22 de abril de 2013

A película ameaçada de extinção

A Federação Internacional de Arquivos Fílmicos (FIAF) deverá pedir à UNESCO para declarar o cinema analógico Património Mundial da Humanidade, propuseram hoje o director de fotografia Guillermo Navarro e a artista Tacita Dean.

Não podemos permitir que a película desapareça porque seria um genocídio cultural diz o oscarizado director de fotografia.

Claro que é preciso proteger o analógico, mas o mudo e o preto e branco não desapareceram só porque veio algo novo. Se formos a entrar em extremos, podemos dizer que as curtas e o 2D só sobrevivem porque são mais formatos baratos de filmar!

O suporte, a cor, o som, o país, são detalhes que fazem parte do filme e o tornam único e inimitável. Mas um Filme daqueles com F grande, é algo demasiado grande para ser decomposto. É como dizer que querem proteger um corte de cabelo porque ao falar com alguém que antes usava esse penteado, se distraem com o novo aspecto do cabelo e não prestam atenção ao que essa pessoa diz. O aspecto ajuda a conhecer a personalidade, isso é mais do que sabido, mas a mensagem está além do visível. É uma mistura da comunicação oral e gestual.

Da mesma forma que para "Zelig" foi preciso encontrar os técnicos que ainda sabiam operar com as máquinas antigas, o maior receio deles não deve ser que a película desapareça, mas que a técnica se perca. Ora isso nunca acontecerá, tal como a fotografia permanece em ambos os formatos. O digital tornou o primeiro contacto com a arte mais acessível, o que vai permitir criar mais e melhores artistas. Mas os verdadeiros artistas, saberão sempre quando devem usar um suporte ou o outro. Mesmo que não o façam para o público.

A película está longe de desaparecer e este movimento só faz sentido se for visto como um gesto simbólico. O Cinema (e alguns filmes em particular) é património da humanidade quer queiram quer não.

3 comentários:

Sam disse...

No entanto, o analógico continua a ser o formato mais seguro e durável para a preservação de imagens em movimento — do mudo ao 3D, ainda não existe método que substitua a fiabilidade da película.

E esta iniciativa, que eu apoio totalmente, é (mais) uma chamada de atenção para o perigo que a Humanidade corre na possibilidade de perder grande parte da sua História em filme (seja Cinema, documentários, filmes caseiros, etc.) E esse risco é real.

Cumps cinéfilos.

Nuno disse...

Os filmes que existem em película são para preservar em película. Os de formatos digitais, estão espalhados por todo o mundo em inúmeras cópias que, ironicamente, foi o que salvou muitos dos filmes antigos.

Seria preciso uma catástrofe electro-magnética para acabar com tudo o que é digital (mesmo assim, acredito que existem arquivos sunterrâneos à prova de qualquer tipo de cataclismo para proteger informação).

Do ponto de vsita da distribuição, seja comercial ou em festivais, sabes que o digital é bem mais prático, leve e compatível. Que se faça cópias em película dos bons filmes por via das dúvidas concordo, mas com critérios. A produção actual é incontrolável, impossível de proteger a 100%, e a vasta maioria não merece o esforço e a película que se gastaria.

Quanto aos filmes caseiros, sei que não se poderá guardar tudo, mas iniciativas como aquele "Life in a Day" dos manos Scott para efeitos históricos são maravilhosas.

Sam disse...

É preciso entender que, no digital, existem mais riscos para a preservação (passe a publicidade, aqui estão listadas algumas das principais ameaças a formatos digitais de armazenamento: http://sozekeyser.blogspot.pt/2011/12/o-fim-da-pelicula-o-fim-da-cinefilia.html) e que não se limitam à acção de elementos naturais ou atmosféricos.

Quanto ao digital na produção e exibição de Cinema — e apesar de também preferir, por opção estética, a película —, não tenho nada de substancialmente contra. Aliás, admito que o digital pode ser uma excelente ferramenta para jovens criadores e, consoante o título, capaz de obter resultados que o 35mm nunca alcançaria.