25 de novembro de 2009

"Revolutionary Road" por Nuno Reis

Quando Sam Mendes realiza um filme, não usa meias-medidas. Seja no drama social, no thriller ou nos filmes de guerra, o normal é sair algo muito bom. Quando a protagonista é a própria esposa exige-se o melhor que consiga fazer.

Em "Revolutionary Road" Mendes entra a matar. O ponto imediato é juntar Leonardo DiCaprio a Kate Winslet. O casal sensação da década passada está mais velho, mais maduro e a viver num matrimónio com filhos em vez de uma paixão momentânea nas ondas do Atlântico. Já não é a década de 1910, mas a de 50. A diferença é que a geração no poder esteve na guerra e paralisaram o mundo de medo. O país está no seu apogeu e a sociedade é arrogante, consumista e exibicionista. O mundo é deles. Para o casal Wheeler isso pouco importa. Ele tem um emprego de escritório onde não se sente realizado. Ela é dona-de-casa, toma conta dos dois filhos e é actriz nas horas vagas. São duas vidas medianas, cinzentas. O filme nessa fase introdutória é demasiado triste. O impacto de rever a dupla coloca as expectativas altas e não se passa nada de apelativo nos primeiros minutos. Até que ela diz Paris e um novo filme nasce...
April propõe ao marido mudarem-se para a Europa. Ela pode trabalhar e ganhar mais do que ele ganha agora, ele pode arejar por algum tempo e decidir o que quer da vida. Especialmente em Paris, a cidade de que tanto fala recordando os tempos do pós-Guerra. Só que a vida troca-lhes as voltas e vários obstáculos vão adiar a partida. Depois de terem anunciado a todos os amigos que se iam, voltam atrás. Entretanto vão perceber que vivem numa ilusão e a sua relação não é feliz. Nos últimos anos era um sonho e não o Amor que os mantinha juntos. Quando o sonho ganhou uma forma e um nome - Paris - e foi destruído, terminou também a relação. Mas o fim do amor não é o mais grave. O filme agride-nos cada vez com mais força pelo escândalo e o desfecho arrasa.
Especial destaque para as interpretações de Michael Shannon, como o doente psiquiátrico que os obriga a reflectir, e para Kate Winslet. Este é o seu melhor desempenho desde "Eternal Sunshine of the Spotless Mind" e muito mais merecedor de um Oscar do que aquele onde foi premiada.

Tirando o início frouxo é um grande filme e a moral é muito forte. A relação mais perfeita pode perder a chama (se considerarmos a relação de "Titanic" como o ponto de partida deste casal). A vida dá-nos oportunidades: se não as aproveitamos porque o destino no-las tira, é preciso seguir em frente, se não as aproveitamos porque não temos a coragem, podemo-nos arrepender para sempre. Viver o sonho nem sempre basta. É preciso lutar por ele.


Título Original: "Revolutionary Road" (EUA, Reino Unido, 2008)
Realização: Sam Mendes
Argumento: Justin Haythe (baseado no livro de Richard Yates)
Intérpretes: Meonardo Di Caprio, Kate Winslet, Michael Shannon, Kathy Bates, Richard Easton
Fotografia: Roger Deakins
Música: Thomas Newman
Género: Drama
Duração: 119 min.
Sítio Oficial: http://www.revolutionaryroadmovie.com/

2 comentários:

Tiago Ramos disse...

Revolutionary Road é um dos meus filmes preferidos de sempre. Sam Mendes atinge a genialidade! Interpretações soberbas e foi injustamente afastado dos Óscares...

Nuno disse...

O início prejudica o filme. De resto é uma elegante bofetada na sociedade.
O Oscar de melhor actriz era muito melhor entregue aqui e nem a nomearam. Por aí percebe-se que os Oscares o esqueceram só para não aumentar o destaque da polémica.