25 de março de 2007

"Man of the Year" por Ricardo Clara

O homem é do ano, mas o filme... nem por isso


Quando chega a sensivelmente metade deste filme, dou por mim a vociferar contra Barry Levinson: "estavas a ir tão bem"! Confesso que, lida previamente a sinopse, o pensamento caiu para o lado céptico: mais um sobre um tipo que, sem mais nem menos, chegou a presidente dos E.U.A.. "Been there, done that".
Mas aos primeiros minutos começa o cepticismo a cair e um sagaz interesse para ver até onde iria Barry Levinson com "Homem do Ano". "Wag the Dog" / "Manobras na Casa Branca" (uma boa referência no género) dez anos depois? Tom Dobbs (Robin Williams) é um comediante de stand-up, com um programa televisivo muito ao estilo do "Daily Show" de Jon Stewart e onde, um dia, recebe uma dica da audiência (isto quando partilhava alguns pensamentos hilariantes, com as cãmaras desligadas) de que deveria candidatar-se à presidência. De uma "boca" passou a uma piada, de uma piada a uma ideia e daqui, para uma certeza. Dobbs candidata-se à Casa Branca como independente, e vai conseguindo lutar palmo a palmo com os aspirantes (quer democrata, quer republicano), naquelas que seriam as primeiras eleições com votações totalmente computadorizadas. E é neste frenesim da passagem de comediante a candidato que temos um belo filme: intenso, com diálogos riquíssimos e com um ritmo acelerado e constante - tanto vemos os bastidores de frente e olhos nos olhos, como vemos os discursos escondidos, tanto olhamos Dobbs a subir as escadas, como o vemos a desaparecer, de costas para nós. Uma película mordaz, atenta, com momentos de humor muito interessantes, e com o surgimento paulatino de alguns pormenores importantes - Alan Stewart, advogado da Delacroy (um subaproveitado Jeff Goldblum), que está por detrás da vanguarda do voto electrónico por touch screen, e o papel cada vez mais importante de Jack Menken (Christopher Walken), agente do comediante e apoio indispensável durante a campanha.
Mas uma funcionária da empresa, Eleanor Green (Laura Linney) descobre um erro no programa da votação e prevê que a esta iria estar inquinada e cair sempre para um lado que não o do verdadeiro vencedor. Ostracizada, enceta uma (rápida) viagem ao encontro de Tom, para o avisar dos erros cometidos. E, no meio desta viagem, o filme começa a perder vivacidade, ritmo e acutilância, e dilui-se numa segunda parte simpática, mas que só nos leva a perceber se iriamos ou não ter um candidato com escrúpulos (olá Casa Branca!) ou outro aproveitador da bondade democrática do contrato social. Williams perde força, o filme perde ideias, a obra perde rumo. Numa típica analogia da bifurcação florestal, Levinson foi para um lado quando devia ter ido para o outro. No caminho que escolheu, esbarrou num muro, quando poderia ter atingido uma peça madura e consistente, que o poriam na rota das chamadas de atenção políticas importantes no mapa cinematográfico norte-americano. Ao invés, queda-se, na globalidade, pela comédia engraçada, e que não trará (quase) nada de novo ao género.




Título Original: "Man of the Year" (EUA, 2006)
Realização: Barry Levinson
Argumento: Barry Levinson
Intérpretes: Robin Williams, Cristopher Walken, Laura Linney e Jeff Goldblum
Fotografia: Dick Pope
Música: Graeme Revell
Género: Comédia / Drama
Duração: 115 min.
Sítio Oficial: http://www.manoftheyearmovie.net

2 comentários:

Anónimo disse...

Em linhas gerais, concordo com aqui expresso nesta crítica. Era um filme que "prometia" mais do que cumpriu, mas acho que apesar das más direcções que por vezes tomou é ainda uma surpresa agradável.

Anónimo disse...

Não iria tanto pela surpresa - por causa de "Wag the Dog" - mas pela confirmação de muitos pormenores interessantes de Levinson!