6 de maio de 2004

"Van Helsing" por Nuno Reis

Igor: "The doctor has been very kind to me, but he pays me."
Kevin O'Connor


Amanhã estreia nos EUA o primeiro blockbuster de verão, de seu nome "Van Helsing". Uma estreia à sexta-feira nos EUA é um sinónimo de filme menor, os grandes estreiam às quartas-feiras, fenómeno que mesmo em Portugal já aconteceu com o final das trilogias "Matrix" e "The Lord of the Rings", por isso não fui com muitas expectativas para o filme.
A história é acerca de Van Helsing, o grande caçador que desde o livro de Bram Stoker (que inspirou centenas de filmes) é uma referência incontornável no combate anti-vampirismo.
Depois do estrondoso sucesso da saga "X-Men", muito à custa do desempenho de Jackman com Wolverine, e depois de clássicos incontornáveis como "Nosferatu", "Dracula" e "Interview with the Vampire", quando o público do género viu recentemente filmes como "Dracula 2000", "Shadow of the Vampire" e "Queen of the Damned e viu Kate Beckinsale em "Underworld, a tendência a comparar é enorme, por isso irei comparar.

O filme viaja ao final do século XIX, quando a Europa era aterrorizada por humanos que se tornavam monstros, e pessoas morriam todos os dias inexplicavelmente. Foi também nessa época que filmes como "Moulin Rouge!" e "LXG" se desenrolaram. Richard Roxburgh apareceu nestes três filmes como um vilão incrível, no primeiro por tentar separar dois amantes, no segundo por ser um traidor ao seu país e à humanidade, no terceiro por ser Drácula, líder das forças do mal no combate pela Transilvânia, pela Europa, pelo mundo?! Jackman é-nos apresentado em Paris onde procura Mr. Hyde (como Sean Connery em "LXG"), depois mostram-no numa Ordem secreta (como a LXG) onde o enviam para leste combater um ser sobrenatural (interpretado em ambos os filmes por Roxburgh). O quartel da Ordem tem uma versão primitiva do laboratório de Q, a referência ao M6 tinha melhor aspecto em "LXG" mas neste filme ficou também divertida. Os seus únicos aliados nessa batalha serão um frade inventivo (David Wenham, Faramir em "LOTR") e a família Valerious da qual Kate Beckinsale é a última descendente. A missão do caçador será matar Drácula e as suas criaturas, e manter Anna Valerious viva para evitar a perdição eterna da família.



Jackman enquanto ser humano é o homem que nada tem a perder, apesar de ele não pretender morrer antes de saber quem realmente é. Não é tão temível como a frase "the name they all fear" permite supor, é um simples aventureiro que procura respostas e mesmo esse aspecto é pouco mostrado.
Beckinsale tem um papel muito tipificado, não é a mulher de armas que caça lobisomens em "Underworld", mas também não é a mulher constantemente em apuros que tiraria o significado da personagem, o último bastião de um combate que dura há quatro séculos.
Wenham está bem para o seu papel de inventor culto, no final do filme ele demonstra ser atrevido, inteligente e mesmo corajoso.
Kevin O'Connor, que já em "The Mummy" tinha sido o obediente servo do Mal, neste filme interpreta Igor, o ajudante do Dr. Frankenstein que depois da bela frase do início passa para o lado do Conde, a personagem é muito pequena mas significativa. Em situação idêntica estão as noivas, Elena Anaya ("Hable con Ella", "Lucía y el Sexo"), Silvia Colloca (noiva na vida real de Roxburgh) e Josie Maran (voltará a estar ao lado de Beckinsale em "The Aviator") que não têm existência própria mas sim como um todo. Um outro trio de noivas de luxo era o de "Dracula 2000" que contava com Jennifer Esposito...
Roxburgh consegue pela primeira vez ser realmente o senhor do espectáculo. Num filme em que os efeitos visuais são tudo, frequentemente abandonava o seu aspecto animal para aparecer como humano e usar o seu sorriso, demasiadas transformações serão a sua perdição e a do filme. A sua actuação apesar de não ser estrondosa é aquilo que de melhor o filme nos oferece.

Em termos de efeitos visuais o filme tem impacto, cenários computadorizados, sombrios e gigantescos, no género de "LXG", com algumas inconsistências nas tempestades mas bonito. Destaco a simples cena do reflexo no espelho durante o baile num dos momentos em que o desenrolar da acção deixa a pacata aldeia que alimentava os vampiros para a capital romena. Várias pequenas coisas como andar pelas paredes e no tecto, aquela espécie de gremlins voadores quando estão milhares de criaturas pelos céus, as transmutações estão bem conseguidas assim como a regeneração dos vampiros. Não exageram e completam o filme.

O argumento como tenho vindo a indicar é em parte uma mistura de diversos deste género ou não, as falhas não são muitas mas para uma pessoa atenta torna-se maçador ver tantas semelhanças. A entrada para o Castelo Drácula, o significado dos espelhos, tudo o que não é excessivo ou previsível está bem conseguido. Chega-se a usar uma arma de luz artificial como arma contra vampiros, como em "Underworld". O melhor no filme é mesmo o monstro Frankenstein, secundário mas o ponto fulcral da aventura. Felizmente a carga religiosa não é demasiada e quando Dracula nos diz quem é realmente Van Helsing não nos sentimos defraudados. Neste aspecto está abaixo do "Dracula 2000" que pessoalmente é dos meus preferidos.



Nesta época em que o cinema fantástico sai à rua e as personagens que Lugosi, Karloff e Schreck tornaram imortais estão vulgarizadas, não só começam a aparecer filmes repetitivos dos quais este é um bom exemplo, como os clássicos podem ser menosprezados. Para os fãs do género recomendo uma retrospectiva dos mestres, algo sem dúvida mais salutar do que os novos exemplos da utilização do cinema como fonte de lucro.

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