"Gothika" por Nuno Reis
A primeira vez que Mathieu Kassovitz aceitou realizar um filme que não escreveu o resultado foi este thriller.
O filme conta as peripécias de uma psiquiatra que tinha uma vida aparentemente normal até que, após um acidente ligeiro de carro, ela acorda internada no hospital onde trabalhava e descobre como é estar no outro lado, não ter ninguém que acredite nela, e tudo aquilo que diz faz com que pareça ainda mais louca.
O argumentista é Sebastian Gutierrez, que escreveu e dirigiu "Judas Kiss" com Emma Thopson, Alan Rickman e Carla Gugino, esta última reaparece no telefilme "Mermaid Chronicles Part 1: She Creature" também escrito e dirigido por Gutierrez que ainda colaborou no mais recente trabalho da actriz, a série "Karen Sisco". Gutierrez ainda adaptou "The Big Bounce", uma comédia de Elmore Leonard que em filme conta com as interpetações de Owen Wilson, Charlie Shen, Vinnie Jones e Gary Sinise e estreou apenas no passado dia 30 nos EUA.
A realização está muito boa para o género, Kassovitz domina bem o cinema de terror, especialmente recorrendo ao som que mantém o espectador na espectativa, e serve emoções em doses pequenas, especialmente nos momentos em que nada se passa. O suspense desde o acidente não pára e a transição entre ambientes fechados (hospital, casa, esquadra) é reduzida ao máximo - só decorrem filmagens na estrada nos momentos em que a estrada é a história - para não passar a sensação de claustrofobia. O aparecimento de novas personagens e de novas informações está excelente pois ou é dicreto e subtil ou é chocante.
O argumento está bem conseguido, tem detalhes interessantes e apesar de ter muitas cenas previsíveis em alguns aspectos é inovador e chega a ser surpreendente. A produção entre outros nomes tem o de Robert Zemeckis o que é garantia de um bom thriller.
Quanto ao realizador, Mathieu Kassovitz, já praticamente dispensa apresentações, pois foi actor em filmes recentes como "Jakob the Liar" (dirigido pelo pai, Peter Kassovitz), "Le Fabuleux destin d'Amélie Poulain", "Birthday Girl", "Astérix & Obélix: Mission Cléopâtre" e ainda em alguns dos seus próprios filmes. Entre os seus filmes escritos/realizados destaca-se claramente "Les Rivières pourpres" (baseado no livro de Jean-Christophe Grangé que em parceria com Pitof escreveu "Vidocq"), um de muitos filmes onde trabalhou com Vincent Cassel. A relação entre as personagens está muito bom, o que não é fácil quando se lida com emoções tão variadas como o amor, a amizade, o companheirismo e a lealdade num ambiente em que a protagonista tem de deixar de confiar naqueles em que sempre acreditou e fazer auto-diagnósticos para tentar perceber o que realmente aconteceu.
A nível de interpretações muito mais pode ser dito. Halle Berry como Dra. Miranda Grey finalmente faz um papel realmente bom, Penélope Cruz está uma boa secundária como doente mental, e quanto a Robert Downey Jr. está simplesmente excelente, uma magnífica recuperação de carreira. Também merece destaque a breve interpretação de Charles Dutton, que interpreta o falecido marido da doutora Grey, sempre com diálogos divertidos que aliados ao seu aspecto causam imediata simpatia pela personagem. John Carroll Lynch como xerife está ao seu nível habitual, os restantes actores (doentes, enfermeiros, médicos, polícias e vítimas) são um bom grupo.
O filme está bem feito até aos últimos quinze minutos, momento em que acelera freneticamente e perde grande parte da qualidade. O final deixa algumas pontas soltas mas (felizmente) este filme não é do género que tenha sequela.
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