Para quem receava que Woody Allen estivesse preso a Scarlett Johansson ou que se tivesse estragado.
Se pensassemos nos filmes de Woody Allen e tivéssemos de escolher um top 10, ou mesmo a melhor metade, quantos da última década estariam presentes? E se filmes com Scarlett Johansson não fossem aceites? Pois é, nos últimos anos Allen tem sido infeliz com muitos dos filmes, salvando-se para essa lista "Match Point", talvez "Vicky Cristina Barcelona" e dificilmente "Scoop" que o público não pareceu compreender. Em comum a musa loira que inspira tantos homens e que teve em Allen um travão para a queda na carreira. Ela sem ele já não é ninguém, mas o contrário não se aplica. Dificilmente Johansson serviria para este papel, mas Evan Rachel Wood faz-nos esquecê-la num instante.
Um velho rabugento, demasiado inteligente para a humanidade, demasiado hipocondríaco para a vida, demasiado desconfiado para a sociedade é o protagonista. Ele tenta manter-se vivo seja por cantar os parabéns enquanto lava as mãos, mas por vezes também se atira das janelas em tentativas de sucídio. Boris é uma personagem ao bom estilo de Allen, que nos velhos tempos seria interpretada pelo próprio. passando o testemunho à "nova" geração é o humorista Larry David que faz as vezes de anti-herói/narrador. Para contrabalançar o desequilíbrio de Boris temos Melody. Esta jovem inocente vinda de uma pequena terra longe da Big Apple - para onde Allen finalmente regressa - é interpretada por uma brilhante Evan Rachel Wood. A ingenuidade dela e a genialidade dele compensam-se e criam uma dupla fenomenal. O filme conta de que forma cada um deles arruina a vida do outro por se amarem. A delicada Melody é inundada com tal quantidade de cultura que a limitada inteligência dela não consegue assimilar. Nos primeiros tempos é interessante, depressa se torna confuso, e finalmente um incómodo. A solidão de Boris é interrompida por todos os que seguem Melody: pai, mãe, pretendente, cada um deles começa a criar novos laços e a trazer novos membros para a extensa família engrossando a nuvem que o assombra.
Argumento intemporal que poderá ser revisto vezes sem conta em anos vindouros, "Whatever Works" tem tudo o que um filme precisa. É uma crítica mordaz, dá conselhos sábios, diverte muito. Há quem lhe chame "o argumento perdido dos anos 70" pelas semelhanças com os grandes clássicos do realizador dessa época. Considerando como sendo um original de 2009 é o melhor argumento de Allen em muitos anos e dos melhores da década. É preciso ser fã de Allen para apreciar, mas quem o for ficará seguramente fascinado. Para mim é o melhor argumento original desde "Eternal Sunshine of the Spotless Mind".
Como nota final este foi o único filme entre os que vi no Marché do Film que teve aplausos da plateia. Havia outros que os mereciam, mas só neste perderam a vergonha. Allen tem destas coisas.
Título Original: "whatever works" (EUA, França, 2009) Realização: Woody Allen Argumento: Woody Allen Intérpretes: Larry David, Evan Rachel Wood, Patricia Clarkson Fotografia: Harris Savides Música: Género: Comédia, Romance Duração: 92 min. Sítio Oficial: http://www.sonyclassics.com/whateverworks/ |
1 comentários:
Ri imenso com este personagem irmão do Woody Allen. O filme é absolutamente brilhante :D
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