Circo mediático
Já temos falado inúmeras vezes neste blog de séries televisivas, como "24", "Sex and the City" ou "Six Feet Under", entre muitos outros exemplos que podia dar, mas referimos essas séries ou porque foram galardoadas, ou por causa da qualidade narrativa que se encontra num patamar elevado em relação a alguma mediocridade que existe nessas produções. Produções que passam na televisão. E é este apontamento que eu quero deixar hoje aqui, porque o declínio dos conteúdos televisivos e a falta de respeito manifestada pelos media em geral em relação aos espectadores cria em mim um sentimento de revolta.
Os tempos mudam, as mentalidades evoluem. Mas permitir que sejamos manipulados emocionalmente por um grupo de pessoas, que através de habilidosa realização ou escrita, transformem um acontecimento trágico a quase todos os níveis num espectáculo televisivo é deveras deplorável. Falo obviamente da cobertura mediática que tem sido feita em resultado da morte do jogador Miklos Fehér, um acontecimento que pode muito bem ser apelidado de morte em directo. E (in)felizmente o faducho populista português veio ao de cima, mas pela pior via: a comunicação social. Centenas de vezes foram mostradas as imagens do atleta a tombar morto, e análises para todos os gostos e de todos os experts: os comentadores desportivos, os comentadores políticos e os economistas. Os cardiologistas e os especialistas em medicina desportiva. Os dentistas e os médicos de clínica geral. Os bombeiros, os jornalistas, os fotógrafos, os maqueiros, os jogadores, os amigos dos jogadores, o tio do avô de um amigo, amigo do jogador. Todos opinam, todos acham que têm que fazer a sua voz ser ouvida. Mas não pára por aqui. E como a morte foi em directo, também terá que o ser a cobertura televisiva e escrita. Temos directos do Estádio da Luz, do Estádio D. Afonso Henriques, do Hospital de Guimarães, da cidade onde nasceu o atleta, de Gyor, da casa dos pais na Hungria, na mesma cidade de Gyor, de Budapeste, do Aeroporto da Portela e provavelmente de um Aeroporto na Hungria, e de muitos outros sítios que eu não terei assistido ou que felizmente a memória me atraiçoa e não me relembro deles. E sem esquecer que o funeral será transmitido em directo! E como estamos num país em que quase sempre a culpa morre solteira, convém lembrar que a TVI tem prestado o maior exemplo de falta de qualidade, dando a cada dia um novo significado a palavras ou frases como baixo, rasca ou imprensa cor-de-rosa.
Muitas das pessoas que referi atrás serão as mesmas que criticam a constante tristeza nacional e a necessidade de alegrar o país para ele andar para a frente. Nada melhor então do que levarmos injecções brutas de necrofilia barata e populista, e de, à custa de audiências, nos recordarem que a cultura rasca em que vivemos dificilmente será ultrapassada só por vivermos num novo milénio, século ou ano. E que a tenda do circo mediático dificilmente poderá ser deitada abaixo.
Os tempos mudam, as mentalidades evoluem. Mas permitir que sejamos manipulados emocionalmente por um grupo de pessoas, que através de habilidosa realização ou escrita, transformem um acontecimento trágico a quase todos os níveis num espectáculo televisivo é deveras deplorável. Falo obviamente da cobertura mediática que tem sido feita em resultado da morte do jogador Miklos Fehér, um acontecimento que pode muito bem ser apelidado de morte em directo. E (in)felizmente o faducho populista português veio ao de cima, mas pela pior via: a comunicação social. Centenas de vezes foram mostradas as imagens do atleta a tombar morto, e análises para todos os gostos e de todos os experts: os comentadores desportivos, os comentadores políticos e os economistas. Os cardiologistas e os especialistas em medicina desportiva. Os dentistas e os médicos de clínica geral. Os bombeiros, os jornalistas, os fotógrafos, os maqueiros, os jogadores, os amigos dos jogadores, o tio do avô de um amigo, amigo do jogador. Todos opinam, todos acham que têm que fazer a sua voz ser ouvida. Mas não pára por aqui. E como a morte foi em directo, também terá que o ser a cobertura televisiva e escrita. Temos directos do Estádio da Luz, do Estádio D. Afonso Henriques, do Hospital de Guimarães, da cidade onde nasceu o atleta, de Gyor, da casa dos pais na Hungria, na mesma cidade de Gyor, de Budapeste, do Aeroporto da Portela e provavelmente de um Aeroporto na Hungria, e de muitos outros sítios que eu não terei assistido ou que felizmente a memória me atraiçoa e não me relembro deles. E sem esquecer que o funeral será transmitido em directo! E como estamos num país em que quase sempre a culpa morre solteira, convém lembrar que a TVI tem prestado o maior exemplo de falta de qualidade, dando a cada dia um novo significado a palavras ou frases como baixo, rasca ou imprensa cor-de-rosa.
Muitas das pessoas que referi atrás serão as mesmas que criticam a constante tristeza nacional e a necessidade de alegrar o país para ele andar para a frente. Nada melhor então do que levarmos injecções brutas de necrofilia barata e populista, e de, à custa de audiências, nos recordarem que a cultura rasca em que vivemos dificilmente será ultrapassada só por vivermos num novo milénio, século ou ano. E que a tenda do circo mediático dificilmente poderá ser deitada abaixo.
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