3 de novembro de 2009

"Surrogates" por Nuno Reis


O homem é um ser social. O que vive sempre isoladamente, ou é um Deus ou uma besta.
Aristótoles


Quando Aristóteles disse isto, no século IV A.C., não imaginava a que ponto chegaria a sociedade. No tempo dele a comunicação era verbal em pessoa, ou através da escrita com os ausentes. O século XXI oferece um leque de tecnologias infindáveis para comunicar. Qualquer computador, telefone ou PDA oferece chamadas de voz, vídeo, envio de mensagens, fotos, serviços de mail, blogs, microblogs, RSSs, wikis, alojamento de fotos vídeo, redes sociais, mundos virtuais e outros que tais. E todos os dias surge algo novo como prova o wave. Tantas formas de fazer de conta que falamos com centenas diariamente. Mas o ser humano é absolutamente social e apesar de o isolamento ser cada vez maior e de se referir aos imensos conhecidos como amigos, há sempre aquelas pessoas especiais com quem de vez em quando é preciso estar em carne e osso para um beijo ou abraço. Ou será que também isso pode ser feito de outra forma?

Em "Surrogates" o homem ultrapassou a última barreira. A tecnologia chegou a um ponto em que a mente humana pode controlar um corpo robótico e lidar com as sensações que ele recebe, mesmo quem está paralisado no corpo físico. O uso do robot é tão complexo que isso obriga a adormecer o corpo real, mas uma segunda vida pode ser vivida remotamente. Se o andróide ficar arrumado no emprego evita-se a hora de ponta. É só ligar lá às 9 e às 18 desliga-se para viver. É um pouco como entrar na Matrix, controlar um Avatar, tantos filmes que poderiam ser referidos...

Neste mundo a segurança parece ser total. Os andróides são extremamente resistentes, os seus operadores têm filtros para não sentir a dor causada às máquinas, cada um tem o aspecto ou sexo que pretender. Caso alguém passe dos limites, existem formas de desligar remotamente qualquer aparelho e identificar o prevaricador. Parece ser preciso haver uma erupção ou terramoto para se morrer num mundo em que ninguém corre riscos fora de casa. Mas como qualquer sistema informático tem dois problemas recorrentes: há sempre um humano pelo meio a estragar a perfeição digital ; há sempre um bug que só é descoberto depois de distribuido em larga escala.
Cabe ao agente Greer voltar à forma humana e prender quem descobriu esse bug e o está a usar para matar as pessoas remotamente. Enquanto isso, tem também de convencer a mulher a aceitar o seu corpo real e usar menos o substituto.

A panóplia de efeitos especiais está bem doseada. Tem destruição que chegue, tem robots semi-desfigurados a fazerem lembrar os de Terminator (Mostow realizou "Terminator 3") e tem Bruce Willis para dar ritmo à acção. Mas tem demasiada humanidade para a mensagem que pretende transmitir. A população não está no mesmo patamar que a história insinua. E um negócio destes nunca chegaria tão depressa (15 anos) a toda a gente. O investimento seria demasiado elevado para a maioria da população e não daria sustentabilidade às empresas.
Há alguns pensamentos interessantes pelo meio. A criação das reservas para os antimáquina é simplesmente uma ideia deliciosa e há um twist previsível agradável. Sendo a F-C mais completa, mais trabalhada, e os pontos de conflito bem explorados, poderia ser levado a sério. Assim é apenas mais um na sucata.


Título Original: "Surrogates" (EUA, 2009)
Realização: Jonathan Mostow
Argumento: Michael Ferris e John D. Brancato baseados na novela gráfica de Robert Venditti e Brett Weldele
Intérpretes: Bruce Willis, Radha Mitchell, Rosamund Pike, James Cromwell, Ving Rhames
Fotografia: Oliver Wood
Música: Richard Marvin
Género: Acção, Ficção-Científica
Duração: 88 min.
Sítio Oficial: http://chooseyoursurrogate.com/

3 comentários:

Tiago Ramos disse...

Dou-lhe 3 pela componente entretenimento e mesmo assim já é puxado. A ideia é interessante, mas o argumento tornou-se demasiado vazio.

Nuno disse...

Como apaixonado da robótica e profissional da informática não consigo ver um filme destes sem analisar todos os detalhes técnicos. Nesse ponto perdeu todo o valor.

Ognito Inc. disse...

Grande citação de Aristóteles. O filme... a ver....