Nascida e criada em Burma, Suu há muito que se tinha tornado inglesa e quase esquecido as suas origens. A doença da mãe fê-la voltar numa altura conturbada e o massacre de 8-8-88 fê-la ficar. Estava no hospital a tratar da mãe quando começaram a chegar jovens que se esvaiavam em sangue nos braços dela. Atrás deles vieram os soldados para matar feridos e médicos. Quem estava a morrer perante os seus olhos não eram apenas pessoas inocentes, era o seu país. Esta não era a guerra dela, mas era a guerra do pai.
Voltemos atrás. Em 1886, Burma era uma colónia inglesa como muitas outras regiões do sudeste asiático. A diferença é que a conquista do territorio foi sendo feita aos poucos - demorou 60 anos - e o seu povo era extremamente culto comparativamente aos vizinhos. Quando começou a confusão da Segunda Guerra Mundial um visionário de nome Aung San e descendente de combatentes de 1886, conseguiu que ingleses e japoneses se eliminassem mutuamente e a nação voltasse a ser livre. Quando estava quase tudo feito foi assassinado por rivais políticos que temiam a sua ascensão. Os anos seguintes foram de uma democracia embronária que o mundo acompanhava com curiosidade.
Em 1961 o país encheu-se de orgulho pois o político local U Thant tornou-se secretário geral da ONU. Só que em 1962 um golpe militar arruinou as esperanças de futuro a trinta milhões e manteve-os como um estado desconhecido por 26 anos. Até que a esperança renasceu quando o ditador anunciou eleições. Aung San Suu Kyi, filha de Aung San, com uma educação e marido ingleses, ex-funcionária das Nações Unidas, era de uma família em que podiam confiar, com amigos influentes no estrangeiro e, o mais importante, estava lá. O destino dizia que se não fosse ela a conseguir democratizar o país não seria ninguém. Cem anos depois Inglaterra voltava a ser a ligação de Burma ao mundo, mas em vez de ser o opressor seria a liberdade.
Em 2010 Suu Kyi conseguiu a liberdade após muita pressão internacional. Dois anos depois continua a tentar fazer valer os seus direitos como deputada, a tentar que a democracia expresse a vontade do povo.
Mas tudo isto é História e não apenas o argumento do filme. O problema em “The Lady” é precisamente que Besson tenta mostrar o lado humano de uma guerra fria e como isso afecta as pessoas, mas falta-lhe o sentimento. A divisão da narrativa entre Suu na sua resistência pacífica - como fizeram Gandhi, Luther King, Mandela - e o desespero de Michael na remota Europa, não tem consistência. Vemos o retrato de uma família que se sacrificou por um bem maior, mas não consegue que se sinta pena pois era a única coisa a fazer. Os Aung San vivem para servir Burma e Suu sabe isso como sabe que uma vida que não seja ao serviço dos outros não merece ser vivida.
A heroína fica analtecida e o mundo apoia a resistência burmanesa, mas um video online sobre as atrocidades de Kony conseguiu o mesmo para o Uganda por menos dinheiro e com maior alcance. Este drama não conseguirá cativar mais pessoas para a causa, mas ajuda a compreender aquilo que se passa e há quanto tempo Suu Kyi resiste. É parcial e manipulador, mas contra as ditaduras militares todos os truques são poucos. Tem ainda a vantagem de ser o filme mais interactivo de sempre pois a sequela dependerá daquilo que cada um de nós fizer.
Voltemos atrás. Em 1886, Burma era uma colónia inglesa como muitas outras regiões do sudeste asiático. A diferença é que a conquista do territorio foi sendo feita aos poucos - demorou 60 anos - e o seu povo era extremamente culto comparativamente aos vizinhos. Quando começou a confusão da Segunda Guerra Mundial um visionário de nome Aung San e descendente de combatentes de 1886, conseguiu que ingleses e japoneses se eliminassem mutuamente e a nação voltasse a ser livre. Quando estava quase tudo feito foi assassinado por rivais políticos que temiam a sua ascensão. Os anos seguintes foram de uma democracia embronária que o mundo acompanhava com curiosidade.
Em 1961 o país encheu-se de orgulho pois o político local U Thant tornou-se secretário geral da ONU. Só que em 1962 um golpe militar arruinou as esperanças de futuro a trinta milhões e manteve-os como um estado desconhecido por 26 anos. Até que a esperança renasceu quando o ditador anunciou eleições. Aung San Suu Kyi, filha de Aung San, com uma educação e marido ingleses, ex-funcionária das Nações Unidas, era de uma família em que podiam confiar, com amigos influentes no estrangeiro e, o mais importante, estava lá. O destino dizia que se não fosse ela a conseguir democratizar o país não seria ninguém. Cem anos depois Inglaterra voltava a ser a ligação de Burma ao mundo, mas em vez de ser o opressor seria a liberdade.
Em 2010 Suu Kyi conseguiu a liberdade após muita pressão internacional. Dois anos depois continua a tentar fazer valer os seus direitos como deputada, a tentar que a democracia expresse a vontade do povo.
Mas tudo isto é História e não apenas o argumento do filme. O problema em “The Lady” é precisamente que Besson tenta mostrar o lado humano de uma guerra fria e como isso afecta as pessoas, mas falta-lhe o sentimento. A divisão da narrativa entre Suu na sua resistência pacífica - como fizeram Gandhi, Luther King, Mandela - e o desespero de Michael na remota Europa, não tem consistência. Vemos o retrato de uma família que se sacrificou por um bem maior, mas não consegue que se sinta pena pois era a única coisa a fazer. Os Aung San vivem para servir Burma e Suu sabe isso como sabe que uma vida que não seja ao serviço dos outros não merece ser vivida.
A heroína fica analtecida e o mundo apoia a resistência burmanesa, mas um video online sobre as atrocidades de Kony conseguiu o mesmo para o Uganda por menos dinheiro e com maior alcance. Este drama não conseguirá cativar mais pessoas para a causa, mas ajuda a compreender aquilo que se passa e há quanto tempo Suu Kyi resiste. É parcial e manipulador, mas contra as ditaduras militares todos os truques são poucos. Tem ainda a vantagem de ser o filme mais interactivo de sempre pois a sequela dependerá daquilo que cada um de nós fizer.
Título Original: "The Lady" (França, Reino Unido, 2011) Realização: Luc Besson Argumento: Rebecca Frayn Intérpretes: Michelle Yeoh, David Thewlis Música: Eric Serra Fotografia: Thierry Arbogast Género: Biografia,Drama Duração: 132 min. Sítio Oficial: http://www.theladymovie.jp/ |
1 comentários:
Bem, manipulador é o video Kony2012, que usa a figura do Kony para esconder a agenda dos individuos responsáveis pelo Invisible Children.
http://boingboing.net/2012/03/15/revealed-kony-2012s-siniste.html
http://www.aljazeera.com/indepth/opinion/2012/03/201231284336601364.html
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