foram grandes escolhas e as interpretações estão acima da média. Sinceramente não esperava tanto de uma comédia. A realização em alguns detalhes podia ter sido melhor, no meio de tanta acção algumas falhas passam ao lado. Quanto ao argumento as queixas são inúmeras. Tem gags geniais e a nostalgia espreita, mas é tão previsível que destrói tudo o que o faz um bom filme. Quem viu "Johnny English" ou especialmente "I Spy", vai ter uma sensação de dejá vu do início ao fim. Esta é apenas mais uma comédia de espionagem que tinha tudo para ser bem sucedida e se desgraçou por não ser original. Não é frequente eu escrever isto, mas talvez uma sequela não fosse mal pensado.

Título Original: "Get Smart" (EUA, 2008)
Realização: Peter Segal
Argumento: Tom J. Astle e Matt Ember
Intérpretes: Steve Carell, Anne Hathaway, Dwayne Johnson, Alan Arkin
Fotografia: Dean Semler
Música: Trevor Rabin
Género: Acção, Comédia, Thriller
Duração: 110 min.
Sítio Oficial: http://getsmartmovie.warnerbros.com/

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