Amor é dor
Se num festival nos tentamos blindar dos sentimentos devido à quantidade absurda de filmes vistos diariamente, é verdade que em Cannes apesar de tudo estamos mais sensíveis. Será do glamour, das estrelas, ou simplesmente por ser Cannes, aqui as expectativas são outras e os filmes ou correspondem ou não, criando-se uma relação bipolar. É gostar ou detestar, não há meio-termo. E este ano entre todos os vistos diria que o gostar vai exclusivamente para um.
Michael Haneke sabe o que tem de fazer para ganhar em Cannes. Vencer novamente a Palma tão pouco tempo depois de “Das Weisse Band” a ter conseguido pode ser difícil, mas se os Dardenne conseguiram repetir, então Haneke com a força do seu Amour também conseguirá. Afinal do que trata este “Amour” que de tudo parece capaz? Tal como o nome indica é sobre amor. Se até agora foi com a crueldade que Haneke nos chocou e convenceu, este ano é com o sentimento mais puro que nos vai torturar gentilmente.
Georges e Anne são dois professores de música reformados. A filha também seguiu a carreira musical e está frequentemente no estrangeiro. Acostumados a viverem sozinhos, a relação vai atravessar o derradeiro teste quando Anne sofre um ataque que a deixa acamada. Terá Georges amor suficiente para lidar com a situação?
Camões diz que “Amor é fogo que arde sem se ver, ferida que dói, mas não se sente...” e outras baboseiras que soam muito bem entre os jovens com beleza, energia e a vida toda pela frente. Amor verdadeiro é mais aquela citação matrimonial “na saúde e na doença,na riqueza e na pobreza, até que a morte nos separe”, pois amar é querer uma pessoa mais do que tudo no mundo, independentemente do estado físico e mental. Aqui temos a prova disso.
Os dois protagonistas já não trabalhavam juntos há algumas dezenas de anos, mas parece que estiveram juntos a vida toda. A intimidade criada entre eles, os pequenos gestos, os olhares, todos os detalhes foram estudados na perfeição para interpretarem um casal e não duas personagens separadas. Jean-Louis Trintignant interpreta quase o oposto da personagem-tipo com que se celebrizou - o marido ciumento, o homem violento - dando a Georges aquela gentileza de quem está a viver o seu grande amor. E Anna de Emmanuelle Riva (a actriz de “Hiroshima Mon Amour”) é daquelas personagens que só quem tiver completa confiança na sua capacidade de actuar arrisca fazer pois ou é consagração ou desgraça. Aqui não há dúvida que é uma consagração, o apogeu de uma carreira modesta que depois dos 80 anos dificilmente teria novo ponto alto.
Que actuações soberbas! É expressividade facial, é corporal, é o envelhecimento psicológico de uma cena para a outra... Já não se fazem actores assim. Nem se repara que Haneke voltou a evitar o próprio idioma nesta co-produção europeia.
Ver a degradação progressiva de uma pessoa é deprimente. Ver uma pessoa que resiste a isso ao seu lado é moralizador. É saber que a Vida tem um fim, mas o Amor não e por isso acreditar que se pode amar para sempre e aprender que aqueles que amamos não duram eternamente. É acreditar por duas horas que podemos ter um final feliz, mesmo sabendo o desfecho à partida. A única coisa que falta a este filme é transmitir cheiro pois tudo mais que se possa sentir está lá.
Se num festival nos tentamos blindar dos sentimentos devido à quantidade absurda de filmes vistos diariamente, é verdade que em Cannes apesar de tudo estamos mais sensíveis. Será do glamour, das estrelas, ou simplesmente por ser Cannes, aqui as expectativas são outras e os filmes ou correspondem ou não, criando-se uma relação bipolar. É gostar ou detestar, não há meio-termo. E este ano entre todos os vistos diria que o gostar vai exclusivamente para um.
Michael Haneke sabe o que tem de fazer para ganhar em Cannes. Vencer novamente a Palma tão pouco tempo depois de “Das Weisse Band” a ter conseguido pode ser difícil, mas se os Dardenne conseguiram repetir, então Haneke com a força do seu Amour também conseguirá. Afinal do que trata este “Amour” que de tudo parece capaz? Tal como o nome indica é sobre amor. Se até agora foi com a crueldade que Haneke nos chocou e convenceu, este ano é com o sentimento mais puro que nos vai torturar gentilmente.
Georges e Anne são dois professores de música reformados. A filha também seguiu a carreira musical e está frequentemente no estrangeiro. Acostumados a viverem sozinhos, a relação vai atravessar o derradeiro teste quando Anne sofre um ataque que a deixa acamada. Terá Georges amor suficiente para lidar com a situação?
Camões diz que “Amor é fogo que arde sem se ver, ferida que dói, mas não se sente...” e outras baboseiras que soam muito bem entre os jovens com beleza, energia e a vida toda pela frente. Amor verdadeiro é mais aquela citação matrimonial “na saúde e na doença,na riqueza e na pobreza, até que a morte nos separe”, pois amar é querer uma pessoa mais do que tudo no mundo, independentemente do estado físico e mental. Aqui temos a prova disso.
Os dois protagonistas já não trabalhavam juntos há algumas dezenas de anos, mas parece que estiveram juntos a vida toda. A intimidade criada entre eles, os pequenos gestos, os olhares, todos os detalhes foram estudados na perfeição para interpretarem um casal e não duas personagens separadas. Jean-Louis Trintignant interpreta quase o oposto da personagem-tipo com que se celebrizou - o marido ciumento, o homem violento - dando a Georges aquela gentileza de quem está a viver o seu grande amor. E Anna de Emmanuelle Riva (a actriz de “Hiroshima Mon Amour”) é daquelas personagens que só quem tiver completa confiança na sua capacidade de actuar arrisca fazer pois ou é consagração ou desgraça. Aqui não há dúvida que é uma consagração, o apogeu de uma carreira modesta que depois dos 80 anos dificilmente teria novo ponto alto.
Que actuações soberbas! É expressividade facial, é corporal, é o envelhecimento psicológico de uma cena para a outra... Já não se fazem actores assim. Nem se repara que Haneke voltou a evitar o próprio idioma nesta co-produção europeia.
Ver a degradação progressiva de uma pessoa é deprimente. Ver uma pessoa que resiste a isso ao seu lado é moralizador. É saber que a Vida tem um fim, mas o Amor não e por isso acreditar que se pode amar para sempre e aprender que aqueles que amamos não duram eternamente. É acreditar por duas horas que podemos ter um final feliz, mesmo sabendo o desfecho à partida. A única coisa que falta a este filme é transmitir cheiro pois tudo mais que se possa sentir está lá.
Título Original: "Amour" (Alemanha, Áustria, França, 2012) Realização: Michael Haneke Argumento: Michael Haneke Intérpretes: Jean-Louis Trintignant, Emmanuelle Riva, Isabelle Huppert, Rita Blanco, Alexandre Tharaud Fotografia: Darius Khondji Género: Drama, Romance Duração: 125 min. |
4 comentários:
Muito bom! E li bem? Tem a Blanco no elenco?
Só tem direito a duas cenas (uma delas passa metade do tempo de traseiro para a câmara), mas tem falas em francês e tudo.
Atão milheri, nos últimos meses não se falou doutra coisa por terras lusitanas! :P Mas recomendo-te esta entrevista acerca do trabalho: http://ipsilon.publico.pt/cinema/entrevista.aspx?id=305192
Ai homi, eu sou a coisa mais distraída à face da terra. Já pra' não falari que tenho memória selectiva senão é uma desgraça. Vou já ler!
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