Depois de "The Artist" ter conquistado tantos Oscares, é um bocado suspeito que Espanha apresente à Academia, um candidato filmado ao estilo do cinema mudo. E podem dizer que “Blancanieves” é um aproveitamento de uma receita que funciona para prémios. Contudo não é a que estão a pensar. Nâo é a que venceu no concurso do ano passado. É uma receita velha, mas que vem do tempo dos irmãos Grimm e tem encantado gerações. É a história da Branca de Neve.
Esta invulgar adaptação da Branca de Neve tem algumas características únicas. Para começar ser mudo e a preto e branco, como não se via há muito tempo. Mas especialmente começar numa praça de touros. Sevilha, início do século XX. O grande toureiro Antonio Villalta vai enfrentar seis animais de rajada. Na bancada, a sua mulher Carmen de Triana assiste, emocionada e grávida. A criança vai nascer abençoada com talento para a tauromaquia como o pai e para a dança como a mãe, mas o azar vai persegui-la toda a vida.
Pablo Berger não será dos nomes mais conhecidos do cinema espanhol, nem sequer para os seus conterrâneos. Este é apenas o terceiro filme que apresenta. No entanto logo na primeira curta - “Mama” (1988) ficção-científica sobre uma família escondida numa cave - tinha um jovem Alex de la Iglesia às suas ordens (desenho de produção). Com o reconhecimento obtido nessa demonstração de talento foi estudar cinema para o estrangeiro por onde ficou alguns anos. A proposta seguinte - “Torremolinos 73” - é uma comédia sobre um casal que descobre fama e fortuna no cinema pornográfico. Como se passa disso para um filme artístico de época? Muito bem aparentemente.
O argumento aproveita tudo o que a história tinha para dar, e organiza-o da forma mais conveniente. Com muito humor e bastante drama, reconta-nos uma história que sabemos de cor e mesmo assim desejamos que tenha um rumo mais feliz para Branca (que na verdade é Carmen). Mas até ao fim os infortúnios sucedem-se, como em todas as reencarnações de Branca de Neve. E quando achamos que vai acontecer o que todos esperam, talvez a história mude, só para provar que o espectador não pode dar palpites.
Há uma clara crítica sobre os anos 20 e a sociedade de então. É algo comum a todos os filmes espanhóis sobre esse período. Os anos 20 foram um período de prosperidade sob o domínio do General Rivera, antes do regresso da República que levaria à Guerra Civil e a Franco. A própria vida desta Branca pode ser interpretada como uma metáfora da existência espanhola: uma inesperada passagem por alegria incompleta, sofrimento justificado, jubilo e, finalmente, inanição. A tourada por outro lado é a alma espanhola. Tinha de fazer parte. Mesmo sendo contra essa forma de tortura, é difícil negar a beleza dos movimentos tão bem trabalhados para cativar o espectador. Aí, como em tudo o resto, mais do que da realização o filme vive da montagem. A perfeita sintonia entre música e imagem. As sequências de frames sem tempo de ganharem movimento. A expressividade corporal e de rosto do elenco. É uma hipnotizante história que dispensa bem os diálogos e que fica bem gravada na memória.
Esta invulgar adaptação da Branca de Neve tem algumas características únicas. Para começar ser mudo e a preto e branco, como não se via há muito tempo. Mas especialmente começar numa praça de touros. Sevilha, início do século XX. O grande toureiro Antonio Villalta vai enfrentar seis animais de rajada. Na bancada, a sua mulher Carmen de Triana assiste, emocionada e grávida. A criança vai nascer abençoada com talento para a tauromaquia como o pai e para a dança como a mãe, mas o azar vai persegui-la toda a vida.
Pablo Berger não será dos nomes mais conhecidos do cinema espanhol, nem sequer para os seus conterrâneos. Este é apenas o terceiro filme que apresenta. No entanto logo na primeira curta - “Mama” (1988) ficção-científica sobre uma família escondida numa cave - tinha um jovem Alex de la Iglesia às suas ordens (desenho de produção). Com o reconhecimento obtido nessa demonstração de talento foi estudar cinema para o estrangeiro por onde ficou alguns anos. A proposta seguinte - “Torremolinos 73” - é uma comédia sobre um casal que descobre fama e fortuna no cinema pornográfico. Como se passa disso para um filme artístico de época? Muito bem aparentemente.
O argumento aproveita tudo o que a história tinha para dar, e organiza-o da forma mais conveniente. Com muito humor e bastante drama, reconta-nos uma história que sabemos de cor e mesmo assim desejamos que tenha um rumo mais feliz para Branca (que na verdade é Carmen). Mas até ao fim os infortúnios sucedem-se, como em todas as reencarnações de Branca de Neve. E quando achamos que vai acontecer o que todos esperam, talvez a história mude, só para provar que o espectador não pode dar palpites.
Há uma clara crítica sobre os anos 20 e a sociedade de então. É algo comum a todos os filmes espanhóis sobre esse período. Os anos 20 foram um período de prosperidade sob o domínio do General Rivera, antes do regresso da República que levaria à Guerra Civil e a Franco. A própria vida desta Branca pode ser interpretada como uma metáfora da existência espanhola: uma inesperada passagem por alegria incompleta, sofrimento justificado, jubilo e, finalmente, inanição. A tourada por outro lado é a alma espanhola. Tinha de fazer parte. Mesmo sendo contra essa forma de tortura, é difícil negar a beleza dos movimentos tão bem trabalhados para cativar o espectador. Aí, como em tudo o resto, mais do que da realização o filme vive da montagem. A perfeita sintonia entre música e imagem. As sequências de frames sem tempo de ganharem movimento. A expressividade corporal e de rosto do elenco. É uma hipnotizante história que dispensa bem os diálogos e que fica bem gravada na memória.
Título Original: "Blancanieves" (Espanha, 2012) Realização: Pablo Berger Argumento: Pablo Berger Intérpretes: Macarena García, Sofía Oria, Maribel Verdú, Daniel Giménez Cacho, Imma Cuesta, Ángela Molina Música: Alfonso Vilallonga Fotografia: Kiko de la Rica Género: Comédia, Drama Duração: 98 min. Sítio Oficial: http://www.blancanieves.es/ |
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